Sobre o Vampirismo e Suas Desvantagens

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Falando somente das vantagens que o vírus fornece ao hospedeiro parece ainda mais tentador ceder à infecção, mas não é somente isso que o vírus proporciona. O vampirismo age num sistema de trocas com seu hospedeiro: ele empresta ao corpo os seus poderes em troca do sangue. Uma hora esse sangue se acaba e o hospedeiro enfraquece, podendo morrer se não injetar mais sangue em suas veias, a fim de alimentar o vírus. É assim que se inicia o ciclo vicioso dos vampiros: caçar para sustentar o vírus, sustentar o vírus para caçar.

Daquilo que vemos nas histórias de ficção, poucas coisas são reais a respeito das fraquezas dos vampiros. Na verdade, eles são muito mais poderosos e aterrorizantes do que as representações que encontramos nos livros e nos filmes.

A fraqueza mais importante de um vampiro, e que às vezes não é encarada como uma, é a sede de sangue. O vírus se alimenta do sangue do hospedeiro, como já disse, mas se esse sangue se acabar, o vírus morre, levando junto seu hospedeiro. É estritamente por esta razão que os vampiros buscam o sangue de outras pessoas: para poder repor o sangue que o vírus lhes consome.

A quantidade de sangue que o vírus consome por dia varia de acordo com o nível de avanço da infecção, podendo chegar a quase um litro. O vampiro que está recém infectado e cujo avanço do vírus é pouco precisará se alimentar de sangue humano ao menos uma vez na semana. Em contrapartida, um vampiro cuja infecção esteja avançada precisará alimentar-se todos os dias, às vezes mais de uma vez.

A afirmação de que os vampiros podem se alimentar de sangue animal, encontrada em algumas das histórias de ficção, é completamente falsa. O vírus só se alimenta de sangue humano, e é por esse motivo que animais não podem ser infectados por ele. Os efeitos do consumo de sangue animal por um vampiro são imediatos: enfraquecimento seguido de morte em poucos minutos. Não há outra saída a um vampiro senão consumir sangue de pessoas vivas, e para conseguir esse sangue eles cometem toda sorte de crimes e imoralidades.

Essa fraqueza pode ser explorada por um caçador que seja hábil e inteligente o suficiente para prender um vampiro numa armadilha ou encurralá-lo, fazendo-o perecer de fome. Quanto menos sangue o vampiro possuir em seu corpo, tanto menos força de combate terá. Dessa forma é possível lutar de igual para igual conta um deles, usando a inteligência para enfraquecê-lo primeiro.

Outra fraqueza real retratada nas histórias de ficção é a intolerância à luz do Sol. Na verdade, alguma coisa leva os vampiros a terem fraqueza conta qualquer irradiação intensa, mesmo a luz do fogo, de lanternas ou lâmpadas. Um flash de luz intensa pode cegar um vampiro por muito mais tempo do que um humano, além de lhe causar imensa dor em toda a pele exposta. A sensação é como que a de uma queimadura de segundo ou terceiro grau, além de enfraquecer-lhes por alguns minutos.

Saber explorar isso é obrigação de todo caçador que se preze. Em alguns dos diários que li havia relatos freqüentes do uso de luzes, flashes e explosões para cegar ou enfraquecer a criatura. Um dos caçadores, chamado Magno, usava isso em absolutamente todas as suas caçadas. Seu dispositivo emitia uma luz de flash, como o de uma câmera fotográfica, que simplesmente inutilizava o vampiro, restando ao caçador somente a tarefa de matá-lo. Foi dessa maneira que ele conseguiu matar sete deles num período de apenas quatro meses, e teria matado muito mais, não fosse uma emboscada que seus próprios colegas lhe armaram. Entregaram-no aos vampiros para que vingassem as mortes de seus semelhantes em troca de dinheiro e propriedades.

A luz intensa é o ponto mais temido por quem possui o vírus. Eles fogem da luz assim como o diabo foge da cruz. Isso também é utilizado como forma de tortura a fim de extrair informações importantes dos vampiros. A dor intensa e o medo da morte às vezes falam mais alto, até mesmo nessas criaturas vis.

Várias outras supostas fraquezas que os livros e filmes retratam não passam de mitos. A idéia de que o alho, por exemplo, pode repelir sua sede de sangue é algo infantil e até mesmo motivo de piada entre os caçadores. Nenhum caçador, por mais inexperiente que seja, acredita nisso. Outra história falsa é a de que vampiros tenham algum tipo de aversão a cruzes, imagens sacras, água benta e coisas do tipo. O Senhor Chesterton acredita muito no poder dos símbolos religiosos contra os vampiros, mas eu não. Na realidade não compreendo bem o porquê dessa crença dele, já que o vampirismo é causado por um vírus e, portanto, é algo puramente fisiológico. Não acredito que um crucifixo seja mais útil numa caçada do que uns dentes de alho.

O descontrole dos instintos também pode ser considerado um problema para os vampiros. O vírus ocasiona uns espécie de afloramento nos impulsos mais animalescos do hospedeiro, induzindo a ações estranhas ao comportamento humano. Um exemplo claro disso é a mordida vampírica. O vírus só consome o sangue que corre nas veias e artérias do corpo da pessoa, e é por isso que os vampiros devem injetar o sangue de suas vítimas em suas próprias veias. No entanto, o vampiro sente como que um impulso instintivo a ingerir o sangue da presa via oral, e para tanto morde regiões moles do corpo, tais como pulso e pescoço. Evidentemente, o sangue bebido não alimenta o vírus, já que não está na corrente sanguínea, mas proporciona ao vampiro uma indescritível sensação de prazer e relaxamento. Muitos vampiros bebem o sangue de suas vítimas depois de injetá-lo somente para satisfazer esse desejo.

Os vampiros que não querem ser descobertos precisam aprender a controlar bem seus instintos. Essa é uma tarefa muito mais difícil para eles do que para nós, por conta desse afloramento animalesco que os acomete. Isso também abre espaço para uma possível desvantagem a ser explorada: as iscas de armadilhas. Quando os vampiros estão com muita sede de sangue é possível usar esse desejo exacerbado contra eles mesmos, fazendo iscas e armadilhas para pegá-los vivos. No fim da história eles acabam como passarinhos presos em arapucas ou ratos em ratoeiras, tudo por conta da sede e do descontrole dos apetites.

O Vigésimo Primeiro VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora