Parece estranha a sensação, mas desejei que Daniel estivesse aqui neste exato momento, que me defendesse dos olhares tortos, me ajudasse a levantar fazendo uma brincadeira quase que silenciosa ao pé do meu ouvido de como eu sou descuidada e sair de mãos dadas comigo. Daniel havia me ajudado sem ao menos perceber, desde o nosso primeiro jantar juntos, quando tudo que eu mais queria era me enroscar como uma bola e morrer
Meus pensamentos não foram direto à Charlie como achei que iriam, nem exalei meu ódio mentalmente por vê-lo com outra pessoa quando a dois dias estava no meu apartamento dizendo que me amava. Bom, estamos sujeitos aos mesmos julgamentos, já que estive com Daniel primeiro, depois desse episódio. Talvez este seja o primeiro sinal de que eu esteja nutrindo algum sentimento pelo gato de preto, ou só o esteja usando para bloquear Charlie dos meus pensamentos e corriqueiramente, da minha vida
Sharon se aproximou com cuidado, como se estivesse examinando a gravidade do meu tombo e estendendo as mãos para me ajudar a levantar, mas ignorei
-Não se preocupe, está tudo bem, não ando me alimentando direito com tanto trabalho, e saco vazio não para em pé- sorri tentando esconder o real motivo das minhas pernas falharem e fiquei feliz quando ouvi a risada quase ofegante de todos dentro da sala, tomando o lugar dos olhares tortos que me cercavam, até encarar sob a luz fraca que saia da cozinha o rosto familiar ainda ao pé de Charlie. Me levanto sem jeito e retomo a postura
-Gabriela?- perguntei tentando me recuperar da leve tontura por ter me levantado rápido demais. Todos os risos se cessaram
-Vocês se conhecem?- perguntou Charlie olhando para mim e para ela
-Sim, eu trabalho para ela Charlie- Gabriela afirmou como se estivesse confessando o pior dos seus pecados
-Então você é a secretária da Mal? A que nunca repassava minhas ligações, não anotava os meus recados nem sequer falava para ela que eu liguei? E dava ordens aos seguranças do prédio para não me deixarem entrar?- seus olhos azul cintilantes deram lugar ao desgosto eminente, senti uma vontade quase que incontrolável de abraçá-lo
Meu coração se afundou, Charlie havia me procurado durante os últimos meses. Havia ido ao meu trabalho, ligado, deixado recados e nenhum deles chegaram até mim. Não tinha certeza de poder enfrentar isso, sequer tenho forças para continuar lutando contra minhas emoções. Senti as lágrimas virem, apoiei minha cabeça na mesa, estava completamente perdida
-Si.. Sim- confessou
-Como pôde fazer isso?- perguntou Sharon
-Eu não posso acreditar! Você me fez acreditar que ela não queria me ver, e depois de ligar para a Mal e ela me dizer tantas palavras duras, acreditei que fosse verdade. Eu quase desisti da mulher da minha vida por sua culpa!- gritou
Não conseguia ao menos levantar minha cabeça, nem pensar em nada lógico, as palavras giravam e giravam, me causado náuseas
-Porque eu sempre gostei de você Charlie, desde a época que nossos pais nos levavam às missas. Passei o jardim e colegial gostando de você, ingressei na mesma formação acadêmica para ficar perto de você, será que nunca percebeu isso? Alguns meses antes de conhecer a Malévola, você finalmente olhou para mim Charlie, saímos algumas vezes e achei que com o tempo você conseguiria perceber o quanto amo você. Aí do nada ela aparece, e você se apaixona que nem um bocó, me esquece totalmente e fica com ela. Eu só aceitei aquele trabalho para me aproximar dela e fazer o possível para afastar vocês dois. Eu te amo Charlie- a dor percorria cada veia do meu corpo, desatei a chorar, não suportaria o fato de uma das pessoas que eu mais devotava a minha confiança me traíra dessa forma
-Charlie..?- minha voz saiu quase como um sussurro
-Por favor, me leva daqui- solucei-Depois vamos conversar Gabriela, isso não vai ficar assim!- suas pisadas fortes contra o piso denunciavam toda a raiva dentro dele
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Quase Amor
RomanceEsperar é sempre o problema. Esperar o ônibus. Esperar para ser atendida numa fila de banco. Esperar uma mulher passar um carrinho inteiro de compras na sua frente enquanto você só quer passar uma barrinha de chocolate pelo caixa. Esperar por atend...