A derradeira consciência

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Não sei em que ponto da minha história pensei em suicídio pela primeira vez, mas a confirmação me veio ao sentir aquele cheiro de fumaça e suor que agora estava impregnado na sala de estar da minha casa. Eu nunca havia reparado nisso, no cheiro. Porque era tão familiar pra mim quanto chamar aquela casa de minha. E, de repente,estar ali se tornara simplesmente agonizante, porque era familiar demais. Pensei que nunca havia reparado nisso justamente porque não mudamos enquanto a situação nos for familiar. E eu comecei a pensar em tudo o que desistir da vida implicava. E viver não me pareceu mais familiar. Como se respirar em si fosse uma atividade forçada para mim, o que é engraçado, já que nunca precisamos pensar em respirar para efetivamente fazê-lo. E eu passei a precisar.
Assim eram as coisas que antes me traziam conforto. Torturantes.
Eu realmente precisava me livrar daquilo. Me livrar de mim mesmo, da consciência de que existo.
Me livrar da minha existência.
Então reparei que o que confirmara que eu queria suicídio não era a sala de estar de minha casa, mas o fato de eu ter passado por ali tantas vezes que aquilo fazia parte de quem eu sou.
O que confirmou que eu queria suicídio era o fato de eu estar vivo.

Crônicas SuicidasOnde histórias criam vida. Descubra agora