3.|Sorry

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Depois de um tempo naquele abraço apertado a noite começou a cair mais e mais e o frio ficou evidente no vento.

-Então... Não acho que vai querer voltar lá pra dentro. -Rafael falou ainda me apertando e eu abaixei minha cabeça concordando.

-Não quero, mas estou com frio então...

-Seria muito clichê eu te dar o casaco agora, principalmente porque eu não estou usando um. -Ele disse e eu ri- Então o que acha de saírmos daqui e irmos comprar casacos?

-Boa ideia mas... Não acho que eu deva, sabe, simplesmente sair com você.

-Vai Angel, por favor.

-Você me chamou de Angel? -ri mais um pouco e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

-Sim, achei que todo mundo te chamava assim, é um ótimo apelido pra Angeline.

-Normalmente me chamam de An mas okay.

-Então, vem comigo? -Ele disse com uma cara simpática no rosto.

-Rafael eu já te disse, ficar comigo não é bom pra você. Você é amigo de gente famosinha, deve namorar alguma menina muito bonita, e ficar comigo não vai melhorar nada disso.

-Não quero que nada melhore, quero que seu dia melhore, se quiser só sentar aqui e me contar algo... Não precisa ficar falando sozinha.

-Eu não estava falando sozinha, estava falando com a minha mãe. -Olhei para lua e ele acompanhou meu olhar.

-É por isso que você não se dá bem com ninguém certo? Ninguém entende o quanto isso é importante pra você... Digo, não é nem de longe algo comum, mas é algo a se respeitar.

-Obrigada Rafael. -Sorri o encarando.

-Tem certeza que não quer sair comigo pra uma volta? -Balancei a cabeça em um sim.

-Preciso falar com a nova namorada do meu pai e pedir desculpas. Obrigada por isso Rafael. -Abracei ele e ele me deu um breve tchau.

Entrei em casa com os braços gelados de tanto frio e subi as escadas, entrando no meu quarto e guardando o pequeno colar, logo suspirei e me olhei no espelho de meu banheiro, fiz uma maquiagem básica para cobrir a cara de choro incrível que eu tinha ganhado nos últimos 40 minutos, e então voltei para a sala.

-Angeline, acho que tem algo a dizer para a Heloisa. -Meu pai me encarou irritado, como se insistisse desesperadamente por um pedido de desculpas.

-Heloisa, perdão... Eu só sinto falta da minha mãe e não estou acostumada com isso. -Abaixei a minha cabeça enquanto estava a frente da mulher um pouco mais alta que eu.

-Tudo bem querida... Imaginava já isso. -Ela passou a mão no meu cabelo e o observou atentamente. -Que cor estranha pra um cabelo. -Suspirei irritada, eu não vou me dar bem com ela, por mais que eu tente, os seus ideais são diferentes dos meus. Ela quer meu pai pra ela, e eu pra mim.

-Vamos comer agora? Trouxemos hambúrgueres e batata frita. -Meu pai puxou uma cadeira para mim e sorriu.

Me sentei e desenrolei o meu hambúrguer do papel, era um de cheddar, meu favorito. O de Heloisa era de bacon, e o do meu pai, um simples com duas carnes, como sempre.
Era apenas possível ouvir o barulho de nossas respirações e bocas à mesa, o silencio chegava a ser constrangedor.

-Como foi o colégio hoje querida? -Papai bebeu um gole de seu suco.

-Bom, nada demais aconteceu.

-Aprendeu o que hoje?

-Nada demais, apenas estudando as mesmas matérias para as provas, é o final do terceiro colegial, agora as aulas são mais voltadas para revisão. -Me refiro ao fato do ano estar acabando.

-Vai cursar que faculdade? -Heloisa pergunta.

-Psicologia. -Mordo o hambúrguer e bebo um gole de água.

-Eu quase cursei psicologia sabia? Mudei de ultima hora pra faculdade de medicina.

-E gostou da faculdade? -Perguntei, talvez Heloisa fosse uma mulher legal e eu tenha sido só um pouco intolerante.

-Sim! Escolhi realmente o certo, salvar vidas é muito bom. -Sorri com aquele comentario. -E já sabe em que faculdade quer entrar?

-Gosto do curso da Mackenzie, mas talvez entrar em uma estadual me faria bem. -Comentei e dei mais uma mordida no hambúrguer.

Passamos o resto do tempo conversando sobre coisas fúteis e sobre como meu pai à conheceu.
Ela estava substituindo a amiga em uma noite de trabalho na loja de conveniência de um posto, um trabalho de uma noite bem simples, e meu pai foi lá para comprar cigarros, ela se confundiu e deu o cigarro errado, fazendo meu pai voltar para trocar. E eles acabaram trocando horas de conversa, e ele se ofereceu para levá-la para casa, já que não possuía um carro.

-E a parte mais engraçada da história foi quando ele me deu um selinho sem querer no carro. -Heloisa riu. -Ao invés de pedir desculpas, ele disse "Seus lábios são macios" e me deu boa noite. -Eu ri.

-E como se encontraram de novo?

-Ela anotou o telefone na caixa do cigarro. -Meu pai pigarreou. -Liguei dois dias depois, e a primeira coisa que eu disse foi: "Olá moça dos lábios macios."

Sorri por fim, deixando a conversa acabar, levantei-me e recolhi os três pratos, os levando para pia. Assim que lavei, dei boa noite para os dois com um beijo na bochecha e subi para o quarto.
Tirei a roupa e a maquiagem e vesti um pijama, amanhã seria um dia complicado.
Antes de adormecer acabei lembrando da história que minha mãe me contava pra dormir.
Era uma vez o Sol, ele conheceu um lindo astro chamado Lua. Se conheceram em um eclipse e conversaram por poucos minutos mas ele sabia que ela era o amor de sua vida. E naquela época existia apenas dia, a lua sempre estava pra baixo, sem respirar direito, e o Sol, em toda a sua gloria ocupava um bom espaço.
Até que um dia uma estrela disse para o Sol, que se ele saísse do lugar no meio do dia, a Lua poderia ocupá-lo, e foi o que ele fez.
O sol amava tanto a Lua, que morria toda noite para deixá-la respirar.

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Moon| CellbitOnde histórias criam vida. Descubra agora