Sobre o Vampirismo e Suas Vantagens

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Dentre as coisas que aprendi nesses seis meses de estudos com o senhor Chesterton, a mais importante delas foi a respeito das motivações que levam uma pessoa a buscar a infecção pelo vírus. O vampirismo é uma doença, mas uma doença que dá poderes sobre-humanos ao seu portador, e é por isso que tantos buscam a infecção; alguns querem usar esses poderes para conseguir dinheiro, outros para ter vantagens pessoais, longevidade, entre outras coisas. No fim da história, todos buscam o vírus para obter poder.

A principal vantagem obtida pelo portador do vampirismo é a força e resistência físicas sobre-humanas. Um vampiro pode exercer sozinho a força equivalente à de cinco ou dez homens, dependendo do nível de avanço da infecção. Arrombar portas e até levantar veículos se tornam tarefas relativamente fáceis de fazer. Essa é a vantagem mais popular e também a mais procurada pelas pessoas.

Um bom aperto de mão de um vampiro pode lhe quebrar todos os ossos na hora do cumprimento, um golpe servido pode causar hematomas graves, hemorragias ou até ferimentos piores. A força incrível de um vampiro ainda faz muitas pessoas cederem à tentação de infectar-se para terem os mesmos poderes.

Além da força, ainda há a resistência física elevada dos vampiros. Eles podem correr por léguas e léguas sem fatigarem-se, ou então permanecer acordados por dias a fio, sem pestanejar. Também são mais resistentes à sensação de fome e sede e ao frio intenso.

A longevidade é a segunda característica mais popular. Os vampiros têm o envelhecimento retardado por conta do vírus e as mutações que ele causa. Há muitas mulheres, inclusive artistas famosas, que buscam o vírus para demorarem a envelhecer. Um jovem de dezoito anos que seja infectado pelo vampirismo pode viver por séculos até envelhecer e morrer naturalmente. Os mais velhos dos vampiros chegaram a viver por mais de quatro séculos, e nenhum deles morreu de causas naturais. No entanto, um homem já velho que seja infectado não terá um efeito tão bom com relação à longevidade, pois seu corpo já se encontra em más condições, castigado pela idade avançada.

Outra modificação comum naqueles que portam o vírus do vampirismo é a que acontece na arcada dentária, mais especificamente nos caninos. Nisso as histórias de ficção acertam, mas não com precisão. Apesar da mutação ocorrer em especial nos caninos, toda a arcada dentária dos vampiros sofre alteração. Em alguns casos os vampiros adquirem mais dentes, que nascem em outras partes da gengiva, transformando-os em verdadeiros monstros de até quarenta dentes. Outros vampiros adquirem presas retráteis, similares às garras de um felino, que permanecem escondidas e podem se projetar para fora quando a criatura bem entender. Esses podem camuflar melhor as suas presas extras, enquanto os que possuem vários dentes sofrem para escondê-los. A razão de uns possuírem mais dentes e outros possuírem presas retráteis ainda é desconhecida.

O mesmo afiamento que acontece com os dentes também pode acontecer com as unhas das mãos e dos pés. Alguns vampiros podem desenvolver unhas similares a garras de animais, mais afiadas, firmes e resistentes do que as unhas humanas. Esconder essas garras pode ser uma tarefa bastante difícil, pois não há como escondê-las da mesma maneira que se faz com as presas retráteis.

Há quem considere as garras e as presas extras como desvantagens, já que podem facilitar a identificação de um vampiro em meio a outros humanos não infectados. Caçadores mais experientes usam dessas características para poder encontrar um vampiro mais facilmente, afinal não é normal possuir tantos dentes a mais ou garras no lugar de unhas.

Tanto as garras quanto as presas todas caem assim que o hospedeiro se enfraquece abatido de morte. O vírus precisa de um corpo vivo e saudável para poder se manter, caso contrário ele perece, na maioria das vezes levando junto o seu hospedeiro. A pessoa enfraquece e vai perdendo aos poucos os benefícios que o vírus proporcionava, voltando a ser um mero humano como qualquer outro. Por conta disso os exames em corpos de pessoas mortas são ineficientes para identificar se uma pessoa era ou não vampiro enquanto viva. Não há nenhum indício que permaneça no corpo de um morto que possa servir como evidência do vampirismo. Isso sempre ajudou a camuflar a existência do vírus às outras pessoas durante todo esse tempo. Até hoje a existência dos vampiros e do vampirismo é uma coisa sabida apenas por alguns.

Essas características de que falei são somente as mais comuns, pois há muitas outras que merecem menção. A respeito dessas, a ciência ainda não é exata, já que o vírus demonstra comportar-se de forma diversa em cada hospedeiro, ocasionando mutações das mais variadas.

Chesterton, certa feita, havia me falado sobre um vampiro que encontrara numa de suas primeiras caçadas e que possuía uma impressionante habilidade de paralisar suas presas com um simples olhar. É algo similar ao que vemos em algumas espécies de serpentes, tais como a naja, por exemplo, que hipnotiza suas presas antes de atacar. A presa ficava imóvel e paralisada pelo olhar ameaçador da criatura e não podia reagir de maneira alguma, o que transformava a caçada numa tarefa muito mais simples.

Mas não são todos que possuem essa estranha habilidade de petrificar com o olhar. Isso só foi encontrado em um espécime, segundo Chesterton. Seus antecessores escrevem em seus diários a respeito de seres com habilidade similar, que "paralisam pelo temor", o que indica que essa habilidade é algo que se encontra em pouquíssimos casos.

Outro poder que me deixou impressionado - e também muito assustado - foi a capacidade que alguns vampiros possuem de enxergar com relativa nitidez na escuridão. Essa habilidade parece ser mais recorrente do que as outras das quais ainda falarei, e também mais recorrente do que a habilidade de paralisar com o olhar. Quase todos os episódios de caçadas nos diários que li acontecem durante a noite, e a desvantagem de visão dos caçadores com relação aos vampiros é sempre mencionada. Não somente isso, mas todos os sentidos do corpo parecem ser ligeiramente mais aguçados em quem possui o vírus. Uma das dicas de ouro dadas por um antigo caçador de vampiros, chamado Gregorius, em seu diário, é a de não utilizar nenhum tipo de perfume ou carregar objetos de forte odor, pois os vampiros são ótimos farejadores e podem detectar o cheiro a longas distâncias.

É esse mesmo caçador que também fala a respeito de outra habilidade, que é a raríssima habilidade de ter a pele mais resistente. Ele relata uma caçada que terminara num completo fracasso por conta de uma habilidade extraordinária de um vampiro cuja pele era impenetrável. Nenhuma lâmina conseguia perfurá-lo e todos os esforços foram vãos. Dez baixas foram contadas naquela noite, diz Gregorius em seu diário. Na segunda tentativa usaram de outra estratégia para matar a criatura: afogaram-na numa armadilha de água muito exótica.

Chesterton por várias vezes comentou sobre certa criatura que desenvolvera a estranha capacidade de regeneração. Eu ainda tenho minhas dúvidas a respeito deste em especial, mas é pelo fato de não encontrar nenhum registro similar em outros escritos. Segundo ele, este podia regenerar ferimentos com absurda rapidez e até mesmo membros que fossem decepados. Ele mesmo houvera lhe cortado uma parte da mão direita que, dentro de algumas horas, tinha voltado ao normal, sem nem mesmo deixar cicatrizes.

São tantas as habilidades que sequer posso citar neste pequeno escrito. Ao menos as mais importantes estão aqui para apreciação e também a título de informação. Eu ainda tenho muito que estudar a respeito do vampirismo e seus efeitos no corpo do homem, mas receio que esta seja uma tarefa que levará décadas para ser concluída. Em apenas seis meses não é possível ter um panorama completo das mutações ocasionadas pelo vírus, muito menos das razões porque algumas delas acontecem com uns e não com outros. O mistério ainda é grande, mas a sede de saber o transcende.

O Vigésimo Primeiro VampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora