Capítulo 14

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A festa de aniversário de Peter ocorreu calma depois do que aconteceu no quarto — ou pelo menos eu a vi assim. Seus amigos, apesar de gritarem bastante, não causaram confusão ou conflitos. Claro que alguns já dormiam no sofá, mesmo antes de terminar, mas quem nunca viu um bêbado dormindo pelos cantos em uma festa? 

Jessie foi uma ótima anfitriã e todos se serviram bem, além de dançar até altas horas. Confesso que abandonei a festa um pouco cedo. Estar com Josh, ali, começava à ficar sufocante. E não por ele ou porque Peter lhe causou algo, mas por mim. Pelo gosto que eu trazia nos lábios. Tudo, daquele beijo em diante, estava diferente. Eu seguia, sem gravidade, por um mundo que não era meu, mas nosso. De Peter e meu.

Não foi um beijo como o da primeira vez, apesar de trazer a mesma impulsividade para que o segundo acontecesse. Foi... Desejado, esperado e até errado, mas não havia mais erro, quando meus lábios eram dele. Quando meu corpo pedia por ele. Eu precisava entender que meus sentimentos estavam me dando avisos que eu tentei ignorar, para prosseguir o resto da noite em paz e com meu namorado.

No dia seguinte, variando entre a ressaca e a culpa, eu consegui me livrar de Josh. Ele foi fazer não sei que coisa com os amigos, enquanto eu passei o dia dormindo, para não pensar ou tomar qualquer decisão. Fui covarde, eu sei, mas foi a primeira vez que isso aconteceu na minha vida.

Eu nunca traí um namorado, nem nunca gostei do que eu fiz, mesmo que tenha sido errado aos olhos de todo mundo, inclusive aos meus. Sei que minha cabeça me incita e provoca, dizendo que nós não namoramos realmente e as palavras de Peter passam como um filme, mas é dessa forma que estamos levando a relação. Ou estávamos.

A Segunda-Feira veio e com ela aquele sentimento depressivo de que mais uma semana começaria e todo o trabalho e cansaço também. Foquei totalmente no meu trabalho para me poupar a decisão se ia ou não falar com Josh essa noite e pareceu funcionar até que bem. Estou me saindo ótima na parte de não decidir nada!

O expediente terminou e eu abandonei o lugar sem trocar quase nenhuma palavra com Mark ou Daya. Tenho a impressão de que se eu começar à conversar com qualquer pessoa, vou desabar e não é o que eu quero. Principalmente onde trabalho. Não quero chegar aqui todos os dias e pensar que eu chorei no lugar onde preciso voltar cinco dias na semana.

Já é primavera e o clima está melhor. Uma jaqueta leve é o suficiente para a minha caminhada de sempre. Mãos nos bolsos e um olhar atento ao meu redor, que por sorte, não encontra um rosto conhecido. Entro no prédio e já percebo Bob e seu olhar irritado para o elevador. Ok, Paul está de volta! Fazia certo tempo que ele não aprontava uma e não vê-lo na festa de Peter talvez não tenha sido um bom sinal.

Estou terminando a escada do quinto andar, quando olho a próxima e encontro Stacey e um garoto novo, conversando e sendo acompanhados por uma garrafa de Smirnoff. O silêncio toma conta antes mesmo que eu me aproxime e não tenho coragem de quebrá-lo. Coragem não é a minha palavra favorita esses dias.


— Não me olha assim, Rachel. Danny é gay. Diz para ela! — Stacey está bastante alegrinha, apontando seu amigo.

— Eu sou gay! — Levantou uma mão, enquanto levou a garrafa até a boca com a outra.

— Ok, prazer, Danny. — Sorri e encostei na parede. — O que vocês tem?

— Preguiça de subir as escadas. — Ela me encarou um tempo.

— Faltando menos de 30 degraus pra chegar em casa? Stacey, por favor! Isso tem a ver com o Paul?

— É dia dele trabalhar hoje. De quebrar coisas... O assunto de sempre. Eu quero que ele se... 

— Stacey! — Danny a cortou e riu. — Ela está com ciúmes dele, mesmo que não admita.

O cara do apartamento ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora