Capitulo 31 - "Eu não gosto de chorar."

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Hospital, 18h00...

Yato

Assim que chegamos ao hospital acabaram por levar a Hiyori para uma sala qualquer e trataram da sua ferida grave.

"Ela está muito mal?" A Kofuku gritou no corredor do hospital assim que chegou. "Ainda não sabemos... E também não podemos perguntar a nenhum médico porque aqui ninguém nos vê." Relembrei e o Daikoku (que tinha vindo com a Kofuku) suspirou.

"Não é ela que vem ali naquela maca?" O Yukine apontou para longe e virei-me de imediato para confirmar. Era mesmo ela! Estava meia sonolenta, mas não haviam duvidas de que era ela!

Corri atrás da enfermeira que guiava a maca até a um quarto do hospital. Espera, afinal aquilo não era uma maca, mas sim uma cama de hospital daquelas com rodas. Interessante.

"Hiyori!" Chamei enquanto corria. Assim que a alcancei pequei num banco que havia no quarto e coloquei-o ao lado da cama dela, acabando por pegar numa das suas mãos. A pele dela estava pálida e ela não parecia nada bem...

"Hiyori!" A mãe dela chamou enquanto entrava no quarto a correr, pegando na outra mão da Hiyori. "Tem calma, querida. Ela vai ficar bem, só precisa de descansar um pouco. É só isso." O pai da Hiyori também se juntou a nós na sala. Ainda bem que eles não me conseguem ver nem a mim nem ao resto do pessoal.

"Ouviste, Yato? Ela vai ficar bem!" O Yukine disse com um sorriso rasgado e ouvi a Kofuku e o Daikoku suspirarem de alívio ao mesmo tempo. "Sim, são boas noticias... Mas não me consigo deixar de culpar pelo que lhe aconteceu..." Acabei por dizer e a Kofuku desviou o olhar.

"Mas ninguém podia prever que ela iria fazer uma coisas destas! Ela simplesmente sacrificou-se, fez o que uma pessoa normal não faria. Por isso é normal que não estivéssemos a contar com isto!" O Yukine tentou animar-me e acabei por concordar com ele mentalmente.

"O Yukine tem razão, a Hiyori nunca tinha feito uma coisa destas... Nem tu, nem ninguém seria capaz de prever isto..." O Daikoku apoiou o Yukine e deitei a cabeça sobre uma das pontas da cama da Hiyori.

"Talvez vocês tenham razão... Obrigado, pessoal." Acabei por agradecer e consegui ver o sorriso que surgiu no rosto da Kofuku.

Acabei por ter de sair do hospital para ir deixar o bebé em casa da sua mãe assim que as nossas horas a tomar conta dele chegaram ao fim. Este sim, foi um trabalho muito estranho... Tudo poderia ter corrido bem, mas do nada a nossa tarde minimamente calma com um bebé transformou-se num completo pandemónio.

Quando voltei ao hospital a Kofuku pediu-me para ir para casa com ela e com o Daikoku, para descansar, mas mesmo assim quis ficar com a Hiyori no hospital. Já sabia que era provável que ela não acordasse já hoje, mas independentemente disso, queria ficar perto dela o mais possível.

Os 3 (Yukine, Daikoku e Kofuku) acabaram por desistir de me tentar convencer a ir para casa e foram para casa, deixando-me assim a sós com a Hiyori. Com o chegar da noite, os pais dela também tiveram que ir embora, pois o horário de visitas tinha chegado ao fim. A Hiyori ficava mesmo bonita a dormir, mesmo continuando um pouco pálida.

Abandonei o quarto de hospital mais uma vez para ir buscar qualquer coisa para comer, comprando assim uma sandes e um sumo numa máquina de comida plástica. Eu sei que isto faz mal, mas é mesmo bom...

Assim que voltei ao quarto vi que os olhos da Hiyori estavam ligeiramente abertos, enquanto ela olhava para o tecto. Pousei de imediato a minha comida em cima da mesinha-de-cabeceira e voltei a sentar-me no banco junto à sua cama, olhando atentamente para a rapariga que acabava de acordar.

"Hiyori?" Chamei baixo e ela piscou os olhos, desviando-os de seguida para mim. "Estás a ouvir-me?" Perguntei para ter a certeza de que ela não estava a sonhar acordada ou algo do tipo.

"Sim..." Ela respondeu-me com uma voz baixa e rouca. Mesmo assim, sabia tão bem voltar a ouvir a voz dela! "Como te sentes?" Perguntei ainda baixo, para ir com calma. "Enjoada..." Ela disse e suspirou, voltando a olhar para o tecto. Não acredito que isto estava mesmo a acontecer, ela estava a acordar! Já me sentia mais aliviado...

"Não devias ter feito aquilo que fizeste..." Reclamei baixo e ela voltou a olhar para mim. "O quê? Não devia ter ajudado os meus amigos?" Ela reclamou, pelos vistos já tinha bastante força para uma discução, mesmo tendo acabado de acordar.

"Tu sabes bem o que eu quero dizer..." Tentei manter a calma através de um tom de voz baixo. "E tu também sabes bem porque o fiz..." Ela retrocou e mordi o lábio. "Não, sinceramente não sei. A única coisa que sei é que o que fizeste foi simplesmente estúpido." Continuei a nossa pequena e ao mesmo tempo grande discução.

"Não é estúpido! Tu sabes que eu não sei lutar, por isso não tinha outra forma de vos poder ajudar!" O tom de voz dela começou a subir e saiu trémulo, ela ia chorar? Como não tinha a certeza preferi ficar calado.

"Tu és um Deus muito forte e és capaz de proteger aqueles de quem gostas, por isso não compreendes como esta situação é frustrante. Não conseguires proteger aqueles que amas é a pior sensação de sempre!" Ela disse e tapou os olhos com as mãos. Afinal eu estava certo, ela ia mesmo chorar.

"Calma, calma..." Acabei por dizer enquanto ela tentava não soluçar, embora não estivesse a conseguir. Acabei por fazer festas nos seus braços enquanto mexia no seu cabelo e ela chorava mais. Mas quando tentei tirar as mãos que cobriam os seus olhos ela não deixou.

"O que foi?" Perguntei quando ela ofereceu resistência. "Eu não gosto de chorar." Ela informou e acabei por suspirar... Às vezes ela é mesmo estranha... Quer dizer, eu sei que chorar é uma coisa má e de que ninguém gosta, mas mesmo assim, ela sabe que já não é a primeira vez que eu a vejo chorar, por isso não percebo qual é o problema... Mas tudo bem, ela é que sabe...

"Para de chorar, já passou..." Acabei por dizer ao final de algum tempo e voltei a tentar tirar as mãos dela do seu rosto, mas mais uma vez ela ofereceu resistência. Voltei a insistir e desta vez ela não fez nada, parando assim de soluçar e deixando-me afastar as suas mãos.

Assim, foram revelados dois olhos molhados e vermelhos devido ao choro. Também as bochechas dela estavam ligeiramente coradas, o que a deixava fofa, mesmo depois de ter chorado.

Acabamos por ficar algum tempo a olhar um para o outro, provavelmente tempo demais, porque quando dei por nós, estávamos ambos perdidos no olhar um do outro. Dirigi a minha mão mais uma vez para o seu rosto e fiquei a fazer festinhas numa das suas bochechas, até que ela fechou um pouco os olhos e corou mais.

Acabei por me inclinar para baixo e vi-a fechar os olhos assim que os meus lábios tocaram nos dela pela terceira vez, iniciando assim um beijo pequeno e calmo. Senti a sua mão envolver a minha nuca e apertar ligeiramente os meus cabelos, puxando-me um pouco para baixo a fim de aprofundar o beijo.

Obedeci quase instantaneamente ao pedido dela e acabei por levar a mão que me restava até à sua outra mão, entrelaçando os meus dedos nos dela.

Ao final de alguns segundos afastei os meus lábios dos dela e limitei-me a encostar a minha testa na dela enquanto respirava baixo. Os seus olhos voltaram a abrir e ela corou mais um pouco, o que me fez sorrir. Ela consegue ser mesmo fofa...

Ela voltou a fechar os olhos e mexeu-se de forma ensonada, por isso levantei a cabeça. A Hiyori virou-se de lado na cama e aconchegou-se como se fosse dormir, o que me deixou confuso. Ela não queria falar sobre o nosso terceiro beijo? Talvez o queira esquecer...

A verdade é que não percebo porque a beijei. Nem desta vez, nem das duas outras vezes... Talvez eu goste dela, mas não tenho nenhuma certeza disso... É um sentimento estranho, mas espero que mais tarde ou mais cedo eu seja capaz de o entender.

Voltei a pegar na comida que tinha deixado na mesinha-de-cabeceira e comecei a comer outra vez, enquanto via a Hiyori dormir calmamente. Estávamos ambos a agir como se nada tivesse acontecido...

Noragami - Férias de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora