Capítulo XII

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Seria uma mentira absurda se eu dissesse que depois de deixar Bea eu fui pra casa e consegui dormir em paz. Eu já esperava que dormir não estivesse na agenda de tarefas para o meu cérebro naquela noite, então parei em uma loja de bebidas e comprei várias garrafas de Macallan, uma para cada noite. Estava pouco me importando com as boas condições do meu fígado, já estava inteiramente quebrado por dentro e mais uma coisinha não iria me matar. Steven me levou para casa e acho que tive sorte de não ver Melissa, devia estar preparando as malas para "visitar seu pai doente". Tomei um banho, peguei um balde de gelo na cozinha e uma das garrafas de uísque que comprei. Precisei esvaziar uma para finalmente conseguir dormir.

Acordei no outro dia desmotivado, consciente sobre como seria difícil manter um relacionamento profissional com Bea, por isso não restava em mim nem ao menos uma só gota de bom humor. Vesti o primeiro terno que encontrei, pela primeira vez não me importei se tinha olheiras, se estava penteado ou se era hora de tirar a barba novamente, desci e entrei no carro direto sem parar ou falar com alguém. Steven percebeu meu humor, ele era o único que sabia o que estava acontecendo e não falou comigo, conhece o chefe que têm e poderia ser demitido se me amolasse, então apenas me levou para a empresa o mais rápido que pôde. Da portaria até minha sala fui de cara fechada, mas abri um sorriso ao abrir minha porta e ver que Bea estava lá pondo meu café na mesa. Um suspiro de alívio. Pelo menos isso ela ainda faria pra mim.

-Bom dia.-Não sabia ao certo como deveria chama-la.

-Bom dia.- Frieza.

Ela não estava usando os saltos que costumava, nem aquele batom vermelho fascinante. O cabelo maravilhoso preso em um rabo-de-cavalo sem vida e voltara a usar as roupas que escondiam seu belo corpo.O que ela queria me dizer com isso? Ajeitei meu terno e entrei fechando a porta, estava ótimo, mas seu jeito de se vestir me intrigou. Será que ela associava meu interesse nela com sua mudança de visual quando começou a trabalhar pra mim? Bom, no início foi o que chamou minha atenção, mas agora é diferente. Nada que ela fizesse poderia tirar meus olhos de cima.

-Permita-me dizer que a senhorita está linda.- Olhei para ela sorrindo.

-Não.- Respondeu seriamente.

Difícil como sempre. Abaixei a cabeça e me calei. Sua frieza fez meu estômago revirar e eu perdi a fome. Esperei que ela saísse e joguei no lixo do banheiro o que restava para comer. Aquele nó antigo que se formara em minha garganta ameaçou desatar em lágrimas.

-Porra!- Exortei me ao espelho- Contenha-se Nicolas.

Lavei meu rosto, vi o quanto estava acabado e aquele foi só o primeiro dia de praticamente uma vida inteira. Imaginei como ficaria muito pior depois. Nunca me senti mal pela ausência de ninguém, só cheguei perto desse tipo de sentimento com a morte do meu pai. Mas com ela seria pior, eu sabia que ela não estava morta e que poderia se cansar de me esperar e encontrar outro homem. Mais jovem, mais bonito, mais rico eu duvido, mas ele poderia ter a vida tranquila e sair publicamente com ela sem se importar com um casamento fajuto estúpido.

O dia continuou triste e cinza como estava, quando não estava ocupado com o trabalho ficava pensando em Bea e oscilava assim constantemente. Eu só precisava vê-la pra ter um pouco de motivação pelo resto do dia, então na hora de pedir o almoço eu solicitei sua presença em minha sala.

-Sim!?- Ela abriu a porta mas não entrou.

-Entre por favor.- Insisti.

Deu apenas um passo à frente e fechou a porta.

-Ligue para meu médico, o número está salvo na agenda, e marque uma consulta para mim e Melissa, por favor.

Ouvi de longe sua respiração pesada e ela me fuzilou com o olhar.

Just be Mine | Livro I | Série "Mine"Onde histórias criam vida. Descubra agora