Demorei talvez vinte minutos para me arrumar, tive que reaplicar a maquiagem três vezes, engoli o choro pela última vez e jurei a mim mesma não derramar mais uma gota hoje, torcendo para que meu estoque de lágrimas tivesse de esgotado. Voltei para a sala vestida com meu uniforme preto, que leva o nome da clínica no bolso esquerdo da camisa e meu nome no crachá de identificação. Daniel estava com a cabeca para trás apoiada no sofá, com a boca aberta, ri com a cena e dei tapinhas em seu ombro até ele acordar
-Acorda Bela Adormecida- cochicei no seu ouvido, um sorriso tomou conta do seu rosto
-Pelo que sei, Bela Adormecida só acordava com um beijo apaixonado- sorriu
-Pelo que sei, de um príncipe. Ta querendo trocar maçã por banana a essa altura do campeonato?- ele se levantou ainda com o riso estampado e pegou uma das minhas mãos, aproximando do seu rosto e a beijando
-Não devia duvidar sobre qual time eu jogo, posso entender isso como um convite para fazer um gol de letra aqui mesmo nesse sofá- engoli em seco, desviei o olhar e andei até a porta
-Melhor irmos ou vamos nos atrasar- abri a porta e saimos juntos
-Já sei, escadas!- disse levantando as mãos em protesto
-Sim, escadas!- falei num tom firme e ríspido como uma ordem a ser seguidaa
Tomamos um rápido café, e pedi para que me levasse até o meu escritório, precisava deixar umas pastas por lá e pegar outras. Não saímos tantas vezes como gostaria, mas o tempo que passamos juntos é sempre especial, Daniel é um amigo e tanto!
Crusei as grandes portas automáticas da clínica evitando cumprimentar quem quer que fosse, meu horário estava apertado demais para conversas paralelas e minha mente estava totalmente focada no meu desempenho profissional nessa primeira palestra, nada pode estragar algo que almejei desde criança alcançar. Entro no meu escritório como um vulto organizando na grande estante separada pelas letras do alfabeto, as pastas que trouxe comigo de casa, quando me deparo com Gabriela me observando da sua mesa
-Eu preciso falar com a Doutora- falou
-Melhor marcar hora, agora não da- disse desviando o olhar, não quero discutir o que houve ontem na casa de Sharon e deixar que isso me tire o foco e embaralhe ainda mais meus pensamentos
-Desculpa por tudo!- disse limpando o nariz
-Já disse que depois conversamos!- alterei meu tom de voz
-Eu..
-Você nada! Olha sabe o que eu acho incrível? Você ainda estar aqui, você ter vindo até ao meu escritório mesmo sabendo que a última pessoa que eu preciso ver hoje é você. Você traiu minha confiança Gabriela. Você não pode chegar e pedir desculpas como se nada tivesse acontecido e eu te acolher de braços abertos, quando o que eu mais quero é te arrancar cada fio de cabelo. Você mais que ninguém sabia do meu sofrimento, me tirou, se não a única chance de eu ser feliz de verdade, fez com que minha relação com Charlie se desgastasse ao ponto de nos restar apenas boas lembranças. Você é a culpada, e não pense que uma voz de choro e olhos inchados a culpa vai diminuir, eu não vou te perdoar- interrompi apontando para seu rosto
-Eu não espero que me perdoe, na verdade nem dei as caras para pedir perdão, apenas que me mantenha no trabalho- ela só pode estar brincando!
-Eu não suporto nem olhar mais na sua cara, me dá nojo, repulsa. Esse assunto se encerra aqui, tenha um ótimo último dia de trabalho, amanhã quando chegar, espero não ser recepcionada por você. Curta bastante a sua voltinha pelo RH, porque se depender de mim, vão ser os últimos corredores que irá percorrer deste prédio- disse e sai batendo com meus saltos no piso emitindo um som irritante
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Quase Amor
RomanceEsperar é sempre o problema. Esperar o ônibus. Esperar para ser atendida numa fila de banco. Esperar uma mulher passar um carrinho inteiro de compras na sua frente enquanto você só quer passar uma barrinha de chocolate pelo caixa. Esperar por atend...