O encontro

163 10 3
                                    

Devido à confrontação de ontem, minha depressão era mais grave e profunda que a fossa das marianas. Apesar de tudo, eu continuava vivendo.

Pela primeira vez em meses, me aventurei do lado de fora, na luz do dia, e me dirigi a uma cidade cheia de vida. Era um ato valente e heroico, que realmente merecia uma chuva de aplausos de todo o mundo. Queria abraçar a mim mesma.

Mas tudo isso foi em vão. Tudo o que restava era a desesperança. Não posso continuar assim...

Ao voltar ao meu apartamento, me enterrei em minha própria escuridão e comecei a beber para esquecer os pensamentos desagradáveis. Sentada, no sofá, tentei gritar: "Cerveja! Traga-me mais cerveja!". Mas não era nada mais que uma frase vazia, falada a mim mesma, e na noite escura, nessa habitação pequena, ela ecoou em lúgubre miséria.

Várias latas vazias de cerveja estavam rolando por cima do sofá. As canções de anime a todo volume na habitação ao lado incrementavam minha moléstia e me faziam beber mais álcool.

Minha cabeça doía e eu estava ficando tonta.

Só um pouco mais... Esquecerei de tudo com um pouco mais...

Naquela manhã, tendo me recuperado do clima ruim do dia anterior, eu tinha me decidido que iria escapar de minha vida de exclusão o mais rápido possível. Foi então que me ocorreu uma ideia: Arrumarei um trabalho de meio período.

Por que não? Se não podia começar uma carreira, podia começar um trabalho de meio período. Se eu fizer isso, meu estado mudaria de "hikikomori" para "freeter". Ambos os termos se aplicam a alguém inútil, mas freeter soa muito mais saudável que hikikomori. Assim decidi encontrar um trabalho de meio período imediatamente. Dirigi-me à loja de conveniência e comprei uma revista de informações sobre empregos de meio período.

Caminhando rapidamente para casa, comecei a folheá-la avidamente.

Qual? Qual trabalho será melhor?

Descartei a ideia de um trabalho pesado. Afinal, não iria querer nada que fosse me deixar cansada. Além disso, a ideia de trabalhar em uma loja de conveniência me fez recuar também. De jeito nenhum que eu poderia me qualificar em um trabalho de servir clientes.

Continuei lendo e então... Oh!

Manga-café, 700 yens por hora.

Não havia erro: esse trabalho era perfeito! Não poderia haver muitos clientes em uma pequena cafeteria na cidade, e, além disso, quando estivesse entediada, eu poderia ler um mangá no caixa. Com isso em mente, escrevi um currículo e triunfantemente saí de meu apartamento.

O mangá-café ficava em frente da estação de metrô, atrás de um McDonald's. Fui até lá, caminhando lenta e pesadamente através da zona residencial em um fresco dia de abril. E enquanto eu caminhava pela cidade de dia pela primeira vez em vários meses, "eles" interferiram de novo. Os agentes de interferência da N.H.K zombavam de mim cruelmente enquanto eu caminhava, meus ombros caídos, arrastando-me pela beira da calçada.

Essas eram terríveis medidas de interferência.

– Olhe aquilo! Qual o problema dela saindo assim, olha essas roupas!

– É uma hikikomori desempregada. A pior classe.

– Deveria voltar ao seu apartamento. A cidade não tem lugar para gente como você.

As donas de casa, garotas do colegial, e mulheres mais velhas que passavam, todas murmuravam essas coisas cada vez que passavam por mim. Fiquei mais branca que o normal.

Oh, eu quero ir para casa.

Eu queria voltar para o meu pouco iluminado e confortável apartamento pequeno, afundar na minha cama quentinha, fechar meus olhos e não ter que pensar em nada. Mas eu não podia. Isso não seria nada bom. Afinal de contas, se eu fizesse isso, cairia ainda mais em seu controle.

ConspiracyOnde histórias criam vida. Descubra agora