Aproximadamente dez anos antes...
Era uma manhã ensolarada, linda, como as pessoas costumam dizer. Ainda era primavera e as flores davam seu ar colorido ao mundo, lembro–me bem disto, de ter admirado as flores do jardim em frente de casa. Deitei na grama e uma borboleta passou despreocupada sob meus olhos.
Acho que vi em algum desenho na tevê que borboletas trazem sorte.
Sorri com meu pensamento, será que sorte realiza pedidos? Mas antes que eu pudesse pensar em algum, as nuvens me chamaram a atenção. Passavam tão rápido pelo céu, que fiquei imaginando se elas tinham combinado de se encontrar em algum lugar e estavam atrasadas, achei a ideia engraçada e sentei na grama para contar ao o meu irmão.
– Leviiiiii! – Gritei.
Nada de ele aparecer. Olhei através da porta de casa, que estava aberta, e não via ninguém.
Levantei bufando e batendo no bumbum para tirar qualquer areia ou plantinha que tivesse ficado grudada. Entrei em casa, passei pela sala, fui até a cozinha e ouvi a voz da minha mãe:
– Vamos Levi! Enquanto você não comer pelo menos um pouco mais da metade, você não vai sair para brincar hoje!
– Ah, mãe... – Levi batia o garfo no prato parecendo irritado com a comida que não desaparecia. – Metade, então?
– Você devia comer tudo, rapazinho, ainda estou te ajudando, ou é tudo ou é um pouco mais da metade, você que sabe.
Levi olhou para mim com uma expressão triste, se eu pudesse comeria para ele, mas minha barriga estava cheia, e além disso mamãe havia dito que quem come fica forte, quem não come fica fraquinho, por isso Levi tinha passado alguns dias doente, ele só espirrava, e tossia. Acho que era alguma coisa séria porque ele nem foi para a escola por dois dias. Se a mamãe deixou ele faltar é porque era mesmo sério.
Há três dias que eu já notava o Levi triste, tentei emprestar alguns brinquedos meus e ele disse que não queria. Achei estranho e decidi levar um carrinho velho, rosa, que eu costumo brincar fazendo de táxi para as bonecas. Disse que ele podia destruir, já que ele adora destruir os meus brinquedos, ele tentou sorrir, mas disse que achava que estava sem força para jogar o carrinho pela janela.
Não satisfeita fui atrás da minha mãe.
– Mãe, o Levi está sendo chato de propósito!
– Liz! Não diga isso, o Levi está doente.
– O que ele tem? Ele está andando normalmente!
– Mas o que tem que ele está andando normalmente?
– Ué, quando ficamos doentes a gente só fica deitado, não é?
– Claro que não! Existem vários "jeitos de ficar" doente. O Levi vai melhorar logo, e aí vocês podem voltar a brincar e a brigar também.
No dia seguinte o nariz do Levi ficou muito vermelho e ele ficou deitado no quarto sem vontade de levantar.
– Levi, o que você tem? – Perguntei.
– Não sei, Liz. Acho que é resfriado.
– Você pintou seu nariz?
– Não, por quê?
Lambi o dedo e fiquei esfregando o nariz dele, olhei para o meu dedo novamente e nenhuma tinta saiu.
– Eca! – Ele disse.
– Será que você vai virar palhaço? Seu nariz está vermelho.
Ele pensou um pouco.
– Acho que não, aquele nariz deles é de mentira, eu vi para vender quando fui numa loja de fantasias com o papai.
A gente brigava bastante, mas foi horrível ir para a escola àqueles dois dias sem ele.
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Lembranças
RomansUm passado difícil, um futuro incerto e um amor à espreita. Liz tem apenas dezoito anos, mas leva uma vida repleta de responsabilidades. Algo terrível aconteceu durante a infância e ela segue, tentando conviver com seus erros. Até que, em meio ao e...