Vida que segue

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Ao chegar em casa eu só me perguntava o que havia acontecido me sentia um tanto quanto estranha,era como se meu corpo não fosse meu mais.
Como ainda cheguei em casa debilitada por conta da queda de cavalo ainda sentia muitas dores e a febre insistia em oscilar entre 38° a 39° mas o que realmente preocupava eram as fortes dores de cabeça que eu sentia, minha mãe apavorada me levou ao hospital vários exames foram feitos e nada foi encontrado.
Ao chegar em casa eu já havia sido medicada e a febre havia ido embora mais eu ainda sentia as dores no corpo e um cansaço aparente era como se um trator houvesse passado por cima de mim.
Como toda filha única mas que mora com a avó eu era uma menina muito mimada por todos da família pois era a caçula dos meus primose tios, com isso ao chegar em casa eu optei por deitar na cama da vovó ela sempre foi o meu porto seguro. E logo ela me trouxe um chá de camomila e erva doce para que eu tomasse e dormisse embora eu tivesse com sono sempre que eu fechava meus olhos a imagem do Índio a me observar e não conseguia dormir. Era como se minha avó soubesse disso, mas não teria como pois não houve testemunha do que eu ví no rio e eu guardei segredo pois por providência divina eu não surtei e enlouqueci com esse acontecimento e o mais engraçado era que EU que achava essas crendices da minha avó uma bando de baboseiras tinha dado logo de cara com um índio gigante me dando uma "ralhada" daquelas !!!
Deitada na cama de minha avó reparei em um quadro na parede que era daqueles que você anda e o os olhos na pintura te acompanham... Meu pai morreu eu tinha 9 anos de idade e como nossa casa era muito grande minha mãe vendeu e fomos morar com minha avó e esse quadro já existia na casa dela, era um quadro intrigante mas ela sempre pegava nele e colocava café numa cuia bem pequenininha e sempre tinha uma vela branca acesa em frente a ele, eu não sabia o que ela tanto conversava com o homem pintado naquele quadro ele era um velho negro de barba branca com um cachimbo um chapéu de palha e o quadro parecia bem velho uma coisa barroca meio que antiguidade mesmo.
Mas era engraçado ver a vovó rezando ou conversando com ele.
E assim eu sem sono e sem motivos nenhum para ficar olhando toda aqueles aparatos ao redor do quadro me peguei olhando pra ele e senti que aquele homem sorria pra mim ... Lógico que a imagem continuava intacta mas era uma sensação boa que ele me transmitia e eu pude ver e senti que ele me trazia paz e aos poucos fui adormecendo.
Foi uma noite tranquila e calma dormi como um bebê e ao levantar da cama fui correndo perguntar pra vovó quem era o homem no quadro? E o que ele fazia? O porque dela fazer aquelas coisas do café na cuia e acender vela? Se ele era algum santo da igreja que eu não conhecia? enfim metralhei minha avó de perguntas! Ela era uma velhinha invocada, se zangou com tantas perguntas :
- Arre égua pequena arteira e avoada para de me atentar toma logo teu café e para de perguntar o que não é da tua conta. Deixa meu preto velho quieto.
Eu não entendia muito dessas coisas e ria porque a vovó tinha um jeito muito engraçado de se zangar fácil e eu sempre agarrava e beijava ela pra raiva passar o que acontecia ao contrário pq ela ficava ainda mais invocada mas logo amolecia e me acariciava os cabelos e me dava um beijo na testa e dizia pra eu me preocupar em estudar que ela queria neta doutora.
Ao longo dos anos eu sempre me lembrava do acontecido no igarapé da fazenda mas fui crescendo a vida foi tomando outros rumos conheci um rapaz aos 18 anos e começamos a namorar e eu engravidei tive a minha primeira filha. Ao dar a notícia em casa pensei que eu iria apanhar de minha mãe o que de fato aconteceu mas o que me preocupava não era com o julgamento das pessoas e sim na decepção da minha avó ela sim me importava e eu sofri muito por saber que eu poderia magoa-la, mas a minha avó apesar de seus 82 anos era uma senhorinha bem vivida e moderna, uma modernidade que só fui conhecer quando todos da minha família me julgavam e apontavam meu erro alguns diziam que eu havia sujado o nome tão tradicional da minha família uns proibiam os filhos de terem contato comigo diziam que eu era má influência, eu chorava dia e noite e numa dessas noites minha avó entrou no meu quarto eram por volta de 03:00 da manhã e eu estava com medo do que ela ira me dizer mas tive uma grata surpresa.
Ela me pôs deitada na sua perna como sempre fez quando eu chorava pela perda do meu pai e me disse palavras que eu jamais poderia imaginar.
- Filha seca essas tuas lágrimas e guarda elas para quando eu morrer, você não foi a primeira e nem será a última a engravidar nessa vida, agora você tem que ser forte pois quando aparecer outra "buchuda" as pessoas param de falar de você, tenho muito orgulho de você que apesar de "Gitinha" resolveu dar a cara pra bater e ter essa criança sozinha sem abortar.
Naquele momento o que era choro de tristeza foi pro espaço pois eu chorei abraçada a ela até dormir. E ela acabou dormindo sentada comigo em seu colo.
Ao amanhecer eu saí pra trabalhar, sim eu comecei a trabalhar muito novinha assim que terminei a escola aos 17 anos e agora eu precisaria trabalhar mais ainda.
Ao voltar pra casa no finalzinho da tarde meus tios e primos estavam todos em casa, pensei que eu iria passar por um julgamento da santa inquisição, ou que estavam ali pra me apontar mais uma vez os meus erros, quando entrei minha avó estava com um sorriso lindo e largo ela havia chamado eles para dizer que como matriaca da família ela exigia que eu fosse respeitada e quem não me aceitasse era pra esquecer que ela existia minha avó comprou a briga e tava ali pra me apoiar e que se lascasse quem não concordasse com ela velhinha arretada era essa D. Mere.
Com isso minha família teve que me engolir.
Um dia cheguei em casa ela estava sentada na batente da porta e quando me viu disse assim filha deita aqui eu estava com 8 meses de gestação faltavam apenas 2 semanas pra eu ter meu bebê e havia feito uma ultrassom minha filha estava sentada na posição inversa e só os médicos e eu sabiamos disso não quis contar para não preocupar minha mãe que sempre foi nervosa, então ela me fez deitar e pegou um galho de arruda e um óleo de amêndoas e sobre o olhar atento da minha mãe que seguia as orientações e os comandos dela ela começou uma reza concentrada e sem pausas era como se não fosse ela falando eu sem entender nada senti um solavanco dentro de mim forte e pedi pra ela parar porque poderia estar machucando minha filha fui repreendida pela minha mãe:
-Fique quieta que ela está colocando a bebê na posição certa !
Me calei e deixei que ela terminasse, no final ela parecia exausta, deu três cambaleadas que me assustaram mas depois sentou e minha mãe já estava de prontidão com uma toalha branca nas mãos e um copo com água. E só me dei conta que quem havia feito tudo aquilo não teria sido a minha avó quando ela perguntou para minha mãe:
- Como foi ela conseguiu revirar a criança para o lugar certo.
E minha mãe fez um gesto com a cabeça que sim. Fiquei assustada mas pude entender que minha avó era tão diferente quanto eu por isso nos davamos tão bem e nos entendiamos até no olhar sem que fosse preciso palavras.
Dei a luz três semanas após esse dia, nem os médicos entenderam como aquela criança havia se posicionado tão rápido e mudado de posição pelo estágio avançado de gravidez.
Mas meu parto teve muitas surpresas embora o plano inicial fosse ter parto normal meu organismo não aguentou o que colocou a vida da minha bebê em risco corremos para a sala de cirugia as 22:00 hs para uma Cesária de urgência minha filha nasceu sem vida não chorou minha tia acompanhava o parto seus olhos cheios de angustia me assustavam mas minha fé era inabalável havia na parede um altar com uma nossa senhora de Nazaré bem em frente a mesa de parto e eu olhei firme apertei a mão de uma enfermeira que estava comigo o tempo todo me dando força e pedi:
-Valei minha Nossa Senhora salve minha filha por amor ao teu filho amado Jesus.
Neste momento minha filha berrou um choro forte que emocionou a sala inteira minha obstetra disse que já havia visto casos assim mas que uma luz entrou junto com o choro dela não soube dizer de onde veio.
Eu estava exausta e logo que fui para o quarto amamentei e dormi.
Ao amanhecer acordei e perguntei a médica quem era a enfermeira que ficou segurando a minha mão o meu parto inteiro e a Dra riu e disse:
- Não temos enfermeiras mulheres na minha equipe acho que você deve ter se confundido com sua tia pois de mulheres só estavamos nos duas e você.
Mas eu tinha certeza que havia uma outra mulher ela me disse seu nome Mariana ela ficou o tempo todo ao meu lado mas sumiu logo que eu fui para o quarto.

Fui entender esse mistério anos mais tarde...

A História De Uma Médium ConfusaOnde histórias criam vida. Descubra agora