22° Capítulo

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"Bom, eu tenho que te levar para algum lugar"-o motorista diz.

"B quinhentos e vinte e quatro"-falo baixo.

"Certo!"

Sei que estou errada em pensar nisso, mas resolvo dar o endereço da casa dos meus pais. Não sei se eles iram me aceitar, talvez eu saiba da sua resposta, mas não quero acreditar que ela vá me negar abrigo, eu preciso deles mais do nunca. Não tenho lugar para ir além da minha antiga casa, lá seria o único, fora as calçadas das ruas com um forro de papelão.

O caminho foi, pelos meus cálculos, de trinta á mais ou menos quarenta minutos. Não disse uma palavra durante o trajeto inteiro, mas o silêncio não era tenso, eu estava gostando. Seria melhor do que ele perceber que estou a ponto de chorar e ele me perguntar se estou bem, porque sinceramente, não quero falar sobre isso.

"Quarenta dólares e oitenta centavos!"

Abro minha bolsa que está por cima do meu colo pegando a carteira.

"Hm, e-eu só tenho vinte dólares..."-falo.-"Olha, pode ficar com o meu anel. É tudo o que eu mais tenho de precioso, sério, não costumo ser esse tipo de pessoa."

"Hey, tudo bem. Eu aceito os vinte."-ele diz, sua expressão não parece ser de irritação ou coisa igual.-"Não precisa me dar o seu anel, da forma como falou, ele parece ser valioso, mas deve ser mais de um valor sentimental para você."-a forma como ele dirigiu as palavras faz meu coração se apertar, o anel é mais do que importante para mim.

O anel era da minha avó. Talvez essa poderia ser uma das razões por Samantha me odiar, eu não sei se eu era a preferida da minha avó, mas vivíamos grudadas quando viajávamos para sua casa, e o fato de ela ter falecido à cinco anos atrás e ter deixado seu anel em forma de uma lembrança carinhosa a fez me odiar mais ainda. Eu não o entregaria por nada na minha vida, mas estou deslocada e é apenas o trabalho do motorista me cobrar, são três da manhã e ele saiu do seu ponto de táxi para me atender e quando chega no final das contas, tenho apenas vinte dólares para o pagar.

"Ah... muito obrigada, de verdade."

"Sem problemas."-ele abre a porta do táxi e faço o mesmo.

O vejo retirando as malas e as pousando no chão.

"Obrigada mais uma vez..."-murmuro, ele sorri me deixando um aceno gentil e caminha de volta para o seu carro.

Seria essa a hora de bater na porta e pedir para que pelo menos eu fique uma noite. Todas as luzes se encontram apagadas, o que significa que todos estão deitados – dormindo. Penso que talvez eu não devesse bater, mas quando não estou em mim, meus dedos já estão em contato com a porta, fazendo batuques. Não precisei bater novamente, o que me faz mudar de idéia e pensar que as luzes estavam apagadas, mas que ainda havia pelo menos uma pessoa acordada. Apenas não esperava que essa pessoa no caso fosse a Samantha.

"Já viu a hora?"-ela pergunta, grossa.

"São três e alguma coisa da manhã, suponho que quase quatro!"-a leveza na minha voz é notável.

"Ótimo!"-ela diz. Samantha tenta fechar a porta, mas eu a empato com a mão, reforçando a para que ela não a feche por completo.

"Samantha..."

"Vai embora."-ela diz entre os dentes.

"Samantha, me deixa entrar, preciso falar com mamãe."

"Ela está dormindo, e mesmo se ela tivesse acordada, ela não iria querer olhar na sua cara e muito menos falar com você, e você sabe disso."-ela parece querer me atacar, me machucar com suas palavras, mas tudo o que eu faço é ignorá-las.

Feelings |H.S.|Onde histórias criam vida. Descubra agora