Capítulo cinco

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         Mesmo estudando medicina eu não tinha muito contato com os médicos do hospital, sempre que eles me viam pronta pra começar um turno eles se limitavam a revirar os olhos e me passavam para qualquer enfermeiro que estivesse de plantão, tipo uma batata quente. Ainda assim eu não me importo, qualquer coisa era melhor do que ficar sem fazer nada, principalmente hoje que de acordo com todas as mensagens que Cassey tinha me enviado era O Dia.

Comecei o meu turno às duas da tarde, a enfermeira Miriam foi à privilegiada a me acolher em suas asas. Ela nunca foi do tipo que fala muito, na verdade ela só dava ordens e estava claro que seu objetivo não era fazer amigos e sim cuidar das pessoas. Miriam era a única pessoa em todo o hospital que me deixava intimidava de verdade, até os médicos mais experientes sentiam o mesmo.

– Vai até o trezentos e três tirar a pressão do paciente. – Ela ordenou sem nem mesmo tirar os olhos da prancheta.

– Eu já tirei, está normal. O doutor Magalhões pediu pra deixar o paciente em observação durante a noite.

Ela murmurou algo como "típico" e continuou escrevendo. Eu tentei manter uma atitude profissional e ignorar a curiosidade crescente sobre o que ela estava escrevendo, só percebi que tinha perdido quando quase cai sobre a ponta dos pés. Ela percebeu e me encarou com curiosidade segurando a prancheta contra o peito. Dei um sorriso sem graça.

– Eu conheço você. – Miriam apontou a caneta no meu rosto.

– Hum, é... Eu sou sua estagiaria. – disse incerta – Eu sou voluntária à quase um ano... – a expressão dela continuava a mesma – A gente almoçou juntas na semana passada.

– Não, não é isso. – Ela mordeu a tampa da caneta ainda me observando. Voltou os olhos pra prancheta e sem olhar pra mim de novo disse: – Vai até o duzentos e quatro e tire uma amostra. – Ela pegou um potinho que estava em cima do balcão e me entregou.

– Sangue? – eu li no rótulo do pote – Você quer uma amostra de sangue?

– Algum problema? – ela me encarou sem paciência.

Sim.

– Não. – eu respondi.

Ficamos nós encarando por vários segundos. Miriam me olhou de cima a baixo e eu não me mexi.

– Vai! – ela ordenou.

– Certo. O sangue... – eu gaguejei e finalmente sai do lugar.

Desci de elevador e parei no andar mais rápido do que gostaria. Andando até o quarto eu tentava me lembrar dos passos para tirar o sangue de alguém. Eu contava nos dedos a ordem correta e não tinha acabado quando cheguei em frente a porta.

– Que ótimo... Tudo bem, eu consigo. – Respirei fundo bati na porta e abri. – Olá, meu nome é Alice e eu vou – comecei meu diálogo devidamente ensaiado e parei quando vejo quem está sentada na cadeira.

– Cassey? Que droga você está fazendo aqui?

– Por que você não atende o celular? – ela rebateu.

– Porque eu estou trabalhando. Por que... Como... – muitas perguntas surgiram na minha cabeça, decidi começar pela mais intrigante. – Por que você está vestida desse jeito?

Me referi ao jaleco branco idêntico ao meu que ela usava por cima da calça jeans. Até os seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.

Operação primeiro beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora