Capítulo 3

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Dr. Fernstein fechou a porta de seu consultório, tirou o telefone do gancho e o recolocou novamente. Deu uns passos em direção à janela e tornou a tirar o fone do gancho. Pediu para falar com a cirurgia. Em seguida ouviu-se uma voz do outro lado.

— Sou Fernstein. Preparem-se. Vamos operar em dez minutos. Em seguida, enviou o informe. Desligou com cuidado e balançou a cabeça. Ao sair do escritório, deu de cara com o professor Williams.

— Vamos tomar um café? -Perguntou Williams.

— Não. Não posso.

— O que você vai fazer.

 — Uma estupidez, me disponho a fazer uma coisa estúpida.

Logo o chamarei. Fernstein entrou na cirurgia com um uniforme verde amarrado na cintura. Um enfermeiro o esterilizou.

A sala era enorme; uma equipe completa rodeava o corpo de Louis. Atrás de sua cabeça havia um monitor em cujo visor apareciam os sinais que mostravam o ritmo de sua respiração e seus batimentos cardíacos.

— Como estão as funções vitais?- Fernstein perguntou ao anestesista.

— Estáveis, 65 e 12/8. Está anestesiado. O sangue está normal. Pode começar.

— Sim, ele  está anestesiado, como você falou.

O bisturi penetrou o músculo, cortando toda a região que ocupava a fratura. Enquanto começava a separar os músculos, Fernstein se dirigiu à equipe, chamando-a de "queridos colegas" e lhes explicou que iriam ver um professor de cirurgia, com vinte anos de carreira, realizar uma intervenção apropriada a um estudante do quinto ano: redução de fêmur.

— E sabem por que a faço eu? Porque nenhum estudante do quinto ano aceitaria reduzir uma fratura no corpo de uma pessoa com morte cerebral havia mais de duas horas.

De modo que pedia a todos que não fizessem perguntas e agradecia seu comparecimento. Demorariam no máximo quinze minutos. Mas Louis era um de seus alunos e todos os médicos presentes compreendiam o cirurgião e o aprovavam.

Entrou um radiologista e pediu que lhe passassem chapas de scanner. Os negativos mostravam um hematoma na altura do lóbulo occipital.

Decidiu-se a efetuar uma pulsão para liberar a compressão. Fez um orifício na parte posterior da cabeça; controlando a trajetória através de uma tela, o médico atravessou as meninges com uma agulha fina e a dirigiu até o lugar onde se encontrava o hematoma.

O cérebro não parecia afetado. O fluxo sanguíneo correu pela sonda. A pressão intracraniana desceu quase no mesmo instante.

O anestesista aumentou a quantidade de oxigênio enviado ao cérebro, imediatamente, mediante a entubação das vias respiratórias. As células, libertas da pressão, recuperaram o metabolismo normal, eliminando, pouco a pouco, as toxinas acumuladas.

A perspectiva da cirurgia, mudava a cada instante. Toda a equipe não parecia lembrar-se de que estavam operando um ser humano clinicamente morto. Cada um cumpria seu papel, e os movimentos foram se encadeando. Fizeram radiografias da parede posterior, consertaram as fraturas das costelas fizeram uma punção na pleura.

A cirurgia foi precisa. Cinco horas mais tarde, o prof. Fernstein retirava as luvas. Pediu que fechassem os ferimentos e que depois transferissem o paciente para a sala de reanimação. Em seguida, ordenou, que após passado o efeito da anestesia, desconectassem todos os tubos de auxílio respiratório.

Agradeceu novamente a sua equipe pela presença e pediu descrição. Antes de sair, pediu a Cara, uma das enfermeiras, que o avisassem quando retirassem o respirador de Louis. Saiu da sala de cirurgia em passos rápidos em direção aos elevadores. Passando pelo balcão, perguntou à recepcionista se o dr. Rodgers se encontrava dentro do hospital.

A jovem disse que não e o médico afastou-se abatido, não sem antes agradecer e dizer-lhe que estaria em seu consultório caso alguém perguntas por ele. Depois da cirurgia, Louis foi conduzido à sala de recuperação. 

Cara conectou o monitor cardíaco, o eletroencéfalo e o tubo do respirador artificial. Com tudo aquilo, o jovem parecia um cosmonauta.

A enfermeira pegou uma amostra de sangue e saiu do aposento. O paciente dormia, serenamente, suas pálpebras pareciam mergulhadas nos contornos do universo de um sono sereno e profundo.

Meia hora mais tarde, Cara telefonou para o prof. Fernstein e lhe comunicou que Louis encontrava-se sob os efeitos da anestesia.

Ele perguntou como estavam seus sinais vitais. A enfermeira confirmou o que se esperava, que permaneciam estáveis, e, insistiu para que ele repetisse o que deveria fazer.

— Desligue o respirador — disse o médico — Eu irei em seguida — acrescentou, antes de desligar. Cara entrou na sala e separou a sonda do tubo, deixando que o paciente tentasse respirar por si mesmo.

Instantes depois, retirou o tubo, liberando a traquéia. Tirou uma mecha de cabelo do rosto de Louis, olhou-o com ternura, e, saiu, apagando a luz.

O aposento ficou banhado pela luz verde do aparelho de encefalografia, cujo traçado seguia como plano.

Eram quase nove e meia da noite e tudo estava quieto. Ao cabo de uma hora, o sinal do osciloscópio começou a tremular, a princípio, muito levemente.

Depois, o ponto que marcava o extremo da linha, elevou-se consideravelmente, para descer de forma vertiginosa e voltar à posição horizontal Ninguém testemunho tal anomalia. O azar é assim.

Cara entrou novamente no aposento uma hora mais tarde. Tomou a temperatura, pressão de Louis, desenrolou alguns cm da tira de papel que saía da máquina, viu a ponta anormal, franziu o cenho revisando mais alguns centímetros.

Ao constatar que permanecia fazendo uma linha reta, retirou o papel, sem dar-lhe maior atenção. Pegou o telefone do corredor e chamou Franstein.

— Sou eu. Temos um coma profundo com constantes estáveis. O que faço?

 — Procure um leito no quinto andar. Grato, Cara. Fernstein desligou.


E Se Fosse Verdade... L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora