capítulo 5:

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Nosso Anúncio Atrai um visitante

As atividades daquela manhã haviam sido excessivas para minha saúde

abalada e, à tarde, eu estava exausto. Depois que Holmes saiu para o concerto,

deitei no sofá, pretendendo dormir umas duas horas. Foi inútil. Estava

demasiado excitado com tudo o que acontecera e minha mente se enchera das

mais estranhas fantasias e suspeitas. Fechava os olhos e via diante de mim a

fisionomia contraída e simiesca do homem assassinado. Tão sinistra fora a

impressão produzida por aquele rosto que me era difícil sentir qualquer coisa

que não fosse gratidão por quem retirara seu dono desse mundo. Se alguma vez

feições humanas revelaram o vício em sua forma mais maligna, foi, sem dúvida,

nos traços de Enoch J. Drebber, de Cleveland. Reconhecia, no entanto, que era

preciso haver justiça e que a depravação da vítima não constituía atenuante aos

olhos da lei.

Quanto mais pensava no caso, mais extraordinária me parecia a hipótese

de meu companheiro de que o homem havia sido envenenado. Lembrava como

havia cheirado os lábios do morto e não duvidava de que havia detectado algo

que fundamentasse essa idéia. Se não fosse veneno, o que teria causado a morte

do sujeito, já que não estava ferido nem apresentava marcas de

estrangulamento? Por outro lado, de quem seria todo aquele sangue derramado

no chão? Não havia sinais de luta, nem a vítima possuía qualquer arma com a

qual pudesse ter ferido o antagonista. Sentia que, enquanto todas essas questões

permanecessem sem resposta, não seria fácil para mim nem para Holmes

conciliar o sono. O comportamento sereno e autoconfiante de meu amigo

convenciam-me de que ele havia formado uma teoria que explicava todos os

fatos, embora eu não pudesse imaginar, sequer por um instante, que teoria era

essa.

Holmes voltou bem tarde, de modo que não poderia ter estado no

concerto o tempo todo. O jantar já estava servido quando ele chegou.

- Foi magnífico! - comentou ao sentar-se. - Lembra-se do que Darwin

(Charles Robert Darwin (1809-1882), naturalista britânico cuja teoria da evolução

através da seleção natural causou uma revolução na ciência biológica. (N. do T.) disse

sobre a música? Afirmou que o poder de produzi-la e apreciá-la existiu na raça

humana antes mesmo da língua. Talvez por isso sejamos tão influenciados por

ela. Há, em nossas almas, vagas memórias daqueles séculos nebulosos em que o

mundo vivia sua infância.

- Essa, de fato, é uma idéia bastante ampla...

- Nossas idéias precisam ser tão amplas quanto a natureza, caso queiramos

sherlock holmes:um estudo em vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora