1 - Encontro Marcado

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— Você não vai esquecer o pedido do professor Carlos? Ele deve passar para buscar daqui a meia hora.

— Não vou esquecer, pai — bufei, depois de ouvir a mesma recomendação pela quinta vez.

— E você não se incomoda mesmo em ficar com Tarsila e Vinicius? Posso esperar até a irmã dela voltar do México...

Olhei para meu pai, tentando segurar o riso. Cinco anos atrás, meu pai era o dono de um 'bar de lata', um dos diversos trailers enfileirados na rodoviária de Campo Grande. Porém, não tendo com quem me deixar e tendo que me ver avançar da infância para a adolescência debaixo dos olhares ébrios dos seus clientes, ele resolveu procurar uma saída para sua situação. A abertura de uma faculdade na região parecia vir para atender suas preces. A Universidade Santa Carolina havia vindo do sul do país e era conhecida, principalmente, por seus cursos de excelência na área da saúde.

Com um ambiente tranquilo e seguro, meu pai teve a certeza de que havia feito a melhor escolha. Mais ainda quando, logo em seu primeiro dia, conheceu Rosa, dona de uma humilde carrocinha de brigadeiros gourmet, com seus cabelos negros e olhos puxados. Os dois tinham tudo em comum, incluindo o fato de serem pais solteiros. Depois de anos tentando reunir coragem para convidá-la para sair, ela resolveu tomar a questão em mãos e preparou um jantar em sua casa.

Não seria eu a impedir a felicidade dos dois, certo?

— Pai, está tudo bem! Não é a primeira vez que fico com eles e, além do mais, eles não dão trabalho nenhum!

O que era a mais pura verdade. Aliás, aquela era praticamente uma regra entre filhos de comerciantes: não adicionar às costas de nossos pais uma carga mais pesada do que a que eles carregavam. Era muito difícil cuidar de um negócio e ter que ficar de olho em uma criança, portanto, tentávamos ser os mais invisíveis possíveis para não atrapalharmos.

E os dois filhos de Rosa não eram uma exceção. Embora Vinicius, que era apenas um bebê quando a universidade abriu, ainda fosse cheio de energia e gostasse de correr e pular, como toda criança, normalmente se comportava muito bem ali, deixando para queimar suas reservas na escola ou no jardim da universidade. Tarsila, que estava entrando na adolescência, já tinha uma personalidade completamente oposta: introspectiva, vivia com a cabeça mergulhada em livros e quase nunca falava.

— Estou bem? Não fazia ideia do que vestir...

— Está lindo, pai! Além do mais, não é a primeira vez que estão se vendo... Anda, ela já fechou a carrocinha.

— E você vai dar conta de fechar e levar as crianças?

— Pai, desaparece daqui!

Rindo, ele beijou o alto da cabeça dos dois pequenos, que estavam sentados a um canto, antes de me puxar em um abraço apertado. Seu coração batia tão acelerado que chegou a trazer lágrimas a meus olhos.

Teria sido assim também com a minha mãe?

— Aproveite bem, pai! Mande um beijo para Rosa, por mim!

— Não pretendo demorar — disse, envergonhado. — Mas as crianças vão dormir lá em casa, tudo bem?

— Ótimo! Podemos acampar na sala de TV e ver filmes até de madrugada.

Ouvi o grito de alegria de Vinicius e ri ao pensar no tipo de filme que teria que assistir, mas... era uma forma de passarmos um tempo juntos e uma das únicas diversões que Tarsila realmente gostava.

— Além do mais, a aula de Eros já está acabando. Ele prometeu me ajudar com as cadeiras — lembrei, de última hora.

Eros era meu vizinho e melhor amigo, daqueles que se tornam quase irmãos com o passar dos anos. Há três anos, havia sido aprovado no curso de Enfermagem e, por isso, passava ali todos os dias, nem que fosse apenas para trocar algumas palavras. Meu pai tinha uma verdadeira idolatria por ele, principalmente por sua dedicação aos estudos. Creio que, de certa forma, esperava que ele pudesse servir de exemplo para mim.

Esperando o amor chegarWhere stories live. Discover now