Antes mesmo de conseguir ver o carro já tínhamos ouvido o típico som que ele faz quando é destravado. O CrossFox amarelo brilhava estacionado em baixo de um poste de luz na calçada. Me sentei no banco de trás com Cassey no carona e Liv na direção. Foram longos minutos de silêncio até chegarmos na rodovia e Cassey ter a grande idéia de ligar o som.
– Se liga, fiz uma playlist pra nossa noite. Começaremos com um clássico... – Ela apertou o play – Mamonas Assasinas Baby!
– Tenho que dizer Cassey – comecei entre o som de trompetas – Eu admiro muito sua animação. – disse rindo – Me diz por que diabos pelados em santos entrou na sua lista?
Ela cantou junto com a música fazendo um sinal de espera com o dedo.
– ... Minha brasília amarela. – ela cantou mais alto. – Porque o carro é amarelo, sacou?
– Genial. – disse sarcástica e soltei um sorriso relutante.
– Bem criativo. – Liv comentou.
Em circunstancias normais Liv me apoiaria e ainda ia acrescentar um comentário sarcástico ou irônico pra desbancar Cassey, o que resultaria em mais uma discussão básica entre as duas.
– Ok, tem alguma coisa errada aqui. Primeiro Liv está usando um vestido. Depois ela elogia a Cassey? – perguntei olhando de uma para a outra – Dá pra alguém me dizer o que está acontecendo?
– Relaxa aí e curte a música Heliodoro. Tudo tem seu tempo. – Cassey não olhou pra mim quando falou, ela cruzou as mãos atrás de pescoço seguiu cantando a música.
– Eu não estou gostando disso... – apoiei meu rosto nas mãos e fiquei olhando pela janela – Posso pelo menos saber onde é essa festa?
– Festa número um – Disse Liv com entonação de apresentador de Talk Show – É trazida para você pelos senhores Rocha.
– Também conhecidos como senhores criadores da menina garota mais egocêntrica do teatro inteiro, Angélica. – completou Cassey.
Arregalei os olhos e esperei por um anuncio de que era mentira.
– Vocês não podem estar falando sério.
– Oh sim, nós estamos.
– Mas... A gente não gosta dela. – disse confusa.
– Não, – liv fez uma curva fechada e me fez segurar na poltrona – Mas gostamos de open bar.
– Ela não vai ficar feliz em nós ver... – Alertei
– Bom, eu nunca fico feliz em ver ela então não faz diferença. – Cassey falou.
Depois de cinco músicas paramos em frente a um enorme portão de ferro com câmeras de seguranças na parede. Fiquei logo atrás das minhas amigas meio encolhida torcendo pra não ser Angélica quem fica vigiando os convidados pelas câmeras. Foi Liv que apertou o interfone, o portão se abriu só o suficiente para o rosto de um homem negro e careca aparecer e poder nos olhar.
– Boa noite. – disse ele com uma voz grave.
Liv deu um passo pra trás quase tropeçando em mim.
– Boa noite. – Disse Cassey – Somo amigas da Angélica, estamos aqui pra festa...
– Nomes. – ele mandou
– Hãm... somos do teatro. Eu aposto que ela não teve tempo de colocar o nome de todo mundo na lista...
O homem passou os olhos pela prancheta em sua mão, passou a folha e disse:
– Só tenho nomes aqui. – disse ele começando a fechar o portão
Percebi que minha amigas pareciam perdidas, elas não pensaram que podia ter uma lista de convidados. Elas já tinham se dado por vencidas e deram alguns passos em direção ao carro quando eu falei:
– Pode procurar por Alice?
O homem me olhou de cima a baixo e fez o que eu pedi.
– Alice Heliodoro? – perguntou
– Sou eu. Elas estão comigo. – apontei pras duas.
O homem acenou com a cabeça para alguém lá dentro e os portões se abriram. Um garoto que parecia ter treze anos pediu para que o acompanhasse
– Eu pensei que a festa ia ser na casa da Angélica. – Liv falou em tom de pergunta.
– Todo o condomínio pertence à família dela. – eu disse
Cassey assoviou.
– Se acha que isso e muito, esperem até ver a festa. – Disse o menino.
Chegamos a um corredor estreito mal iluminado com escadas que desciam até uma pequena porta cinza.
– Ok, isso é estranho. – Disse Cassey – Se morrermos aqui eu quero que vocês saibam que eu – ela colocou as mãos nos meus ombros – Sempre amei o Johnny Depp.
– Tenho certeza que ele sabe da sua existência – Liv disse sarcástica
– Bom, pelo menos uma coisa voltou ao normal...
Quando a porta foi aberta todo o som que estava sendo abafado se rompeu de uma vez, luzes coloridas piscavam em todos os cantos, muita gente dançava na pista de dança com os braços erguidos a mando do DJ.
–Alice, não é? – disse o menino – Bem vinda ao país das maravilhas.>e%
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Operação primeiro beijo
JugendliteraturNa pequena cidade onde mora Alice Heliodoro, as peças de teatro são muito bem-vindas entre os moradores. Quando a peça mais aguardada do ano é passada para a aspirante de direção Dóris, ela começa a inovar nas produções para superar o idolatrado dir...