Aproximadamente dez anos antes...
Fiquei parada onde eu estava, sem conseguir me mexer, ouvia os gritos da minha mãe e ficava olhando para Levi, esperando ele acordar a qualquer momento, até que a ambulância chegou e nossa vizinha, Dona Regina, disse para minha mãe que cuidaria de mim.
– Vamos, querida, venha para a minha casa, vamos comer um bolo.
– Ele vai ficar bem? – Consegui dizer depois que a ambulância estava bem longe.
– Não sei meu amor, mas eu espero que sim.
– Onde está o papai?
– Hoje não é dia do futebol dos vizinhos? Vou ligar para ele e dizer para se encontrar com a sua mãe no hospital.
Fiquei chateada por não ter minha mãe nem meu pai comigo, mas fui para casa dela.
Fiquei pensando que se o Levi não acordasse, com certeza, no hospital os médicos o consertariam, ia ficar tudo bem. Será que minha mãe ia me deixar de castigo depois disso tudo?
A noite chegou e aquele dia, que parecia lindo, começou a se fechar, o céu ficou muito mais escuro do que de costume, a chuva desceu com força trazendo raios ferozes que me assustavam. E então a mamãe e o papai voltaram, os vi pela janela, e pedi para Dona Regina me levar até lá. Quando ela abriu a porta e parou para abrir o guarda–chuva, sai correndo, abracei meu pai que estava agachado com os braços abertos, mas o abraço dele foi muito mais apertado do que o normal, e a primeira coisa que eu disse foi:
– Onde está o Levi?
Minha mãe me olhou de um jeito estranho, os olhos dela estavam mais escuros, e algumas lágrimas ameaçaram cair. Como eu era burra! Claro que Levi ainda estava no hospital, ele não devia poder vir para casa ainda e mamãe estava com saudades dele.
– Quando posso ir no hospital? – Continuei, já que ninguém me respondia.
Mamãe levou a mão à boca e entrou chorando, meu pai me pegou no colo e eu o vi fazer um sinal lento de "não" com a cabeça para Dona Regina que nos olhava de longe. Não soube o que isso queria dizer, mas a deixou muito triste, porque ela levou a mão à boca como a mamãe.
Entramos em casa, meu pai me sentou no sofá, enquanto ele sentou no chão olhando para mim.
– Filha, tem uma coisa que a gente precisa te dizer.
E diferente do que eu pensava, os médicos não tinham conseguido consertá–lo.
***
No dia seguinte, haviam várias pessoas andando pela minha casa, vários parentes que eu não conhecia, e alguns que lembrava vagamente, todos vestidos de preto, fiquei assustada com aquilo e grudei no meu pai, onde ele ia eu ia também, acho que foi por isso que ele resolveu me levar onde as pessoas chamavam de velório.
Logo que cheguei achei o lugar muito bonito, parecia uma casa enorme com várias portas em volta de um jardim com fontes e um lago no meio. Segui meu pai, que entrou na segunda porta e dei de cara com a minha mãe, toda de preto, saí correndo e a abracei. Ela fez uma cara de quem não estava esperando, e percebi que ela chorava muito.
– Luís? Por que você a trouxe? – Ela perguntou nervosa.
Não escutei o que ele respondeu, porque nessa hora, no colo da minha mãe, pude ver que estavam todos em volta do meu irmão! Por que ele estava deitado naquela caixa? Meu pai já tinha me contato que o Levi tinha virado um anjo, que estava no céu e iria sempre olhar por mim, por que ele poderia me ver e eu não? Mas agora ele estava ali, dormindo!
– Levi!! Levi acorde! Temos que ir para casa!!!
Meus pais pararam de discutir e olharam para mim, assim como todos que estavam ali.
– Levi! Você deixou todos os seus brinquedos jogados e você tem que arrumar! Acorda!!
Antes que a minha mãe me soltasse, percebi que Levi estava vestido com um terno preto, igual ao que o papai usa para trabalhar.
– Filha! – Meu pai disse enquanto me levava para fora – Tia Esther vai te levar para casa e vai ficar com você, depois a gente conversa, tá bom?
Vi meu irmão ficando cada vez mais longe, ele não se mexia. Eu queria ficar, mas como meu pai estava muito triste, achei melhor responder que "tudo bem".
– Oi, meu coraçãozinho, vou te levar para minha casa, tá? – Perguntou Tia Esther me colocando dentro do carro da vovó.
Fiz que sim com a cabeça e vi o lindo jardim do lago ficando cada vez menor, assim como o Levi.
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Lembranças
RomansaUm passado difícil, um futuro incerto e um amor à espreita. Liz tem apenas dezoito anos, mas leva uma vida repleta de responsabilidades. Algo terrível aconteceu durante a infância e ela segue, tentando conviver com seus erros. Até que, em meio ao e...