Meu primeiro susto

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Bom como toda boa história, nada acontece por acaso e ao longo dos meus 33 anos é óbvio que já vivi e presenciei muitas coisas.
Muito bem vamos lá...
Em 1996 eu era uma menina muito esperta, curiosa e não acreditava em coisas do sobrenatural como toda criança tinha medo de fantasmas e outras visagens, sim sou do Norte e pra nós visagens são como chamamos espíritos ou desencarnados seja lá como vocês chamem !!!
Férias pra mim era ir a praia ou passar dias na fazenda com meus primos e alguns amigos ... Tomando banho de igarapé e andando a cavalo, para a minha idade eu era bem resolvida virada e adorava desafios, perdi meu pai muito cedo aos 8 anos de idade e fui criada pela minha mãe e minha avó materna que era filha de parteira e benzedeira da melhor estampa em Belém do Pará (diga-se de passagem minha Bisavó era uma senhorinha muito amorosa e o que ela tinha de pequenina tinha suas orações de poderosas e eficazes) Belém cidade cheia de crenças e histórias antigas sem contar a linhagem de meu bisavó que era um legítimo índio onde a cura com ervas e rezas também era o normal e comum entre meus tios e minha mãe , com essa árvore genealógica tão poderosa para o mundo místico e sobrenatural eu uma simples menina de 13 não tinha muito o que fazer para ignorar minha mediunidade já se aflorando desde muito pequena.
Até hoje me lembro como se estivesse ainda ouvindo a voz doce de minha avó me pedindo que naquelas férias eu tomasse cuidado com a beira do igarapé pois eu havia acabado de me tornar uma "mocinha" se é que me entendem ... E é lógico que eu não liguei para o que ela disse nas me recordo do seu olhar arregalado ao mesmo tempo temeroso em me repetir que a partir daquele momento minha vida não seria a mesma.
Eu então segui viagem muito feliz com uma patota de outras meninas para a fazenda e lá eu corri brinquei ... Tomeu banho de igarapé aos montes, mas na véspera da ultima semana eu me deparei com uma decepção enquanto todas as meninas se preparavam para ir para o que seria o melhor passeio de cavalo daquele mês pois atravessariamos o igarapé mais longo da fazenda cada uma em seus cavalos e seria o máximo pois do outro lado aconteceria uma corrida e eu era a preferida para ganhar, mas naquele dia 23 de julho de 1996 minhas regras menstruais vieram acabar com meus planos me deixando extremamente triste pois a voz de minha avózinha ecoava em minha mente pedindo para que eu não não entrasse naquele rio de maneira nenhuma caso minhas regras viessem pois era muito arriscado e lá eu poderia ter uma surpresa.
Mas eu era teimosa e vaidosa e jamais ia deixar que outra pessoa ganhasse em meu lugar aquela competição. Afinal era o primeiro dia e minhas amigas me diziam "Vamos larga de ser besta isso é crendice de velho" "Na água o sangue estanca" " Bora lá deixa de ser fresca" ... E assim eu fui !
Estavamos todas muito animadas e brincavamos muito ao percorremos uma longa distância entre a sede da fazenda e a beira do rio fui me observando cada vez mais seria enquanto todos brincavam eu me retraia era como se eu soubesse que a minha teimosia teria um consequência era como se os olhos de minha avó estivessem em minha frente mas mesmo assim segui adiante. E ao chegar no igarapé logo no começinho havia um lamaçal difícil de atravessar pois o peso fazia com que o cavalo afundasse e ficassemos sujas de lama cinza o que era muito divertido pela adrenalina. Ok o primeiro obstáculo foi ultrapassado mas o sentimento insistia em martelar os pensamentos... Ao iniciarmos a travessia meu cavalo um manga larga robusto e jovem deu um chocalhão para trás um solavanco como quem quisesse recuar... Disse as meninas que elas prosseguissem que eu iria logo atrás pois ele poderia estar com sede e cansado e eu daria um tempo para ele beber água e se refrescar!
Desci então fui molhando meu cavalo aos poucos água cobria a minha cintura e eu estava sozinha com ele mas logo essa sensação passou ouvi passos entre a mata e que se aproximavam e me deixavam cada vez mais curiosa pensava comigo que alguem poderia ter voltado para me buscar, mas logo percebi que alguém me observava, pela primeira vez eu tive medo de estar sozinha pois meu cavalo estava agitado e fora do normal pra mim que convivia com ele a muito tempo, perguntei em voz alta quem estava ali... E nada tive como resposta a não ser o eco da minha propria voz!
- Isso não tem graça... Aparece logo!
Repeti e nada apareceu, a mata foi ficando agitada o vento vinha forte e eu já não conseguia mais imaginar o que seria.
Foi quando olhei para a tábua onde geralmente sentavamos e pude observar aquela pessoa me encarando um olhar forte e de porte altivo e rígido a sua pele era avermelhada e trazia em sua cabeça um cocar grande e longo de penas verdes azuis e vermelhas, fiquei em estado de choque pois quando pensei em correr ele se pôs em minha frente e me perguntou o porquê da minha teimosia:
- Você ouviu o que a menina velha lhe disse? Da a volta e segue teu rumo e ouve o que te digo pois vais me ver por outras vezes em tua vida mas que não seja pela tua rebeldia!!!

Como um rasgo na mata ele sumiu antes mesmo q eu pudesse pensar em responder e eu subi em meu cavalo sem olhar pra trás e segui atravessando o rio para encontrar o povo, era como se meu corpo estivesse flutuando cheguei como um pedaço de papel branca, mole e sem conseguir pronunciar uma palavra não ouvia o que as pessoas falavam nem processava as informações me mandaram correr e eu fui além da marcação passei direto meu cavalo parecia estar tambem tão assustado quanto eu com aquele índio enorme me olhando com os olhos em fogo ardente me repreendendo e as palavras de minha avó se misturando em meus sentimentos o animal corria desembestado sem que eu conseguisse o controlar quando em seus brutais solavancos me jogou no chão no meio da mata cerrada deixando marcas em minhas costas, braços como uma surra de cipó... Fui socorrida pelos meus primos e parentes e o cavalo só foi encontrado a km de distância de onde estavamos.
Ao retornarmos a sede eu ainda muito assustada minha tia veio ao meu encontro me amparando devagar lavou minhas costas e braços e me colocou sentada aos seus pés para que pudesse encharcar minhas costas com arnica a dor era grande mas a vontade de chorar e as lágrimas que escorriam em meu rosto de nada tinham haver com os machucados, me sentia envergonhada não pela derrota nem pela queda mas sim por ter desafiado e desobedecidoos conselhos de minha avó e em meus pensamentos somente queria ouvir sua voz e de minha mãe, mas como estavamos longe da cidade apenas uma antena de telefone funcionava e só era possível receber e fazer chamadas a noite quando o sinal ficava mais forte e ainda eram por volta de 13:00 da tarde eu deitada nas pernas da minha tia com o coração apertado não cheguei a terminar a frase :
-Tia queria tanto falar...
Neste momento misteriosamente o telefone tocou assustando e deixando até mesmo o capataz da fazenda surpreso com o barulho...do outro lado a voz de minha mãe trémula e nervosa perguntava ao meu tio o que havia acontecido pois ela sentiu que algo acontecera comigo e que minha avó afirmava que eu estaria ferida pois o índio José Tupinambá teria lhe avisado que eu corria perigo, imediatamente minha mãe ordenou minha volta pra casa eu com uma febre de 39° devido ao susto e ao estado de choque fui ao encontro delas... Ao chegar minha avó já me esperava com um banho de ervas prontos para que eu me preparasse para o que seria o começo de uma longa jornada de amor fé e caridade, que começou antes mesmo de eu nascer com meus ancestrais, entre o real e a encantaria entre a vida e a morte entre homens e caboclos e tudo o mais que eu precisava saber sobre minhas origens e o meu futuro. E o mais importante era como eu que sempre fui desobediente e indisiplinada havia sido escolhida em meio a tantos.

A História De Uma Médium ConfusaOnde histórias criam vida. Descubra agora