O Doce Lado do Mal

Compromisso

Olho ao redor, admirado com a nova forma como enxergo as coisas. Até que lembro que tenho que ter foco. Tenho que achar Naomi. Me levantei, e logo tive que me sentar, parecia que uma mão enorme havia pousado em minha cabeça.

Descanse. Eu irei até você.

Era a voz de Naomi. Em minha cabeça. O que estava acontecendo? Enquanto ela falou, senti sua presença em mim. Mas logo ela se foi. Senti-la assim era muito bom. Era como se ela me acalmasse, senti algo que acho que é o que chamam "paz de espírito". Poderia eu fazer o mesmo? Fazê-la me sentir assim? E quando ela iria vir?

Logo depois, a porta se abriu, e ela entrou.

Não tenho palavras para a visão que tive. Se antes ela era maravilhosa, agora ela estava a vários níveis acima disso, mesmo tão simples.

Sua pele, apenas um pouco mais branca que a minha, tinha uma aura poderosa, olha-la dava arrepios e cócegas em minhas entranhas. Ela parecia feita de cristal, em sua superfície pequenas partículas de luz retiniam suavemente, era lindo de se ver. Seus olhos estavam aparentando cansaço, mas ao mesmo tempo estavam mais vívidos do que nunca. Suas bochechas estavam levemente coradas, o que acentuava sua beleza. Seus cabelos estavam bem alinhados, perfeitos como sempre, e deles vinha um leve cheiro de... Mel? Sim, um cheiro doce de mel com uma nota de hortelã... Incrível. Ela usava um vestido branco, e um cachecol vermelho, o que destacava suas bochechas coradas.

Percebi que um dos cheiros que eu havia sentido e não identificado, era o dela. Era um almíscar de frescor e doçura como nunca havia sentido. Era inebriante e profundamente viciante.

Ela olhou para mim por um bom tempo, até esboçar um sorriso.

- Bem, ao que parece você melhorou mais do que pensei. Eu nunca pensei que seu cheiro poderia ficar melhor do que já era. Sentirei falta do antigo, mas esse é ainda melhor. Ah, não precisa ficar se farejando. Por um tempo, você não conseguirá sentir seu próprio cheiro. Bem, há muitas coisas que você conseguirá e também que não conseguirá fazer agora. Mas não se preocupe, eu irei lhe explicar tudo.

- Bem, eu gostaria de saber antes de mais nada o que aconteceu comigo...

Ela se sentou em minha cama. A mesma boca pequena que me encantou pela sua delicadeza agora me mostrava que tinha algo a mais ali. Quando ela sorria, seus lábios agora se curvavam em um sorriso com uma malícia escondida de um modo perturbador. Percebi que se eu focasse muito naquilo iria enlouquecer.

-Primeiro, você consegue se lembrar de tudo o que aconteceu naquele dia?

- Bem, sim.

Ela me olhou impressionada.

- Sim? Tem certeza disso?

Fiz um esforço. Lembrava-me de tudo sim. Cada palavra, cada detalhe dela se transformando, cada palavra que ela me disse. Tudo estava vívido em minha mente.

- Sim. Me lembro de tudo.

Ela ficou séria. Olhava para mim, mas parecia que olhava para além de mim, para algo dentro de mim. Se é que isso fosse possível.
Espere... Isso não era possível, não é mesmo? Ela não podia olhar para dentro de meu ser, não é? E se pudesse, o quanto de mim ela veria? Comecei a ficar corado de vergonha com a ideia de ela descobrir meus pensamentos e sentimentos por ela. Não era algo a que estava acostumado. Geralmente as meninas que sentiam algo por mim, e eu não sentia nada, ela foi a primeira por quem senti algo, e se ela conseguisse ver esse algo?