Capítulo 3 - Um Gato Rajado

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Acabara de sair da terceira aula, foi Literatura. Eu achei bem interessante em como as matérias daqui são totalmente diferentes das do Brasil. Aqui não tem Português, o que é óbvio. Para esse tipo de matéria, aqui se da o nome de Inglês é claro.
Andei pelo corredor indo para o refeitório, e vi que vinha alguém em minha direção, desejando que essa pessoa não fizesse nenhum tipo de brincadeira de mau gosto com o calouro, que sou eu, continuei andando sem olhar quem era que vinha.
- Ei, novato! - exclamou a voz, era feminina. Eu continuei andando até que uma mão segurou em meu antebraço direito.
- Parece que está fugindo de alguém. Está?
Eu me virei e vi que era a loira. Meu coração parou. Eu acho. Tudo o que vi foi ela fazendo uma cara de confusa, então tomei coragem e resolvi falar algo.
- É... Hã... Não. Eu não estou fugindo, é que eu... Eu não te escutei. - menti.
- Ah sim. Bom, meu nome é Samantha. Mas pode me chamar de Sam. Eu sou do comitê de boas vindas, praticamente isso... Enfim. Você deve ser o Lucas... - ela procurou algo em seu bolso e então tirou um papel e continuou. - ...Lucas Malthes.
- Sim, sou.
Tentei sorrir e deu certo, ela sorriu de volta.
- Vamos, eu vou te mostrar o Colégio.
Eu estava me dando bem em encontrar as coisas naquele Colégio sozinho. Apesar de algumas dificuldades com a escrita em inglês, eu era bem fluente. Concordei com ela, afinal, eu não poderia negar que a garota linda, Samantha, me convidasse para andar com ela. Era o trabalho dela, mas pra mim era uma grande chance. Eu só não sabia do que.
- Aqui é o refeitório, como pode ver. E você provavelmente já sabia, já que estava vindo para cá.
Eu a olhei ainda sorrindo, mexi no cabelo meio desconfortável me lembrando de que a estava ignorando alguns minutos atrás.
- Eu estava com fome. - disse e nós continuamos a andar.
- Não se preocupe, a gente faz um tour rapidinho, e se não der tempo de ver tudo eu te mostro o resto amanhã. Vai dar tempo de você comer antes de começar as aulas do último tempo.
Ela sorriu e eu agradeci por ela ser do comitê de boas vindas ou algo assim. É claro que eu não me importava se demorassemos juntos, eu queria mesmo passar aquele tempo com ela.
O tempo voou e faltava muito ainda para vermos. Estávamos no ginásio de esportes do Colégio, eu estava olhando os jogadores de futebol que estavam jogando ali. Provavelmente por diversão. Ela me olhou e pelo canto de olho eu notei que ela sorria para mim mesmo sem eu estar vendo, ou era o que ela pensou. Me virei para ela e então estávamos os dois sorrindo. Um encarando o outro. Ficamos assim, em silêncio, por uns três minutos eu acho. O sinal tocou e então o silêncio entre nós foi quebrado.
- Droga, não deu tempo de ver tudo e nem de você comer.
Eu não estava com fome de verdade, disse aquilo como desculpa para ela.
- Tudo bem, eu não estou com tanta fome assim.
Ela continuava sorrindo, as minhas bochechas estavam meio doloridas e eu parei de sorrir franzindo o cenho e mexendo elas, e ela deu risada.
- De qualquer forma, pegue. Não vai matar a sua fome mas já é alguma coisa.
Ela estava me dando uma barra de cereal com cobertura de chocolate. Meu estômago realmente roncou nessa hora, ela deu mais uma risada ouvindo minha barriga. Peguei a barra e vi ela dar tchau e se afastar indo para fora do ginásio. Eu sorri a olhando ir, abri a embalagem da barrinha e comecei a comer.
Eu fiquei o resto das aulas pensando na Sam. Ela era linda, muito linda. Será que eu estava mesmo apaixonado por ela? Mas eu afugentei esses pensamentos, porque era impossível eu estar apaixonado por uma garota que eu acabara de conhecer.

O fim das aulas chegou, eu estava em frente ao Colégio, no estacionamento, esperando meu pai. De repente recebi um SMS no celular, era meu pai dizendo que foi comprar algo com minha mãe e que iria demorar um pouco para chegar. Revirei os olhos com a notícia e bufei colocando o celular no bolso. Poxa, ele não podia me pegar primeiro?
Fui até um banco e me sentei.
- Oi, Lucas.
Disse a voz mais bela de se ouvir para mim, sorri sabendo que era Samantha.
- Oi, Sam!
Ela sorriu de volta.
- Está esperando carona ou vai de ônibus?
- Estou esperando meu pai, mas ele vai demorar.
Falei um pouco chateado.
- Ele se incomodaria se você fosse de ônibus? Eu falo pro motorista parar no seu bairro.
Ela foi muito gentil, eu concordei e fomos até o ônibus que já estava esperando pelos alunos. Mandei um SMS pro meu pai dizendo que eu iria de ônibus.
Descobri que Sam morava sim no mesmo bairro que o meu. Então ela não precisou avisar o motorista, pois pararíamos no mesmo ponto. Nos sentamos lado a lado no ônibus, ela me falava sobre seu cachorro, que se chamava Manusa. Era da raça Labrador, e ela levava a cachorra para passear todos os fins de semana. Eu contei a ela que já tive um porquinho da Índia, ou Hamster como era chamado aqui. E que ele foi comido pela fera maldosa e sem coração da vizinha, é claro que eu não disse assim. Tive que chamar o monstro de gato.
Não demorou muito para que chegássemos no nosso bairro, chamado Willow Mardeid. Eu e ela descemos do ônibus conversando sobre gostos e tínhamos muitos em comum. Caminhamos mais alguns passos juntos e na despedida ela me deu um beijo no rosto.
- Te vejo amanhã, Lucas. Ainda precisamos terminar o Tour pelo Colégio Ripercify.
Ela deu ênfase no final da frase quando falava o nome do Colégio. Nos despedimos e fui para casa.

Já estava anoitecendo quando meus pais finalmente chegaram. Então quer dizer que se eu os tivesse esperado no Colégio eu ainda estaria lá.
- Luquinha! Venha, venha. Temos um presente para você!
Gritou minha mãe, eu desci as escadas um pouco animado, mas não porque eu ganharia um presente, bom, isso também. Mas eu estava mesmo animado por causa da Sam.
Quando cheguei no fim da escada, minha mãe colocava uma caixa cinza no chão, a caixa tinha alguns furos na tampa, fiquei curioso. Teriam comprado um Hamster novo pra mim? Mas não. Não foi um Hamster que eu vi quando ela abriu a caixa. Não. Era sério isso? Um monstro, um gato, saltou da caixa miando e ronronando, ele se sentou no chão e ficou lambendo a pata toda rajada.
- Ele não é lindo querido? Que nome vai por nele?
Eu fiquei em silêncio. Não podia acreditar, minha feição foi de indignação no momento. Meu pai chegara atrás de minha mãe e ele viu o meu rosto.
- Eu falei que ele não iria gostar. A ideia foi de sua mãe, filhão.
Logo disparou ele. Ela o olhou com a cara de brava e depois deu um sorriso para mim.
- Ora querido, você não gostou dele? Olha só. Ele é tão lindo! Eu não pude resistir em não adotá-lo para você.
Olhei o gato que agora me encarava, o felino soltou um miado fino e manhoso e veio em minha direção tão rápido que não pude recuar. Ele logo estava se esfregando entre minhas pernas, miando e ronronando. Eu confesso que tive vontade de chutá-lo para longe, mas não o fiz. Porque eu teria remorso logo depois. Eu era incapaz de machucar uma criatura viva. A não ser se fosse o monstro da antiga vizinha.
- Fale alguma coisa, Filho.
Minha mãe agora tinha o semblante de preocupação.
- Hã... Eu go... Gostei. Quer dizer, pelo menos não é o gato da vizinha.
Meu pai deu uma gargalhada que me tirou arrepios.
- Viu, Carlos. Ele não odiou como você disse.
Falou ela e depois sorriu. Olhou para mim e disse:
- Vamos, dê um nome a ele.
Eu pensei, enquanto o Gato Rajado ainda estava se esfregando em minhas pernas. Afinal, não era tão ruim ter um gato. Ele poderia ajudar com as pragas domésticas, o que eu odiava. E também, um gato é um bom companheiro. Ele não é sujo e toma banho diariamente. Mesmo que seja com a própria língua, mas não era ruim. Pensei em um nome, enquanto fitava o gato. Que nome eu daria para Um Gato Rajado? Pensei muito até que disse:
- Damon.
Meus pais se entre-olharam e depois olharam para mim.
- Damon? - disseram em coro.
- É, Damon. É o nome de um personagem de uma série que eu assisto.
Vi eles relaxarem o rosto.
- Ah.
Disseram outra vez em coro.
Me abaixei para ver melhor o gato, e eu percebi que combinava o nome com ele. Ele tinha o mesmo olhar penetrante de Damon Salvatore, de The Vampire Diaries. O que mudava era a cor. Os de Damon da série eram azuis, os de Damon, o gato, eram verdes. Mas a feição de um predador cruel eram as mesmas. Mas logo isso mudou quando o gato esfregou a cabeça na minha mão. Ele era fofo, eu tinha que admitir. Sorri para o gato e então comecei a subir as escadas.
- Vou fazer o jantar, arrume as coisas para o gato, lave as mãos e desça em meia hora, tá Luquinha?
Concordei com a cabeça enquanto subia. Olhei para trás na escada e o gato estava me olhando do final dela, como se esperasse meu comando.
- Vamos, Damon.
E o Gato Rajado subiu os degraus atrás de mim como se já soubesse o seu nome, como se não precisasse de tempo para ele se acostumar com o nome. Como se aquele nome, fosse o nome real dele.

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