Estou escovando os dentes quando a campainha toca. A campainha pode esperar, penso, mas ela toca de novo e eu vou atendê-la. Quem estaria desesperado para me ver às oito e pouco da manhã? Bruce. Estava com um sorriso enorme e pulando, entrando no apartamento se esbarrando no meu ombro. Louco! Acho que ele deveria estar na escola, no entanto ele está aqui, pulando na minha frente.
— Eu te arranjei o emprego perfeito!
— Hum? — Franzi o cenho, tentando dizer algo com a escova no canto da boca.
— Sim! No Starbucks! — Voltou a pular e eu abracei, pulando também.
— Hum!
— Mas corre, você precisa estar lá antes das nove.
Ri e corri para o banheiro, enxaguando a boca. Eu tinha me esquecido, mas na noite anterior, Bob e ele compraram uma pizza, me enviaram dois pedaços, através do garoto, já que Bob alegou que eu não cozinharia no dia em que cheguei e estava coberto de razão. Eu estava preguiçosa e sonolenta demais para ir ao mercado e estou guardando cada moeda para não gastar em sanduíches caros — que eu adoro.
Em uma mini conversa, eu disse que retribuiria a pizza em breve, assim que eu arrumasse um emprego e ele me prometeu que ia me ajudar com isso. Eu só não esperava que fosse tão rápido. Senti um pouco de preguiça, mas sei que isso é o destino sorrindo para mim, então tento me trocar e escolher uma roupa na mala que começou a ficar bagunçada.
Sabe, eu já trabalhei algumas vezes, mas nada tão sério assim. Já fiz algumas coisas em curto espaço de meses. Então, assumo, eu era meio bancada pelos meus pais, mas agora a coisa é séria, sou eu contra o mundo. Só espero que eu não termine ligando para o meu pai, pedindo uma ajuda financeira para terminar a batalha. Olho séria para o espelho e me repreendo: sem pensar na ajuda do pai, mocinha. Eu vou conseguir, é apenas uma coisa nova e vai ficando mais fácil com o tempo. Tomara.
Saio do quarto vestindo um sapato de camurça marrom, calça jeans e uma camisa social branca. Eu não sei se deveria ir assim, mas é uma proposta de emprego e eu tenho que parecer séria. Sorri para Bruce e saímos do apartamento.
Finalmente o elevador está funcionando e é a primeira vez que eu e ele nos vemos. Há um espelho enorme, que me facilita à passar um gloss labial, enquanto Bruce ri e me olha fazendo uma careta. Homens odeiam gloss, isso é um fato, mas eu não vou beijar alguém então posso me dar ao luxo. Saímos do elevador correndo e acenamos para Bob rapidamente, enquanto ele me desejava sorte e eu ia mesmo precisar...
Ontem, sete lances de escada e hoje, três quarteirões correndo. É oficial, essa cidade quer me matar, mas eu ainda estou meio viva, meu coração bate tão forte e descompassado que me dizia isso.
Chegamos e ele me disse que estava muito atrasado para a escola e precisava ir, então era a minha hora de lutar sozinha. É um shopping, não muito grande, mas movimentado. Olho para a fachada do Starbucks e respiro fundo. Tem que dar certo...
E deu.•••
O dia foi corrido, mas foi tudo bem. Seria pior, se eu já não conhecesse muito bem cada um dos sabores daquele lugar. Até que foi legal, atender pessoas e escrever o nome de desconhecidos, colocar ":)" e animar o dia delas. Elas sorriem quando vêem e eu fico contente por elas. Pequenos detalhes, sabe? Eu gosto deles.
O expediente acabou e eu passei pela vitrine de algumas lojas daquele andar, pensando em roupas novas. Eu vou ter uma festa no Sábado e um trabalho cinco vezes na semana, então acho que posso me dar ao luxo, agora e preciso de coisas que me façam mais adulta e ao mesmo tempo, manter minha idade. Quer dizer, eu preciso de roupas que possa sair depois do trabalho e ir para um bar, ou sair de um bar e vir trabalhar...
Claro, eu também não sou essa certinha. Eu quero ter lugares favoritos para beber e fazer bagunça, celebrar, enlouquecer e desestressar. Olho as roupas e apesar de querer levar algumas, não trouxe dinheiro comigo. Bruce me fez correr tanto, que apenas me lembrei dos documentos necessários para entrar no trabalho. E acho que também esqueci o dinheiro porque tive que pensar que ele não existia. Enfim, amanhã eu trago.
Eu me lembro que poderia passar em um mercadinho próximo de casa, já que minha geladeira não tem nada e eu fiz uma bela refeição de água no café da manhã e almocei um muffin no trabalho. Não estou orgulhosa disso e minha barriga menos ainda, então sei que vou precisar descer e comprar pelo menos meu jantar.
Amanhã, depois do expediente vou mesmo às compras, eu preciso de mais comidas que um simples jantar e necessidades básicas. Você sabe, pasta de dente, sabonete, velas... Sim, velas! Ou pelo menos uma lanterna legal. Eu não quero correr o risco de acabar a luz e eu ficar na escuridão total. Confesso que esse é um dos meus maiores medos: o escuro. Sei que estou grande demais, mas não podemos nos curar de certas fobias só porque viramos adultos.
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O cara do apartamento ao lado
FanfictieRachel Reed acaba de se mudar para New York em busca de uma vida melhor. Completamente sozinha, precisa de um emprego e novos amigos. Ela vai encontrar uma amizade diferente com seu vizinho, Peter Clark, o canalha do prédio. Rach e Pete são pessoas...