Eu preciso de maconha

37 3 0
                                    

Passou uma semana e tudo ia muito bem entre Guto, Tenório, os amigos do Tenório e eu. O medo que eu sentia do Guto continuava, mas apesar de tudo, estava suportável conviver com ele, porque eu estava sempre trancada no quarto ou junto ao Tenório. Com Tenório eu me sentia protegida do Guto, ele me transmitia isso. 

Era manhã e já não chovia tanto, podia se dizer que não estava frio. Eu acordei e fui comer alguma coisa, quando percebi que o quarto do Tenório estava aberto e ele não estava lá. Acreditei que ele estava com os amigos dele e voltei para o meu quarto. Porém passaram horas e minutos e eu precisava fumar. Fui até o quarto dele e peguei uma carteira de cigarro que estava no bolso de uma de suas jaquetas, não era maconha, mas serviu para sessar um pouco de minha abstinência. Saí de casa e fui até a igreja abandonada e não tinha ninguém lá, eu me sentei e comecei a pensar em tudo que havia acontecido na minha vida em menos de um ano. Eu ganhei um padrasto mau caráter, um irmão do qual me apaixonei e me perdi, vi uma senhora ser comida por um cão, conheci pessoas que me acolheram com drogas e bebidas e me senti bem a vontade e acolhida com eles. Eu nunca me conheci, nunca fui desafiada, nunca fui testada, nunca passei por nada disso e nunca imaginei passar, a minha vida mudou e só... Parece que num piscar de olhos eu estava ali numa igreja abandonada fumando vários cigarros sem  perceber.
Daí então eu lembrei que não chorei a morte da minha mãe, eu não quis ir no sepultamento, quem era eu? Uma rocha ou uma pétala? Mas quanto a saudades, ah como eu sentia saudades! Eu senti, em todos os momentos; a saudade da Rosa era o que me movia, era como se ela estivesse viva me esperando terminar com isso e voltar pra casa, como se isso fosse só uma fase estranha. Eu via isso como algo temporário, como se uma hora isso tudo iria acabar e eu iria voltar pra minha mãe, por isso eu me movia, por isso eu não chorava... Eu não acreditava na minha realidade, eu estava sempre sob efeito da maconha e quando não estava eu ainda tinha esperança, era algo retardado de se crer, mas meus olhos já estavam cheios de lagrimas e se eu continuasse a pensar no meu estado presente, seriam muitas lagrimas, eu não teria força para prosseguir. Sim. Eu precisava de maconha! Fumei toda a carteira de cigarros e ainda me senti incomodada, passou um tempo e ninguém apareceu então eu fui caminhando devagar até a casa. Ao caminhar para casa, eu senti como se as pessoas me olhassem de forma estranha, como se estivessem vendo algum assassino, elas me olhavam apavoradas e, eu não sei se me sentia confortável diante disso. Numa esquina qualquer um menino aparentando ter seus três aninhos de idade parou me encarando, a mãe do menino o pegou no colo e fez com que ele olhasse para outro lado e não para mim. Aquilo me pareceu meio rude, estava claro que as pessoas não gostava de mim, nisso lembrei da Leona ela também é vista assim, mas sempre achei que fosse por causa de suas cicatrizes no rosto.

Cheguei em casa e o Guto me abordou:_Como foi na escola?- Eu fiquei meio sem reação, tinha esquecido completamente disso. _Ah... Foi normal.- Eu disse subindo as escadas. _Mentirosa!- Disse Guto. Eu então fiquei parada olhando para ele e ele veio andando até a mim. _Me desculpe por mentir, eu esqueci completamente.- Eu disse. _É o seu último ano no colégio, exijo que termine. Afinal você é a minha filha agora, quero ser um bom pai.   Só não gosto de quem tenta me enganar.- Guto disse olhando diretamente para os meus seios, isso era intimidador. Ele me abraçou por trás e apertou muito forte os meus seios por cima da camiseta me deixando sem ar e com muita dor. _Você é uma vadia mentirosa que só merece isso.- Guto disse no meu ouvido enquanto eu morria de dor. Quando ele me soltou o meu fôlego foi voltando e a dor diminuindo e por alguns segundos eu só consegui me manter com a coluna curvada. Fui até meu quarto e decidi contar tudo ao Tenório quando ele chegasse, porém a noite chegou e o Tenório não deu as caras. 


PétalaOnde histórias criam vida. Descubra agora