Capítulo 22

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Dias se passaram desde que aquele envelope cinza está sobre o balcão, me encarando e eu já encenei todas as falas para quando entregá-lo à Peter, mas mesmo assim, nada está claro na minha cabeça. Não tenho ideia do que dizer.

Cheguei do trabalho e estou olhando-o do sofá, como se tentasse queimá-lo com o olhar, mas nada acontece. É como se ele sorrisse para mim e eu detesto isso.


— Você não quer que eu vá e entregue isso? Rachel, isso está te consumindo. — Disse, Anna, voltando da cozinha com um pote de sorvete de morango para dividirmos. 

— O dono do mundo pediu para eu mesma entregar. — Tirei a mão que levava ao cabelo e agarrei uma das colheres.

— Então use as suas pernas e vá até a porta dele, bata e coloque o envelope embaixo! — Riu, encolhendo os ombros, levando a colher até a boca.


Fico encarando-a sem responder. Anna tem um ar despreocupado que eu nem sempre sei ter e dessa vez ela tem razão. Só preciso entregar isso e ele fará o que achar melhor. Não é como se eu pudesse deter o destino ficando estagnada aqui. 

Prendo a respiração, como se essa pudesse conter meus pensamentos e sentimentos e me levanto, puxando o envelope cretino e saio depressa do apartamento. Bato na porta dele e passo o papel por debaixo, fazendo o que ela me disse e giro os calcanhares em direção à minha casa. Se eu der sorte, ele ainda está dormindo ou pense que Bob trouxe isso para ele.


— Rach... O que é isso? — Droga, ele não está dormindo e me olha enquanto bate o envelope na mão.

— É um convite para o baile do seu pai ou qualquer coisa assim. — Fiz careta.

— Ele esteve aqui hoje e te deu isso? — Pareceu confuso.

— Faz uns dias... — Coloquei o cabelo atrás da orelha. Será que estou encrencada? Sequer olhei a data.

— Rach... Você está com isso há dias? — Riu e balançou a cabeça. — Bem, obrigado.

— Tudo bem... — Balancei uma mão e sorri, encantada com a sua risadinha, mas ainda me faltava dizer algo. — Seu pai disse que aí dentro está o convite da Nicole.

— Ah. — Estreitou os olhos e olhou os convites, disfarçadamente. — Obrigado. Desculpa o incômodo com o meu pai, ele pode ser bem...

— Eu percebi. — Entrei e bati a porta atrás de mim. — Anna, avise Stacey que vamos sair!

— O que?! — Falou com a colher na boca.

— Isso mesmo, vamos sair. Não quero ficar aqui. Estou sufocando. — Levantei a mão, me abanando.


A verdade é que eu não queria estar presente para o que provavelmente viria à seguir: a chegada de Nicole. O jeito que Peter me olhou, envergonhado pela situação, mas sem me dizer o que ia fazer me deixou confusa. Quer dizer, eu sei que não estou em posição de pedir nada, mas meu coração reage diferente.

A pior coisa do mundo é sentirmos algo que não podemos. É desejar ter o que não podemos cobrar. A angústia e ansiedade me tomam, mas eu não posso lidar com isso, agora. 

E é por esse motivo que eu preciso me distrair.


•••


Depois de algum tempo Paul, Stacey, Anna e eu estamos na porta de um Pub Irlandês, que parece ser bem interessante. As portas são em azul claro e o lugar parece animado e aconchegante. Há um festival de cerveja acontecendo. Vemos homens frenéticos em frente ao bar, então demoramos um pouco à nos aproximar.

O cara do apartamento ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora