Capítulo XX

10.5K 559 35
                                    

Apenas uma garrafa não foi suficiente pra me satisfazer naquela noite. Só bebi algumas doses e quando percebi já estava vazia, mas a minha agonia continuava intacta em meu peito e não parecia que iria sair tão cedo de lá, ou seja, eu precisava beber mais. Por simplesmente falta de vontade minha não quis descer pra comprar e também não poderia pedir que Bea fizesse isso, eu ganharia no mínimo um sermão e mais distância dela, então era mais inteligente ligar para o Steven e pedir.

-Em que posso servi-lo, senhor?- Assim atendeu.

-Steven, preciso de três garrafas de Uísque 12 anos, o mais rápido possível.

-Sim, senhor.

E em pouco mais de trinta minutos todas elas já estavam em minha mesa e completamente vazias. Meus pensamentos já não se encontravam claros, nem meus movimentos, não conseguia me levantar da poltrona. Arrastei-me sentando mesmo até a vista de trás, tinha a cidade de Nova Iorque inteira aos meus pés, mas ela não conseguia me oferecer nada que eu queria naquele momento. Observei atentamente cada minusculo movimento que conseguia detectar imaginando que todas as pessoas lá fora eram muito mais felizes que eu, acabei pegando no sono. Pelo menos assim a dor cessara um pouco. Sonhei com anjos sussurrando o meu nome e me balançando com suas mãos delicadas. Abri os olhos assustado apesar do sonho bom, mas Bea era quem estava me balançando e chamando na verdade.

-Bea!?- Talvez fosse só um delírio meu.

-Não acredito que bebeu de novo!- Pegou as duas garrafas que eu segurava e me olhou indignada, com certeza não era delírio.

-Na verdade foram mais.- Endireitei meu corpo na cadeira.

-Você prometeu que não iria mais beber.- Franziu a testa aparentemente chateada.

-Você prometeu não me deixar apesar de tudo.- Tentei erguer o rosto e tive uma tremenda dor de cabeça- Ai!- Murmurei pondo a mão na testa.

-Mas eu não deixei você.- Ela se afastou e jogou todas as garrafas na lixeira. A segui girando a poltrona.

-Me deixou sozinho à beira da morte.- Sussurrei de olhos fechados.

-E você está muito bêbado.- Voltou até a minha poltrona e fez eu me levantar.

-É só uma dor de cabeça.- Semicerrei os olhos, mas eu tinha consciência de que não estava nada sóbrio.

Bea me levou até o banheiro e ligou o chuveiro na temperatura mais fria possível, estremeci só de olhar. Tirou seu blazer e arregaçou as mangas da blusa e começou a desabotoar minha camisa.

-O que vai fazer?- Olhei para sua testa ainda franzida.

-Sabe que horas são!?- Perguntou seriamente dobrando a roupa- Tira a calça, Nicolas.

-Que horas são?- Tirei a calça e a cueca.

Bea ficou de joelhos e tirou meus sapatos.

-Todos foram embora, agora faça as contas e entre no chuveiro.

Ela estava sendo a mãe que eu nunca tive. Obedeci suas ordens e quase tive um choque ao colocar meu corpo quente embaixo daquela água congelante. Bom, pelo menos a dor de cabeça passou um pouco, acho que Bea sabia o que estava fazendo de fato. Olhei pra ela através do vidro, parecia cansada pelo trabalho, ou talvez só estivesse cansada de estar comigo.

-Por que ainda ta aqui?- Perguntei removendo a espuma em meu corpo.

-É o meu trabalho...

-Se está aqui só por isso, pode ir. Você não é obrigada a cuidar de um homem mimado com princípios alcoólatras.- Não consegui controlar meu lado dramático.

Just be Mine | Livro I | Série "Mine"Onde histórias criam vida. Descubra agora