Capítulo 5

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Harry saiu do automóvel e tocou a campainha brevemente. Atendeu a chamada uma mulher baixa, com olhos borrados pela maquilagem. Entreabriu a porta e perguntou o que ele queria. Ele contou o melhor que pode sua história.

A enfermeira informou que havia um regulamento, que se havia era para ser cumprido, e, que o que tinha a fazer era retardar sua viagem e voltar no dia seguinte. Ele suplicou, pediu uma exceção para a regra, dispunha-se a resignar-se, com lágrimas nos olhos, e, então, viu que a enfermeira cedia e olhava o relógio.

— Tenho que fazer a ronda — disse — . Siga-me, sem fazer um só ruído, nem toque em nada, e, dentro de 15 minutos quero que saia. Harry pegou sua mão e a beijou em forma de agradecimento.

— São todos assim no México? Perguntou a mulher, sorrindo. Deixou-o entrar no pavilhão, convidando-o a acompanhá-la. Dirigiram-se ao elevadores e foram direto para o quinto andar.

— Vou levá-lo ao quarto, farei a ronda e voltarei para buscá-lo. Não toque em nada. Empurrou a porta do 505. O quarto estava escurecido pela penumbra. Estendida na cama, iluminado por uma luz Tênue, havia um homem que parecia profundamente adormecido.

Desde a entrada, harry não podia distinguir seus traços. — Deixarei aberto — disse a enfermeira em voz baixa — .

 Entre, ele não acordará, mas tome cuidado com o que você vai dizer perto dele. Com os pacientes em coma, nunca se sabe. De qualquer modo, é isto o que dizem os médicos. O que eu digo é outra coisa.

Harry entrou sigilosamente. Louis estava de pé, junto à janela e pediu-lhe que se aproximasse.

— Venha, homem, não vou mordê-lo. Ele não parava de se perguntar o que fazia ali. Aproximou-se da cama e abaixou os olhos. A coincidência era surpreendente. O homem inerte estava mais pálido que seu dublê, que sorria para ele, mas apesar de tal detalhe, as feições eram idênticas.

— Impossível!! São irmãos gêmeos? — perguntou Harry, dando um passo atrás.

— Você é desesperador. Sou eu, estendido aí, sou eu mesmo. Ajuda-me e tente admitir o inadmissível.

Não há qualquer dúvida e você não está dormindo. Harry, só tenho você, há de acreditar em mim, não pode dar-me as costas. Necessito de sua ajuda; você é a única pessoa do mundo com quem posso falar, fazem meses, o único ser humano que percebe minha presença e me vê.

— Por que eu?

— Não tenho a menor idéia. Em tudo isso, não existe nada coerente. — "Tudo isso" é muito estranho.

— Você acredita que eu não tenho medo? Sim, tinha medo para dar e vender. Era seu próprio corpo, que via emagrecer um pouco mais a cada dia, como um vegetal, estendido com uma sonda urinária e uma perfuração para ser alimentado.

Não tinha qualquer resposta para as perguntas que ele fazia e que louis também se fazia todos os dias, desde o acidente.

— Tenho tantas perguntas que você sequer pode imaginar. Com um triste olhar, o fez participar de suas dúvidas e medos. Quanto tempo duraria este enigma? Poderia voltar a levar a vida de um homem normal ainda que somente por alguns dias, caminhar, estreitar em seus braços as pessoas queridas? Para que servia ter dedicado tantos anos a estudar medicina, se fosse para terminar assim? Quantos dias faltavam até que seu coração falhasse? Se via morrendo e tinha medo.

— Sou um fantasma humano, Harry. Ele baixou o olhar, evitando o seu.

— Para morrer tem que ir-se, e você está aqui. Venha, voltemos para casa, estou cansado e você também. Passou um braço por seus ombros e a estreitou contra si, como para consolá-lo. Ao virar-se, encontrou-se cara a cara com a enfermeira, que o olhava inquieta.

E Se Fosse Verdade... L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora