Capítulo 6 - Se Readaptando

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No início do dia, o celular já despertava, eu não queria levantar da cama, muito menos ir pro colégio. Por mim eu nunca mais dava as caras por lá. O colégio inteiro iria rir da minha cara roxa, e de quebra eu teria que ver Sam...antha com aquele idiota metido a valentão. Não fazia nem uma semana que eu entrei na escola e eu já ficaria mal falado. Arrg, que ódio. Ainda era Quinta, então eu teria dois dias de aula. Nada de pressão.
Me levanto na segunda vez que minha mãe chama, e me visto totalmente sem vontade, o que resulta num visual caidinho. Coloco um boné na cabeça com a aba bem próxima das sobrancelhas, na tentativa de esconder um pouco o rosto roxo. Pego minha mochila e desço as escadas sem ânimo algum. Enquanto descia lentamente, vejo pela janela que até o dia parecia triste junto comigo. Pois o céu estava nublado sem nenhum rastro do sol.

- Lucas, tá tudo bem? - pergunta meu pai ao me ver parado na escada encarando a janela.

- Ahm... Sim. Tá tudo... bem. - respondo tentando passar entusiasmo sem sucesso.

Meu irmão, Leo vem descendo atrás de mim e antes que eu pudesse apressar o passo, ele passa seu braço em volta do meu pescoço e começa a falar.

- Não se preocupa, papai, eu vou levar ele pra sair hoje a noite. Ele tá precisando conhecer a cidade.

- Oi? - pergunto descrente do que ele acabou de falar. Me levar pra sair hoje de noite? Era mesmo o Leo, meu irmão mala, falando?

- Isso ai, pirralho. - terminou ele, me soltando e me dando um tapinha na cabeça.

Fiquei curioso com a situação do Leo. Por que ele me levaria pra sair sem eu pedir? Ele nem devia se importar comigo. De qualquer forma, eu tinha coisas mais importantes a pensar. Como em um jeito de ignorar as possíveis brincadeiras que as pessoas farão quando eu pisar na escola. Lugar para o qual eu já estava indo, dentro do carro do papai, ele estava olhando pelo retrovisor enquanto tirava o carro da garagem.

- Pode falar agora, filhão. O que houve na escola? É a garota? - pergunta ele já com o carro na rua.

- Só... Só dirige, pai. E não fala mais dessa garota. - ordeno como se eu fosse o mais velho ali.

Meu pai não disse mais nada, apenas dirigiu até o colégio, e me deixou de frente ao estacionamento. Desci do carro com vontade de pedir a ele que me levasse a qualquer lugar, mas que não me deixasse ali. Caminhei de cabeça baixa, puxando o boné mais para baixo com a aba. E foi quando esbarrei em algo. Na verdade, alguém. Eu levantei o rosto e vi que era Jack. Meu estômago gelou. Como se eu acabasse de sentir os socos dele, meu rosto ardeu. O olhei com uma cara de medo e ele notou. Mas apenas franziu o cenho.

- Toma mais cuidado. - disse ele sem tirar o olhar de mim.

- T-ta, desculpa. - segurei na alça da minha mochila no ombro, e fui caminhando. Mas então ele disse:

- Espera... Ei, você!

Eu parei e ele correu até mim. Parou em minha frente e me olhou com o rosto sério, mas logo puxou seu lábio no canto dando um leve sorriso.

- Desculpa. Sabe, por ontem... Eu tive ciúmes. Mas a Sam me falou que vocês são amigos e que ela só iria te mostrar um bom lugar para se comer. - ele parecia tão simpático e não o cara idiota que foi ontem. - Se quiser, pode vir hoje a noite com a gente. Na Starchute, uma lanchonete bem maneira na cidade. Vamos Sam, Jase e eu. Você vem?

Minha vontade era dizer sim, não sei por que. Mas eu não podia. Uma que eu não podia olhar na cara da Sam, e outra que eu sairia com Leo.

- Eu não posso - disse. - Vou sair essa noite com meu irmão.

Arrumei a alça da bolsa no ombro e o olhei seriamente. Ele contraiu o rosto como em decepção. Mas logo deu um sorriso.

- Está bem, então a gente se vê. - então ele foi saindo, me deixando lá processando os últimos acontecimentos.

Meu cérebro parecia querer dar um nó. E pior ficou quando eu vi a Sam na entrada do colégio. Ela me olhou também, mas eu desviei o olhar e fui andando, passando por ela sem olhá-la ou falar com a mesma. Apenas entrei no prédio e fui direto pro meu armário, fiz a senha do cadeado e abri ele, recuperando a respiração. Não acredito que eu estava agindo assim por ela. Aquela garota. Mas eu, sinceramente, não conseguia tirar ela da cabeça. O pior é que agora eu sabia que ela tem um namorado, e então de um jeito ou outro eu terei que esquecer ela. E ignorá-la pode ser o jeito.
Suspiro e pego o livro da primeira aula, Inglês. Fecho o armário e quando me viro vejo Jase parado do outro lado do corredor me encarando. Levanto uma sobrancelha e então ele desvia o olhar. Percebi que ele ficou envergonhado, me pergunto pelo quê. Mas não o olho mais, apenas sigo o caminho da sala de aula.

Na sala havia poucas pessoas, mas mesmo assim fiquei envergonhado. Fui direto para a última carteira e me sentei, jogando a mochila sobre minha cabeça e ficando debruçado na carteira. Alguns segundos depois, alguém puxa a mochila da minha cabeça, eu não queria olhar, mas a pessoa também puxou meus braços até eu levantar a cabeça. Era Samantha.

- O que você quer? - pergunto seco, desviando o olhar dela rapidamente.

- Qual é Luke, você vai ficar assim até quando? - ela me encara e mesmo eu não a olhando diretamente, percebo seu olhar triste. - Me desculpe se eu não te contei que eu namorava, mas eu não achei que precisasse... A gente era só amigos. Não éramos?

Olho para ela agora, com um olhar cínico. - Qual é Samantha, é claro... Mas eu não achei que valeu a pena eu ter apanhado por sua causa. Se tivesse dito que tinha namorado, eu não te chamaria pra sair!

- Luke, por favor, não faz isso. Me desculpa ter acabado com suas esperanças.

- Esperanças? Eu não... - mas antes de eu terminar, o sinal tocou logo que o professor entrou pedindo que todos se sentassem.

Samantha continuou me olhando e logo se dirigiu pra sua carteira, aparentando tristeza. Mas eu estava mais triste. Eu tivera meu coração partido, então ganhei. Olho para o professor de história e fico prestando atenção nele começando a aula e na lousa. O tempo todo durante a aula eu ficava olhando pra Sam, ela sentava na fileira ao lado e a duas carteiras a frente, ela talvez não percebesse meus olhares sobre ela, mas as vezes ela também virava o rosto e me encarava. Eu fingia que não via e olhava para uma direção diferente. A quem eu estava enganando? Eu ainda gostava dela, e muito.

O sinal pra troca de aulas soou, me levantei rapidamente e sai da sala indo para o corredor dos armários, mas ao virar a esquina do corredor, dou de cara com Jase. Bato contra seu corpo alto e atlético, e o meu sendo magro e frágil, é o suficiente para eu cair. As pessoas ao redor começam a rir de mim. Droga, era só o que me faltava. E o Jase me olhava com um olhar sério e nessa hora eu estremeci.

Gato RajadoOnde histórias criam vida. Descubra agora