Vamos tentar escapar

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– Pense nos vaga-lumes, por exemplo. Tente imaginar sua beleza, a evanescente beleza de suas vidas, que nem sequer dura uma semana. Pirilampos femininos piscam apenas para terem relações sexuais com os do sexo masculino; machos brilham apenas para terem relações sexuais com as fêmeas. E uma vez que seu acasalamento termina, eles morrem. Em suma, o instinto reprodutivo é a razão, única e absoluta dos vaga-lumes viverem. E nesse instinto simples e em seu mundo simples, nenhum tipo de tristeza pode intervir. Este é precisamente o motivo dos vaga-lumes serem tão fugazmente bonitos. Ah! Os vaga-lumes são os melhores! Em contraste, por favor, considere a espécie humana agora. Você vai encontrar uma sociedade extremamente complexa diante de você.

– Acho que Freud afirmou algo como 'Os seres humanos são criaturas com instintos reprimidos'. Sempre que vou lidar com qualquer tipo de raiva, frustração ou tristeza na vida, não posso evitar lembrar-me dessas palavras.

– Os conceitos modernos, como 'amor' e 'romance' são criações do homem, esta criatura com instintos reprimidos, e que oculta sua natureza original. Todas essas criações são, de fato, mentiras. Para encobrir o engano, a humanidade cria ainda mais conceitos totalmente novos. É por isso que o mundo se torna cada vez mais complexo a cada novo dia. No entanto, essa complexidade não pode esconder as várias contradições nascidas a partir de nossos instintos reprimidos. Eles criam, irremediavelmente, fundamentos opostos: palavras e instinto, as ideias e as razões físicas, individualidade e o desejo sexual. Estes conceitos opostos são como duas serpentes que mordem a cauda uma da outra. As duas serpentes estão constantemente envolvidas em uma batalha feroz de superioridade, dando voltas e voltas, causando mais e mais dor. Você entende? Entende o que eu estou explicando? Entende o significado de tudo isso? Bem, tudo bem. O que estou tentando dizer é...

Eu joguei meu travesseiro em Dinah.

– Cale-se! Droga!

Dinah, sentada em cima do sofá, inclinou seu corpo para trás para desviar do travesseiro e continuou calmamente o seu discurso.

– Devido a nossos instintos reprimidos, sofremos. Continuamos na dor, porque os nossos instintos foram distorcidos pela razão. Então, o que devemos fazer? Devemos abandonar o conhecimento? Jogar fora a razão? Em qualquer caso, isso não seria possível. Para melhor ou pior, nós comemos o fruto do conhecimento há muito, muito tempo atrás. Isto estava escrito no panfleto religioso 'Desperte!' que eu peguei da mulher que veio mais cedo.

– O quê? Que diabos você está pensando, me acordando às duas horas da manhã, iniciando um discurso excessivamente obscuro e bebendo no meu quarto?

– A nossa razão e instinto estão em oposição, mas não podemos nos livrar de nenhum. Então, o que vamos fazer? Comprometermo-nos e começar a sair com homens? Casar e tentar ter filhos? Afinal, Isto é, o caminho convencional. No entanto, eu descobri... Homens... Essas coisas simplesmente nojentas. Em vez disso, eles podem, de fato, ser algum tipo de monstro. Cerca de um ano atrás, eu percebi a verdade. Enquanto eu estava trabalhando em uma loja de conveniência para pagar minhas aulas, todo tipo de coisa aconteceu. São memórias realmente terríveis, e eu não quero pensar sobre elas nunca mais.

Dito tudo isso em um só fôlego, Dinah pegou uma segunda cerveja da minha geladeira.

Antes que eu pudesse impedi-la, ela abriu a tampa e tomou em um gole só.

De repente, ela gritou:

– Os homens são uma porcaria! Que se danem!

O rosto dela ficou assustadoramente vermelho. Ela já parecia estar bêbada. Ela ficou bêbada muito rápido e ainda continuou a beber o tempo todo. Uma vez, perguntei se ela era uma alcoólica sem se dar conta; então, ela me explicou:

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