Suspirando

32 1 0
                                    

O calor me sufocava. Mas tudo estava melhor com Naomi ao seu lado. Ainda sentia seu doce perfume, com a leve brisa que entrava naquele lugar. A cerimônia já havia a muito começado. Mas eu não lembrava nem da metade. Senti-la perto de mim era tão bom. Comecei a relembrar do que conversamos à caminho da escola.

Depois de algum tempo caminhando em um silêncio constrangedor, resolvi me arriscar a falar algo.

-Seu nome é...?

-Akemi Naomi.

-Prazer, Riki Hayato.

-Muito obrigada, Hayato, por me mostrar o caminho.*

-Não é nada demais. Já que estou indo para lá também, por que não ajudar? Aliás, de onde vc veio, Naomi?

-De uma pequena cidade lá no interior.

-Ah sim. Entendo então o porque de você estar perdida.

Ela consentiu e olhou para a frente, e o vento balançou de leve seus cabelos. Era grandes, lisos e cacheados nas pontas. Ela era tão perfeita que parecia de outro mundo. Conversando, descobri que seus pais tinham dado ela à adoção quando ela tinha apenas seis anos. Não se lembrava muito deles. Morou numa pequena fazenda que fornecia leite e ovos para uma cidade próxima. Mas, depois que sua mãe adotiva teve que largar os negócios, elas se mudaram para nossa cidade.

-Você vai gostar bastante dessa cidade. É bem agradável.

Ela olhou para o céu e suspirou.

-Eu sei que vou.

-Se quiser posso mostrá-la a você mais tarde.

-Não precisa. Terei compromissos.

-Então algum outro dia?

Ela suspirou novamente.

-Sim, algum outro dia talvez.

O resto da caminhada foi em silêncio. Ao lado dela sentia uma sensação muito boa. Algo que não sentia a muito, muito tempo.

Voltando a cabeça na cerimônia, vi agora o diretor da escola dando as boas vindas aos alunos, depois de ter terminado a longa lista de regras da escola. Todos os alunos estavam de pés e alinhados. Fora o diretor, o silêncio era geral. E então, ouvi levemente um suspiro. Ela volta e meia soltava um suspiro. Eu imaginava que era alguma forma de relaxar, ou alguma mania dela.

Depois de algum tempo, o diretor finalmente cortou a fita inaugural de um novo ano que se começa, e todos soltaram um grito de alegria. Menos Naomi. Ela apenas se contentou em dar um pequeno sorriso para o céu.

Um amigo meu, Ren veio ao meu encontro.

-Riki, a quanto tempo, onde você se meteu durante as férias?

Depois de um abraço apertado, expliquei que estivera em uma pequena viajem com minha mãe, que é arqueóloga, e me levou em uma pequena expedição à oeste das montanhas.

-Vida boa hein. Agora isso vai ter fim, haha. Espere pra ver se não.

-Han? Do que está falando Ren?

-Ora, a não ser que em dois meses você deixou sua timidez, agora o seu inferno vai começar. As meninas novas que entraram esse ano já repararam em você.

-Como assim?

-Ora, Riki, assim que você entrou pelo portão elas te olharam avidamente como olhariam para um chocolate. E em seguidas ouvi comentários sobre sua beleza, e elas decidiram que uma delas até o final desse ano seria sua na-mo-ra-da.

Sentia-me tonto. Isso não podia estar acontecendo de novo.

-Buraco - disse, colocando as mãos na cabeça para ver se a tontura passava.

-O que?

-Preciso de um buraco para me esconder.

-Hahaha não seja assim, Riki. Encare isso como um novo desafio para melhorar e se superar.

Várias recordações passaram em minha cabeça. Começaria de novo a perseguição no caso das doentias, que me seguiam pra tudo quanto é lado. As declarações de amor que me escreviam quase todas as noites para me entregar pela manhã. As mais loucas que corriam atrás de mim quando eu fugia pelos pátios, e ficava a gritar meu nome. Eu não aguentaria isso. Não mais. Tinha que tomar uma medida séria.

-Isso vai mudar, a partir de hoje - eu disse em tom determinado.

Ren me olhou estranho, mas não parei e continuei caminhando decididamente até minha sala. Tinha que pensar num jeito de as garotas pararem com isso. Quando arranjei uma cadeira para sentar, vi Naomi entrando na sala, e sentando ao lado da janela.

Uma sensação de alegria me invadiu.

O Doce Lado do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora