Capitulo 37 - "Eu preciso da Hiyori."

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Casa da Hiyori, 7h20...

Hiyori

Acordei com o meu despertador a tocar e gemi, desligando-o e esfregando os olhos. Os mesmos doíam por ontem ter estado a chorar, embora ainda não me lembrasse da razão pela qual o fazia...

Levantei-me da cama e fui para o quarto-de-banho, ligando o chuveiro e pegando no uniforme da escola. As férias de Natal tinham acabado à muito pouco tempo e eu já queria mais férias...

Depois do banho sequei o meu cabelo com o secador, descendo até ao andar de baixo para tomar o pequeno almoço, por alguma razão tinha a sensação de que já não tinha uma vida normal à bastante tempo.

"Bom dia." A minha mãe sorriu-me assim que entrei na cozinha. "Bom dia." Retribui e o meu pai também entrou na divisão.

Tomamos o pequeno-almoço calmamente e depois disso saí de casa para ir para a escola. "Hiyori!" Ouvi a Ami chamar-me e olhei em frente, encontrando-a a ela e à Yama à minha espera, no final da rua.

Por alguma razão, havia um rapaz loiro na rua que olhava para mim de forma triste. Com ele também estava um rapaz de cabelos azuis escuros, mas este olhava para o chão. Pergunto-me se estaria tudo bem com eles...

Casa da Kofuku e do Daikoku, 7h45...

Yato

Acordei com o meu telemóvel a tocar debaixo dos lençóis da cama. "Fala o Deus Yato." Disse com uma voz ensonada assim que atendi a chamada. "Bom dia! Por favor, será que poderia vir hoje limpar a minha casa, por favor?" Um cliente disse do outro lado e fiquei sentado sobre os lençóis enquanto esfregava os olhos.

"Sim, com certeza... Eu já vou para aí..." Informei e desliguei a chamada. Gatinhei até ao colchão do Yukine para o acordar mas vi que ele estava a dormir sobre um caderno com vários desenhos. Lembro-me de ter desenhado nele a nossa história com a Hiyori desde que a conhecemos, quando a Nora e o Rabo lhe roubaram as memórias acerca de nós.

Os olhos do Yukine estavam vermelhos e ainda tinham lágrimas nos seus cantos, pelos vistos ele tinha ficado a chorar até tarde...

Peguei no caderno e fechei-o, colocando-o no chão e mexendo no corpo mole do Yukine. "Acorda, temos um trabalho." Disse baixo e ele mexeu-se sobre o seu colchão no chão.

O mesmo abriu os olhos ao final de algum tempo e fez uma cara deprimida, procurando o caderno dos desenhos. Assim que o encontrou voltou a pegar nele e olhou para mim, desta vez não tinha aquele olhar odioso de ontem. Agora olhava para mim de forma triste e desiludida.

"Não há mesmo nada que possamos fazer para ficar com ela?" Ele perguntou, referindo-se à Hiyori e à nossa situação com ela. "Não... Lamento." Disse e ele olhou outra vez para o caderno, pousando-o por fim no chão.

Levantei-me da minha cama e vesti a minha roupa habitual, assim como o Yukine, que escolheu o seu casaco verde. Depois de nos arranjarmos, descemos até ao andar de baixo para tomarmos o pequeno almoço e vi que a Kofuku tinha ficado a dormir na sala.

Provavelmente ela também tinha ficado a chorar até tarde, e por isso tinha adormecido ali mesmo...

Entramos na cozinha e o Daikoku já andava a cozinhar umas coisas para o pequeno-almoço enquanto fumava. Eu e o Yukine limitamo-nos a comer pão com fiambre e sumo de laranja.

"Vamos para um trabalho." Informei o Daikoku e o mesmo acentiu. Começava a sentir dores vindas das costas, ainda por causa da raiva do Yukine de ontem. Mas estava tudo controlado, agora que ele estava mais calmo bastava-me passar água benta nas manchas que tinha ganho e pronto.

"Então até logo, voltamos à hora de almoço." Informei e acenei ao Daikoku. "Tudo bem, bom trabalho." O mesmo disse e também nos acenou. Teletransportei-me a mim e ao Yukine até à rua onde era a casa do cliente, reconhecendo assim aquela paisagem.

"Yato..." O Yukine chamou-me e puxou levemente o meu casaco, para eu olhar para ele. Vi-o a apontar para uma rapariga que estava na mesma rua e que passava perto de nós. A mesma ficou a olhar para a cara surpreendida do Yukine e eu limitei-me a desviar o olhar enquanto a via passar e seguir em frente com a sua vida.

"Hiyori!" Ouvi uma outra voz chamar pela rapariga por quem me tinha apaixonado. A Hiyori começou a correr logo a seguir e foi-se afastando enquanto o Yukine continuava a olhar para ela com os olhos arregalados.

"Vamos andando, Yukine..." Disse mas o mesmo não reagiu, por isso acabei por ter de o arrastar dali para fora.

Assim que chegamos a casa do cliente ele pediu-nos para limpar toda a casa e começamos a trabalhar, mas a motivação era pouca, depois de termos vistos a Hiyori. Ela nem sequer nos tinha dirigido a palavra, mesmo depois de olhar para nós...

Será que ela já se tinha esquecido de nós? Conhecendo-a bem, ela seria capaz de se esquecer de nós só para eu não ter que cortar os laços com ela. Se ela se esquecer, então eu não o tenho de fazer, porque vai dar à mesma coisa.

Agora ela está a seguir a vida dela normalmente, com as amigas dela e com a sua família. Ela vai continuar a crescer, vai arranjar um emprego, conhecer o rapaz ideal e casar-se. Vai ter filhos, vai envelhecer e cuidar dos seus netos.

A vida dela vai continuar enquanto nós a vemos avançar sem nós. Eu deveria estar feliz por isso. Deveria estar feliz por ela poder seguir em frente com a vida dela.

Mas não estou.

Eu não quero que ela continue a crescer, não sem nós, nem quero que ela arranje um emprego. Quero que o rapaz ideal dela seja eu, e quero que ela se case comigo. Quero ser o pai dos filhos dela, quero que ela envelheça comigo e que cuide dos meus netos. Dos nossos netos.

Sinto-me egoísta por só pensar em mim, mas não consigo evitar. Eu quero-a. Quero-a para mim. Não quero que ela avance sem mim e sem os outros. Eu iria fazer qualquer coisa para a ter comigo. Qualquer coisa.

Mas é impossível. Não há nada que eu possa fazer para que ela fique comigo e com o resto do pessoal.

A vida dela vai continuar, e, de certa forma, a nossa também.

Agora perdi o meu único seguidor, que era ela... O que me vai acontecer? Vou ser esquecido? Vou voltar a ter que depender do meu pai e da Nora? Vou ter que deixar a Kofuku, o Daikoku e o Yukine?

Não. Eu não quero isso. Eu preciso da Hiyori. Sem ela, tudo se desconcerta e eu fico dependente da vida que tinha antes.

Já não é apenas uma questão de querer. Eu preciso da Hiyori.

Noragami - Férias de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora