E dizer, meu melhor amigo, que no teu dia tudo que te dei foi tristeza, se é que sentes minha falta.
Enquanto celebra a vida, descanso em morte. Enquanto, nas velas, expressa o desejo de futuro, satisfaço-me na ideia de não ter um. E não quero um futuro onde serei para sempre julgado, prefiro a quietude dos palmos sob a terra.
Desculpe-me se as memórias feitas não foram suficientes. Sinto-me culpado quando penso no tanto que falhei com você em não estar lá.
Desculpe-me por ter partido, mas a minha partida era minha única escolha. E sei que um dia entenderá.
Sabes o quanto o mundo me agrediu, embora não possua parte em tais atos hediondos.
No entanto, pior que a falta da oportunidade de aplaudir-lhe em celebração de seu dia é a certeza de que se eu pudesse, ainda assim não iria vê-lo cercado de hipocrisia, pois seria inaceitavelmente hipócrita de minha parte manter-me quieto enquanto falsos sorrisos mirassem tua alegria.
Sei que o fiz derramar lágrimas salgadas e dolorosas na despedida, mas a dor só é sentida quando algo muito maior deixa de existir, seja a paz, seja a quietude, a normalidade ou o amor. Seja a perfeição de um sorriso ou o sentimento caloroso de uma presença.
E minha presença será sentida nos mínimos detalhes por um tempo - apenas o suficiente para que possa causar apenas uma retração melancólica de um sorriso -. E então, já terá me esquecido, pois assim somos todos. É impossível viver daquilo que não existe.
E eu escolhi existir em memória temporária, para não subexistir na sombra de minha própria consciência.
Desculpe-me deixar-te.
Desculpe-me por não estar no momento em que teu sopro atingir os desejos, na esperança de um milagre supersticioso. Seria muito para mim te ver rodeado de falsos contempladores de tua felicidade.
Nunca irei deixar-te por completo. Estarei, de certa forma, sempre lá, mesmo quando meu nome for apenas um nome ou meu rosto apenas uma sensação de vaga lembrança.
Serei um sorriso, serei uma lágrima, serei uma lembrança, ou uma imagem embaçada, logo uma ideia, um pensamento esquecido no fundo de uma cabeça cheia dos dias que virão.
E feliz aniversário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas Suicidas
General FictionO que fazer quando você acorda e simplesmente não se reconhece? Quando se cansa até mesmo das menores coisas, quando tudo no que sempre encontrou alguma familiaridade subitamente passa a ser estranho, insuportável pra você? Quando finalmente se che...