Capítulo Cinco

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Lie

Conheci a Malévola á um ano e meio numa palestra de um projeto que ela desenvolvia na época, tinha dezoito anos e ela vinte e dois. Era a mais linda do grupo, e mesmo com a certeza que eu não teria qualquer chance, resolvi arriscar. Ela aceitou sair comigo e já na primeira noite percebi a pessoa maravilhosa que ela é. Sempre que chamava uma garota pra sair, era com intuito de ficar com ela naquela noite mesmo, com a Mal foi diferente. Depois de cinco não's, consegui finalmente selar nosso beijo, ouvir sua respiração ofegante no meu ombro, seus labios entre os dentes tentando abafar os gemidos, suas unhas nas minhas costas liberando todo desejo de estar comigo. E a tensão que nos cercava, evaporou.

Decidi fazer psicologia depois de ver vários amigos meus se deixarem levar pelo desejo de bebidas e drogas por não conseguirem se relacionar com a família. O diálogo é a chave para manter qualquer tipo de relacionamento. Nunca tive esse problema com meus pais. Fui criado em um lar de católicos, que fizeram minha irmã gêmea Sharon e eu, frequentarmos as missas de domingo até nossos doze anos. Harley Johnson e Will Johnson, que Deus os tenha, me ensinaram tudo que sei hoje e mesmo sendo fissurados quando o assunto era fé, eu nunca achei que essa fosse a chave para a felicidade e para as boas escolhas até conhecer Mal e perceber que é exatamente de fé que ela precisava para ter um pouco de paz. Depois que seu pai faleceu e só restou ela, a mãe e o irmão, então se entregou para o álcool, não havia uma noite sequer que não bebia, depois de várias tentativas e pedidos para que ela parasse, recorri à Deus, foi uma experiência meio estranha mas funcionou, ela não está completamente limpa mas já melhorou muito

Depois de três semanas nos vendo constantemente, a convidei para a nossa primeira viagem juntos para o Caribe. Aprendemos muitas coisas um com o outro, a ensinei a pilotar motos, jogar buraco, atirar no alvo sem que a arma voltasse com toda força no nariz e tocar violão. Com ela aprendi que sempre sou o errado quando o assunto é nós dois, e isso já foi o bastante

Não necessariamente estávamos namorando e desde o começo, deixei muito claro que não queria compromissos, mas juro de pés juntos que nunca dormi com outra mulher depois dela, só não estava e nem estou preparado para uma relação séria. E sempre que sentia que ela estava prestes a me pôr contra a parede e pedir compromisso, eu me afastava sem deixar pistas. Não sei explicar porque mas só não gosto de me sentir preso a ninguém. E era exatamente isso que precisava dizer á Mal

A tanto tempo não vinha para esse lado da cidade. Entrei no prédio e um friozinho passou pelo estômago, ver o elevador me trouxe lembranças dos intermináveis degraus que me fez subir com ela, só por causa do maldito medo de ficar horas dentro do elevador caso algo acontecesse. Contornei o elevador e entrei nos pequenos corredores das escadas, talvez esta seja a última vez que eu venha aqui e quero me lembrar das gargalhadas e declarações silenciosas que trocamos com o olhar que apenas nós e esses degraus testemunhamos. Mesmo que ela esteja com esse Daniel e não me queira de volta na sua vida, a Mal tem que me escutar.

Chego no seu apartamento, recupero o fôlego e toco insistentemente a campainha, tenho certeza que ela está em casa. Ela abre a porta e um nó se forma em minha garganta, procurei o seu olhar mas vi que ela tinha os olhos fixos no meu tênis e antes que ela falasse qualquer coisa, dei o primeiro passo

-Mal, eu sei que te devo explicações, e vou tentar responder todas as suas perguntas. Vou entender se fechar a porta na minha cara, e espero que não faça isso, porque se fizer, eu vou me virar e ir embora, dessa vez para sempre- nossos olhos se encontraram e por um minuto, ela parece digerir o que eu tinha acabado de dizer. Antes de eu me ajoelhar e implorar por cinco minutos da sua atenção, ela se afastou dando espaço suficiente para eu entrar ainda fazendo contato visual comigo. Ela trancou a porta e me encarou franzindo a sobrancelha

-Ta bom, já que não vai falar nada, vamos fazer assim, você se senta no sofá, respira enquanto eu te pergunto e você responde, ok?

-Mal, eu te amo

-O.. O quê?

-Sei que nunca te disse isso, mas eu te amo- tentei ler o seu olhar mas não consegui, é como se uma guerra estivesse se iniciado dentro dela

-Charlie você não pode dizer que me ama se suas atitudes provam o contrário

-É ele não é? Você ama o Daniel, eu sabia que tinha te perdido mas não estava pronto pra aceitar- engoli em seco quando as palavras saíram da minha boca e instantaneamente queimaram o meu peito

-Não, eu não amo o Daniel- uma sensação de alívio percorreu todo o meu corpo
-Mas também não amo você- ela estava mentindo, seus olhos entregaram

-Pare de mentir para si mesma!

-Você nunca vai ficar Charlie, então por que insiste em reaparecer sempre? Você nunca esta por perto quando preciso, nunca está disponível, sempre sai sem se despedir. Ao menos uma vez Charlie, me dê esperanças concretas

-Eu sei que qualidades ajudam a manter o amor, mas elas não o despertam. Você não se apaixonou pela minha educação, pela minha gentileza, pela minha bondade. Você se apaixonou pelo tormento que eu te causo. Você não sabe o que fazer, você perde o controle, mas gosta. Sei que ama o fato de habitar o desconhecido, e eu aposto que se tivesse uma lanterna, você não a ligaria. Eu amo você Malévola Reis, e estou aqui agora- me aproximei dela com as mãos estendidas para limpar as lágrimas que escorriam do seu rosto

-Eu.. Te a..mo.. Lie- respondeu entre um soluço e outro. Eu havia reconquistado a Mal, e não posso a perder de novo

Não resisti e tive que postar esse capítulo hoje huahua espero que tenham gostado. Deixe a estrelinha e comente o que achou (;

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