O viciado

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A sensação de prazer era completa. Seu corpo pairava no espaço em branco, proporcionando uma brisa leve a suave. Sabia que em alguns segundos seria atingido por um completo estado de euforia, bem estar, desinibição, loquacidade, liberação erótica e insônia. Nem ligava para a perda de apetite e já havia se esquecido do que era ter um septo nasal intacto pelos efeitos da droga.

O poder temporário que ganhava nas mãos dava a ele o direito de ser o melhor entre todos os outros da escola. Lógico que o corpo atlético, cheios de músculos tão gostosos, faziam com que as garotas quisessem mergulhar naquele mar de testosterona. Não somente garotas desejavam se perder naquela pele alva e máscula...

Benjamin, ou Ben, como era chamado, estava acostumado com a fama, poder e sexo fácil a qualquer hora do dia. Seu mundo perfeito a vistas alheias girava trezentos e sessenta e cinco graus todas as manhãs.

Por fora era equipado por calça jeans da moda propositalmente rasgada para proporcionar um ar bad boy, polos devidamente desenhadas por algum estilista gay europeu, sapatos tão caros quanto a conta do supermercado do mês de um Zé ninguém, cabelos loiros tão reluzentes quanto sua corrente de ouro e um Porsche 918 Spyder cinza chumbo, que chegava de 0 – 100km/h em 2,6 segundos, provando ser tão rápido quanto os orgasmos que o garanhão proporcionava todas as noites aos seus clientes. Com o uso cada vez mais repetido da cocaina, outros efeitos imediatos iam surgindo na vida daquele garoto: a agressividade já tomava proporções em sua rotina, a perda gradual do autocontrole aparecia em situações banais do cotidiano, a diminuição crescente da força de vontade de estudar e garantir seu futuro estavam ali rondando sua mente perturbada, mas um efeito possuia um poder dominante em Ben, que era a verdadeira obstinação para conseguir por todos os meios o pó, do qual não conseguia mais renunciar. O descontrole em saber onde e como obter a droga, sem a preocupação com as conseqüências que podiam advir, como o envolvimento pessoal ou da sua família, devido às relações com traficantes, despertaram nele uma maneira fácil de conseguir o que tanto desejava.

Seus pais lhe davam de tudo. Recebia uma mesada gorda por mês para fazer absolutamente nada e óbvio, gastava tudo que recebia com baladas, roupas e as drogas. Ao perceber que aquilo não lhe bastava mais para suprir seu vício, decidiu fazer sexo por dinheiro para evitar eventuais problemas com traficantes. Não queria depender do favor de ninguém nessa vida bandida.

A brincadeira era fácil e o garoto já a conhecia de cor; bastava perambular de madrugada pelas ruas de um bairro afastado ao seu, no lado oposto da cidade, para hora ou outra ser abordado por carros tão ou bem mais carros que seu Porsche. Os clientes eram os mais variados; iam desde dondocas tão velhas quanto o vaso chinês que sua mãe acreditava datar do século 18, até noivas desesperadas por uma despedida digna de solteira em orgia com suas madrinhas e, inclusive, homens mais velhos, provavelmente com a idade do matriarca da família dele.

A fissura pela droga era tanta, que nem ligou quando perdeu sua virgindade anal de quatro, espremido entre as paredes do lavabo de sua casa, para um velho sócio de seu pai. Aquele passou a ser cliente cativo, que oferecia ao garoto mais de mil dólares por noite de prazer intensa. Ben chamava ironicamente o senhor de Mr. Grey, fazendo alusão a personagem do livro "50 tons de cinza", já que o tarado pedófilo adorava praticar diversas coisas novas com ele.

Naquele fim de semana Ben iria faturar cinco mil dólares ao topar passar sábado e domingo servindo de boneco inflável ao velho em seu iate nos Hamptons. O único risco que correria seria encontrar seu pai fazendo o mesmo com algumas prostitutas, já que a família possuía casa de veraneio naquela área.

Tratou de dar mais uma cheirada no pozinho branco estirado em carreiras finas sobre a mesa de vidro do seu quarto e partiu ao encontro com Mr.Grey, mas não sem antes levar ao menos um pacote da droga em seu bolso.

Despediu-se se sua mãe com um beijo na testa, totalmente dopada pelo Valium que tomava escondida para suportar a pobre vida banal que se encontrava afundada. Montou em seu Porsche como um príncipe encantado e partiu a mais de 300 km/h rumo a praia, se despedindo assim de Nova Iorque.

Logo na primeira curva da rodovia, a sirene do carro de polícia atrás do seu alertava a merda que iria ou não destruir sua vida. Ben encostou seu "cavalo" e desceu imediatamente do carro com um sorriso encantador no rosto. A vibe da cocaína era tanta, que flertaria com o policial se fosse preciso.

Sem muita paciência, o guarda logo encostou com força o corpo do garoto contra o carro, que mantinha as mãos na cabeça, paciente. Passou a apalpar primeiros seus pés, subindo pela perna, a fim de procurar uma arma ou algo do gênero.

- Está armado garoto? – o policial questionou

- Se considerar meu pau ficando excitado com essa sua mão deslizando pelo meu corpo, sim, estou armado Sr. guarda! – merda, por que eu disse isso? Eu to muito chapado!

Ganhara um olho roxo por isso após o homem lhe socar a cara insolente. Seu corpo foi posto contra o asfalto e algemado em seguida.

Ainda no solo quente e áspero, queimando sem piedade sua pele macia, o policial continuou a fazer a revista. Foi aí que Ben se ligou da merda que havia acabado de acontecer na sua confotável e viciante vida:

A porra da cocaína! – lamentou mentalmente pela droga recém encontrada em seu bolso. 

WallFlowers - Newtmas FicOnde histórias criam vida. Descubra agora