Capítulo 5 cafezinho com uma bruxa

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   Black's Coffee. Era um nome com um trocadilho da pior espécie, mas Claymore
retornava dia após dia. Afinal, era a melhor cafeteria em Keeseville. Novamente, era a
única cafeteria em Keeseville...

Ele tinha chegado a conhecer bem o proprietário. Tão logo ele entrava, Burly

Black era o primeiro a cumprimentá-lo com "Howard! Como você está? O de sempre?"
Burly era... bem, corpulento. Sua cara carnuda, braços maciços tatuados, e sua
carranca permanente teria lhe rendido a entrada em qualquer gangue de motoqueiros.

Seu avental Beije o Cozinheiro era a única coisa que o fazia parecer que deveria ficar
atrás do balcão.

"B'Dia," Claymore respondeu, pegando um lugar no canto e retirando seu laptop.
"Sim, o de sempre seria bom."

Ele estava no capitulo quarenta e seis nesse momento, o que tornava seu
trabalho mais fácil. Nada mais de enrolação com os leitores. Se eles não tivessem
entendido o propósito até esse momento, eles nunca entenderiam.

Café e pastel de blueberry apareceram a sua frente, mas Claymore mal os notou.
Ele estava em seu próprio mundo, dedos se alastrando sobre o teclado, palavras e
pensamentos vindo juntos em um padrão aparentemente irreconhecível, mas Claymore
sabia que era um gênio.

O café foi drenado lentamente. O pastel foi reduzido a poucas migalhas. Outros
fregueses iam e vinham, mas nenhum deles perturbou Claymore. Nada importava
exceto seu trabalho. Era por aquilo que ele vivia.

Mas então seu mundo privado se estilhaçou quando uma mulher se sentou perto
dele.
"Claymore, que surpresa! Eu não esperava vê-lo aqui!"
Ódio brotou dentro dele. Ele apertou Ctrl+S e fechou seu laptop. "Sra. Lamia, se
eu não fosse um homem civilizado, puxaria essa cadeira debaixo de você."

Ela fez beicinho, dando a ele um olhar de cachorrinho sem dono, que não era
convincente em uma mulher da sua idade. "Isso não é muito legal, Sr. Claymore. Eu
estou apenas dando um alô."

Ele olhou para ela. "É Doutor Claymore."

"Desculpe-me," ela disse indiferente. "Eu sempre esqueço... eu não sou muito boa
com nomes, como pode ver."

"A única coisa que quero de você é que suma da minha frente," ele disse. "Eu me
recuso a ser convertido a qualquer que seja o culto ao qual você pertence."
"Eu só quero conversar," ela insistiu. "Não é sobre deuses. É sobre o garoto,
Alabaster."

Ele olhou pra ela desconfiado. Como ela sabia o nome do garoto? Claymore não
tinha mencionado em sua conversa na noite passada.

Sra. Lamia sorriu. "Eu tenho procurado por Alabaster por algum tempo. Eu sou
sua irmã."

Claymore riu. "Você não pode arrumar uma mentira melhor que essa? Você é
mais velha que o pai do garoto!"

"Bem, as aparências enganam." Seus olhos pareciam anormalmente brilhantes,
luminosamente verdes, como a luz do sonho de Claymore. "O garoto tem se ocultado
muito bem," ela continuou. "Devo admitir que ele está ainda melhor em sua magia
occultandi. Eu esperava que seu discurso o faria se revelar, e isso aconteceu. Mas antes
que eu pudesse pegá-lo, ele conseguiu escapar. Me dê seu endereço, e eu deixarei você
em paz."

Claymore tentou manter a calma. Ela era apenas uma mulher velha e louca,
divagando sem sentido. Apesar de magia occultandi... Claymore sabia latim. Isso
significada encantamento de ocultação. Quem diabos era essa mulher, e por que ela
queria o garoto? Estava claro que ela queria fazer mal a Alabaster.

Enquanto Claymore a encarava, ele percebeu outra coisa... Sra. Lamia não estava
piscando. Ele já tinha a visto piscar alguma vez?

"Você sabe o que é? Eu estou cansado disso," a voz de Claymore tremia de ódio.
"Black, você está me ouvindo?"

Ele olhou para Burly por cima do balcão. Por alguma razão, Burly não estava
respondendo. Ele continuava polindo as canecas de café.

"Ah, ele não consegue te ouvir." A voz de Lamia se transformou no mesmo
sussurro rouco que ele tinha ouvido na noite passada ao telefone. "Nós podemos
controlar a Névoa a vontade. Ele nem mesmo faz ideia de que estou aqui."

"Névoa?" Claymore perguntou. "Sobre o que diabos você está falando? Você deve
ser verdadeiramente insana!"

Ele se levantou, instintivamente recuando, colocando sua mão no bolso do
casaco. "Burly, por favor, expulse essa mulher daqui antes que ela estrague
completamente minha manhã!"

Burly continuou sem responder. O grandalhão olhou para a direita através de
Claymore como se ele não estivesse lá.

Lamia deu um sorriso convencido. "Sabe, Sr. Claymore, eu não acho que já tenha
alguma vez encontrado um mortal tão arrogante desse jeito antes. Talvez você precise
de uma demonstração."

"Você não entende, Sra. Lamia? Eu não tenho tempo pra isso! Eu vou me retirar
agora, e quanto à..."

Ele não teve tempo de terminar. Lamia se levantou e sua forma começou a
brilhar. Seus olhos foram os primeiros a mudar. Suas íris se expandiram, brilhando em
verde escuro. Suas pupilas se estreitaram até virarem fendas ofídicas. Ela estendeu uma
mão e imediatamente seus dedos murcharam e endureceram, e suas unhas se
transformaram em garras de lagarto.

"Eu posso matar você agora mesmo, Sr. Claymore," ela sussurrou.
Espere... Não, isso não era um sussurro. Soava mais como um silvo.

Claymore sacou sua arma do seu casaco e o apontou para a cabeça de Lamia. Ele
não estava entendendo o que estava acontecendo—algum tipo de alucinógeno em seu
café, talvez. Mas ele não podia deixar essa mulher—essa criatura—levar a melhor em
cima dele.

Aquelas garras podiam ser uma ilusão, mas ela ainda estava se preparando para
atacá-lo.

"Você realmente pensa que eu agiria tão pretensiosamente em torno de uma
lunática se eu não estivesse preparado para me defender?" ele perguntou.
Ela rosnou e avançou, levantando suas garras.

Claymore nunca tinha atirado em alguma coisa antes, mas seus instintos tomaram
de conta. Ele puxou o gatilho. Lamia cambaleou, silvando.

"A vida é uma coisa frágil," ele disse. "Talvez você devesse ler um dos meus livros!
Estou apenas agindo em legitima defesa!"

Ela investiu novamente. Claymore atirou mais duas vezes na cabeça da mulher, e
ela desabou no chão.

Ele esperava que tivesse mais sangue... mas isso não importava. "Você—você viu
isso, Burly, não viu?" ele exigiu. "Não há forma de socorrê-la!"

Ele se virou para Black, e depois franziu o cenho. Burly estava ainda polindo as
canecas de café.

Não tinha jeito de Burly não ter escutado os tiros. Como era possível? Como?
E em seguida, uma outra impossibilidade aconteceu. O cadáver abaixo dele
começou a se mover.

"Eu espero que entenda agora, Sr. Claymore." Lamia se levantou e o encarou com
seu olho de serpente remanescente. Toda a parte esquerda de seu rosto tinha sido
estourada, mas onde deveria ter sangue e ossos tinha uma espessa camada de areia
preta.

Parecia mais que Claymore tinha destruído parte de um castelo de areia... e
mesmo assim essa parte estava se reformando lentamente.

"Por me atacar com sua arma mortal," ela silvou, "você declarou guerra a uma
filha de Hécate! E eu não entro em uma guerra de ânimo leve!"

Isso... isso não era um sonho, ou indução por drogas ou qualquer outra coisa. Isso
era impossível... Como isso era real? Como ela permanecia viva?

Foco! Claymore disse a si mesmo. Obviamente isso é real, uma vez que aconteceu!
E então, sendo um homem lógico, Claymore fez a coisa mais lógica. Ele apanhou
sua arma e correu.

Filho Da Mágia -filho do RickOnde histórias criam vida. Descubra agora