Jack me segura pela camisa me fazendo levantar da cadeira. A nossa volta uma roda de adolescentes curiosos se formavam. Samantha estava falando algo, tentando parar Jack, mas eu não conseguia entender nada. Eu estava completamente em choque. Olho para Jack e vejo a fúria em seus olhos. "Meu Deus, eu vou morrer hoje?" penso. Minha cara já foi ficando branca quando eu consegui ouvir os outros gritarem briga repetidamente feito carniceiros. Que ódio desses idiotas, eu nuca havia brigado antes e certamente eu iria ser espancado por esse cara.
Jack empurra Sam e me ataca com um soco que acerta a minha maçã do rosto, fico tonto e sinto o local ficar bem quente e começar a arder. Jack me dá outro soco, agora no estômago. Sinto a dor imensa, a vontade de vomitar e a falta de ar.- Por favor Jack, para! - Samantha grita e o empurra, mas ele não dá atenção e volta a me segurar de novo.
Eu não sabia o que fazer, não sabia como me defender. Mas antes de um outro soco vir a me acertar, alguém segura o braço dele. Era o garoto "misterioso", o mesmo puxa o braço dele para longe e o encara com o rosto sério, fico olhando para ele.- Chega Jack! Você tá louco? Quer ser expulso do colégio?
- Qual é Jase, ele tá dando em cima da minha namorada. Eu não vou deixar barato.- Ele não estava dando em cima de mim, Jack. - explica Samantha. - Ele só me chamou pra gente comer algo, porque somos amigos. E só isso.
Olho assustado para ela. Fico perplexo com o que ela falou. Meu coração acaba de ser partido, pisoteado e feito em mil pedaços. Ai que dor horrível. Sinto vontade de chorar, mas faço um grande esforço e saio dali correndo, passando por entre as pessoas. Vou para o banheiro, entro em uma cabine e tranco. Me sento sobre a tampa do vaso e trago os joelhos para perto do rosto. O mesmo ainda ardia, enfio a cara no meio das pernas e começo a chorar silenciosamente. Tudo o que eu tinha passado nos últimos dias, não valeram a pena. Eu acabo de me apaixonar pela primeira vez e acabo de ter o coração partido pela primeira vez também. A sensação era muito ruim. Junte vinte socos no estômago mais trinta na cara e a dor não chegaria nem perto do que eu sentia no peito. A mágoa, a angústia, a raiva... A desilusão. Eu só queria me enfiar em um voo agora mesmo direto para o Brasil. Não consigo parar de chorar então não vou para aula. Fico no banheiro por quase uma hora. Decido sair e vou até a pia lavar o rosto, vejo no espelho que minha bochecha estava ficando roxa. Doía muito agora. Fico mexendo no hematoma da minha maçã do rosto quando a porta do banheiro se abre. Era Jase, o garoto misterioso. Meu coração acelera, ele veio terminar o trabalho do amigo?
Jase usa um mictório e logo vem até a pia lavar a mão, fico o observando de canto de olho com o coração a mil. Qual é, ele iria me pegar de surpresa?- Tá bem feio isso aí. Você devia por gelo. - ele fala tranquilamente.
O olho agora virando o rosto, ele também me olhava. De repente ele da um passo e eu recuo com receio.
- Calma, não vou te machucar.
Vejo ele dar risada e fecho a cara abaixando o rosto. Jase sai do banheiro e consigo respirar normalmente. A vontade de chorar volta.
- Você é um fraco, um maldito fracote que não sabe brigar, só apanhar! Seu mariquinha! - digo pra mim mesmo olhando meu reflexo no espelho. A raiva me faz querer chorar mais ainda. Me agacho no canto e começo a chorar de novo. A porta se abre mais uma vez, engulo o choro imediatamente e vejo que era o Jase de novo. Fico observando ele, o mesmo me olhava, dava para ver o olhar de pena dele sobre mim. Desvio o olhar com raiva.
- Aqui, toma. Gelo. - diz ele me estendendo um pano embolado com gelo dentro. Olho e fico surpreso mas não pego, viro a cara de novo. Ele insiste mais. Continuo o ignorando, mas ele se abaixa e segura meu braço o puxando, ele coloca o pano com gelo na minha mão e faz eu levar a mão até o rosto, encostando de vagar.
- Viu, não custa nada.
Fico só observando tudo aquilo. O que acabou de acontecer? Logo Jase se levanta e sorri, depois ele sai do banheiro. Com sua ausência, fico intrigado. Esse garoto, ele me surpreendia a cada momento. Uma hora estava falando mal de mim, outra me ajudando. O que ele queria?
Já dava o horário da saída, me levanto e vou para fora do banheiro. Pego minha mochila na sala para ir embora, por sorte o professor já havia saído, assim como os outros alunos. Mas alguém entra atrás de mim, era Samantha.
- Oh meu Deus, Lucas. Eu sinto muito, eu não queria que ele fizesse isso. Você está bem?
- Ótimo. - digo secamente, pego minha mochila e passo por ela saindo da sala, mas ela vem atrás.
- Ei, me desculpa pelo Jack, ele é ciumento. Eu só não pensei que ele faria isso. Eu não devia ter contado que sairíamos. Mas agora tá tudo bem, eu já expliquei pra ele. A gente pode ir agora.
- Ir aonde?
- Não íamos sair? - ela faz uma cara de confusa. Que cínica.
- Sério? Diz pro seu namorado que ele pode ficar tranquilo, a partir de hoje eu fico bem longe de você. - saio andando de pressa.
- O que? Lucas, espera. Como assim?
Ignoro ela a deixando para trás, vou para casa a pé. Me perco algumas vezes, mas consigo achar o caminho por lembrar por onde o ônibus ou o papai passava quando me levava e buscava. Chego em casa e vou direto pro quarto sem falar com ninguém, Damon estava sobre minha cama. Me jogo nela e ele se deita sobre meu peito. Fico o olhando.
- Eu me odeio - digo ao gato. O mesmo solta um miado em resposta, rio fraco mas sinto dor e então fecho os olhos.
Minha mãe entra no quarto e vê meu rosto roxo.
- Lucas, o que foi isso? Você está bem? Arrumou briga no colégio?
- Não mãe, eu bati numa placa. Eu vim a pé pra casa... - digo sem olhar para ela.
- Hum... - ela me olha com desconfiança. - Tome mais cuidado querido. E por que não esperou seu pai ir te buscar? Você poderia ter se perdido. Sabe que é perigoso, ainda mais que você não conhece muito bem aqui. Poderia ter sido assaltado ou coisa assim.
- Tá bom mãe, eu vou ter mais cuidado da próxima vez. - resmungo.
- Não vai haver uma próxima vez, você trate de esperar seu pai ou se não quiser pegue o ônibus escolar. Não me faça ficar preocupada Luquinha, está entendido?
- Beleza. Mãe. Eu. Entendi! - fico irritado - agora me deixa em paz.
- Tudo bem... Se quiser conversar sobre algo. Qualquer coisa. Eu estarei aqui.
Ela sai do quarto e fecha a porta. Depois disso eu fico acariciando Damon e acabo adormecendo.
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Gato Rajado
RandomEssa é uma história de descobertas e aventuras intensas, que transformam a vida de Lucas, um garoto que acaba de completar 16 anos e se muda com sua família do Brasil para Ripercify, uma cidadezinha fria em Washington, nos Estados Unidos. Lucas ganh...