Simpatia instantânea

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Lembro que quando eu era uma garotinha, os primeiros dias de aula eram algo assustador. Eu me preocupava se iria fazer amigos, se iria gostar dos professores, ou até mesmo se as matérias seriam mais difíceis. Porém nada mais me amedrontava, eu não sentia nem se quer um frio na barriga, eu só queria terminar logo os meus estudos e não estava nem aí quanto aos outros alunos. Eu acordei cedo para ir para escola, em partes me senti aliviada de não ter que passar a manhã em casa e esbarrar com o Guto.

Fazia um tempo que eu não sentia cheiro de escola, fazia tempo que eu não escrevia alguma coisa, já nem conhecia tão bem a minha letra. Assim que cheguei, não sabia onde me sentar, eram muitas pessoas naquela classe e as cadeiras estavam em péssimos lugares, eu não tinha muita escolha. Me sentei e procurei não olhar muito em volta, não tinha a menor intensão de fazer amizades. Porém a professora de história que estava dando aula, mandou que eu me pusesse de pé e me apresentasse a turma. Achei isso muito tolo e desnecessário, mas não queria que achassem que eu estava insegura, porque eu não estava e não queria transmitir nenhum tipo de emoção, eu não queria chamar atenção. _Sou Pétala... Eu me chamo Pétala.- Eu disse. As pessoas comentavam baixinho sobre o meu estranho nome, mas a professora fez um elogio:_Mas que belo nome! Eu nunca vi... Sua mãe teve algum motivo especial para lhe dar esse nome? 

_Um motivo especial, eu não sei... Mas ela se chamava Rosa.- Eu disse. As pessoas riam e comentavam e, eu só queria ir embora, aquilo era ridículo, me fez lembrar de quando eu era criança e as menininhas meio que zombavam do meu nome. Eu precisava sair dali, a abstinência aumentava e não podia fumar ali, eu estava uma merda!

Um rapaz de aparência meio suspeita, com olhos arregalados veio querendo puxar assunto comigo e aquilo me pareceu pena. Eu não precisava de ninguém sentindo pena de mim por eu ser aluna nova, eu estava bem, só precisava de um cigarro. Não dei muita conversa pra ele, mas ele insistiu em tentar, se apresentou dizendo ser "Marcos". Conforme marcos ia puxando assunto comigo, eu percebi que ele era diferente dos outros rapazes daquela turma, ele era mais efeminado em voz e gestos, desconfio que ele poderia ser gay, mas isso não era da  minha conta. Marcos então olhou no fundo dos meus olhos e disse algo que me alegrou mais que demais:_Você aceita um cigarro depois da aula?- Aquilo me fez sentir uma simpatia instantânea. Eu fiquei paralisada olhando para ele e, ele se incomodou obviamente:_Desculpe, não sabia se gostava e fui logo oferecendo. _Ta brincando?- Eu disse sorrindo. _É claro que eu fumo, estava numa abstinência filha da puta...Obrigada. -Completei visivelmente feliz. Quando olhei ao redor a turma toda me olhava, inclusive a professora... Certamente eu falei alto demais e fracassei no plano de não chamar atenção.

Quando finalmente acabou a aula, Marcos e eu fomos para um beco próximo a escola. Lá nos sentamos e conversamos entre nós e a Thabata. Marcos me contou o básico da vida dele, disse que morava com os pais, mas como eles não aceitavam sua opção sexual ele foi morar com a irmã, mas que era sempre um saco, porque a irmã dele impõe regras demais e ele num pode nem ficar chapado. Também contei a ele o básico da mina vida,  contei omitindo muita coisa, lógico.  Marcos gostou de saber mais de mim e as nossas opiniões eram bem parecidas em muita coisa. Ao terminar a conversa e os cigarros, voltamos para nossas casas e descobri que Marcos morava perto de mim, éramos vizinhos.

Ao chegar em casa, Guto quis saber do meu primeiro dia de aula, ele é um tipo de pessoa que por mais que eu tente, não consigo entender, pois não sei se ele finge que se importa com isso, ou se ele realmente se importa por algum motivo diabólico que só faça sentido pra ele. Eu disse que foi normal, mas ele me forçou contar detalhes. Então eu contei somente os detalhes da aula, não disse nada sobre Marcos. _E o que mais aconteceu? Os seus olhos estão avermelhados, distribuíram maconha educativa nas salas de aula?-Disse Guto, bem sarcástico. Então eu contei que fumei com Marcos no final da aula. Guto sorriu e arrastou uma cadeira para se sentar perto de mim, eu não sei o que deu em mim, mas eu achei mesmo que ele fosse me dá um bom conselho, mas ele pôs a mão na minha perna com os olhos cheio de malicia e disse:_Não precisa fumar escondido, fume comigo... Fume com o seu papai.     

   

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