Quebrando as Regras [RASCUNHO]

Capítulo III

Era para eu ter me acostumado com a presença de Tomas, mas o que sinto com ele por perto são medo e aflição. O porquê eu não sei, porém sei que essa sensação é horrível. Ainda mais quando meus olhos se encontram com os dele, me causando, também, constrangimento; e posso dizer que também não tenho conhecimento sobre isso.

Parado, ainda, no mesmo lugar, Tomas desloca seu olha sobre mim para algo além de nós – eu e os outros guardas – e abre a boca, finalmente:

— Recebemos uma mensagem da Divisão B e nela dizia que eles darão três meses para nós nos prepararmos porque, antes de tudo, eles não são covardes.

Suspiro aliviada, essa foi a primeira notícia boa que recebi hoje. Para ser mais exata, essa foi a primeira notícia boa que recebi desde que cheguei aqui. Tomas balança a cabeça e se vai para além de nós, e Taylor toma seu lugar.

— Bem, vocês ouviram Tomas e agora sabem que temos três meses para treinar, mas isso não quer dizer que vocês podem relaxar — disse ele — Na aula de hoje vocês aprenderão, ou tentarão aprender, luta corpo-a-corpo. Sigam-me.

Taylor nos leva para uma sala separada, passando pela lateral da Área de Treinamento, onde posso ver alguns grupos de guardas atirando em alguns robôs. Jack está entre eles e quando me vê, dá um aceno com a cabeça e abre um sorriso que acabo retribuindo.

Sinto a fila parar bruscamente e vejo Taylor abrindo uma porta isolada e instalada em uma parte do longo muro. Ao abri-la por completo, Taylor encosta-se à lateral da porta e libera a passagem de seus alunos. Como eu era uma das últimas da fila, acabei por esperar uns 2 minutos até todos se organizarem.

Ao passar pela porta, percebo que a sala é bem iluminada e tem cheiro de limpeza, para minha felicidade. A sala é, mais ou menos, um cúbico cinza recheado de sacos-de-areia e manequins e um tatame no centro. Taylor sobe no tatame e nós o rodeamos, em seguida.

— Começarei com alguns socos e quero que os gravem em suas cabeças — ordena ele, começando a balançar seus braços no ar ao sentir seus punhos bem firmes. Um de seus antebraços está tampando o rosto e o outro desferindo socos no ar.

Já havia aprendido maior parte dos golpes, então libero pensamentos preocupantes na minha mente: como está Angelina e Melissa? Será que sentem minha falta tanto quanto eu sinto a delas? E se não, por quê? E sobre Tomas, o que tenho que atraio sua atenção?

— Agora que aprenderam alguns golpes de socos e defesa, vamos aos chutes — disse Taylor, despertando-me de meus pensamentos. — É sempre importante dar chutes altos e rápidos, assim poderá atingir qualquer ponto franco do seu adversário.

Taylor começa a dar chutes na altura da cabeça e só agora me dou conta que estou sendo treinada por um profissional e que ele, provavelmente, lutou na guerra passada. Sua habilidade e rapidez ao reproduzir um chute são, sem dúvidas, as melhores que já vi. Eu quero ser tão boa quanto ele.

— Acho que está bom por aqui — fala Taylor — Reproduzem o que aprenderam nos manequins. Fiquem tranquilos, se eu ver qualquer erro irei interrompê-lo e mostrar-lhe o certo.

Nos direcionamos para as paredes, onde há manequins encostados. Todos eles são da cor bege e alguns estão amassados e sujos. O meu está com muitas manchas de sujeiras e com um buraco no peito esquerdo, onde seria o coração. Kara, que está a minha direita, começa a dar socos na altura do peitoral de seu manequim, mas em nenhum momento ele se move. Me divirto com a fraqueza da garota e dou um soco no meu manequim, porém ele também não se move. Nem chega a tremer!

Me recuso a acreditar que também sou fraca. Olho para o garoto do outro lado da sala e ele quase perfura o rosto de seu manequim com seus punhos. Era ele quem ficava conversando à noite, na hora de dormir e pelo o que ouvi, seu nome é Mark. Ele é um homem grande e assustador, eu, particularmente, teria medo em ficar sozinha em um lugar fechado com ele.