Capítulo II

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P.O.V. Maya Ford

- E cinco, seis, sete, oito... - Ouvi Daisy, minha amiga e coreógrafa falar pela milionésima vez no dia. Repetindo os passos da coreografia que abriria os shows da turnê. Tinha que sair perfeita, já que o início eram apenas algumas batidas e a coreografia. Eu não cantava nessa parte, então os olhares de todo mundo estavam em mim e nas minhas dançarinas. - Maya. - Continuei tentando colocar todos os passos no ritmo, mas Daisy continuava me chamando. - Maya. Maya. - Ela se virou para os outros dançarinos. - Ok, pessoal. Uma pausa de 5 minutinhos, que tal?
Deitei no chão da sala, enquanto tentava fazer com que a minha respiração voltasse ao normal, e Daisy sentou do meu lado. - O que aconteceu? - Ela disse, enquanto me dava uma garrafinha de água.
Não respondi.
- Brigou com o Justin. De novo. É sempre assim. Você briga com esse garoto e os dias seguintes de ensaios e estúdio nunca dão certo. O mesmo motivo de todas as brigas anteriores?
Assenti, enquanto me sentava e abria a garrafinha d'água.
- Sim. - Nós ficamos em silêncio por poucos segundos, e achei que seria melhor falar. - Ele ainda cisma com toda essa história de turnê. E eu meio que fico com um pé atrás por causa de toda essa coisa de faculdade de Engenharia que ele tanto fala que vai fazer. - Virei metade da garrafa.
- Ai, Maya. - Daisy disse, arrumando o boné sobre os cabelos castanhos. - Eu não sei o que te dizer.
Suspirei.
- Olha... Eu meio que entendo o quanto tudo isso de Engenharia é importante para ele e para a família dele. Mas ele não consegue entender que eu tenho os meus fãs, que há pessoas lá fora e que eu não posso decepcioná-las de jeito nenhum. Ele não consegue entender que, se ele errar, as pessoas vão compreender e ele vai poder contornar a situação. Mas se eu errar, vai todo mundo apontar para mim, falar uma meia dúzia de coisas e no dia seguinte eu vou estar em sites de fofoca do mundo inteiro.
Daisy comprimiu os lábios.
- Você já tentou falar com ele?
- Até levar ele pra turnê comigo eu já tentei. Mas me ouvir que é bom nada.
Ela pareceu pensar no que dizer.
- Quando foi isso?
- Ontem à noite.
- Você vai atrás dele?
- Eu não. Eu tentei. Ontem ele disse que nós vamos ter destinos diferentes. Se ele estava com tanto medo assim de nós acabarmos nos afastando, ele que venha atrás de mim.
- Isso se chama orgulho. - Daisy disse, levantando do chão e dando a mão para eu levantar também.
- Não se chama, não. - Peguei na mão dela, e ela me puxou. - Mas estorei o limite do plano de dados da trouxisse.

Eu não achei que ele fosse correr atrás, mas ele correu. Umas três horas depois, quando estava todo mundo prestes a ir embora, Justin apareceu. Com uma caixa de bombons na mão e uma carinha de cachorro que caiu do caminhão de mudança, ele estava parado na frente do estúdio, encostado no carro.
Saí junto com Daisy, as meninas Emily, Louise, e Danielle, que eram as minhas dançarinas, vinham logo atrás.
Quando parei na frente dele, ele só disse:
- Eu ia te trazer um buquê de flores, mas lembrei que você não gosta desse "mimimi" todo e que é minha melhor amiga, e não minha namorada. Então eu passei na sua doceria preferida trouxe isso daqui. - Era o meu tipo de chocolate preferido. Meio amargo e orgânico. O que? É o melhor chocolate existente na face da Terra.
Eu ri. Ele havia acertado. Ele sempre acertava.
- Justin... - Eu realmente não sabia o que dizer, então ele facilitou o processo.
- Eu pensei da gente dar uma volta, conversar, essas coisas...
Me virei para Daisy. Nós e as meninas havíamos combinado de sair daqui direto para o Mc Donald's.
- Relaxa. - Daisy disse. - A gente perdoa.
Ela destravou o carro dela. Dei tchau para as garotas e Justin abriu a porta do passageiro do carro dele. Ele tinha essas manias de ficar fazendo cavalheirismo quando fazia merda e queria que eu perdoasse ele. Quando tava tudo bem eu mesma abria a porta e a gente passava o resto do caminho cantando uma música qualquer. E quando não estava, eu batia o pé e ia pra casa de táxi.
Vi a luz de um flash, vindo do outro lado da rua. Joguei a bolsa de qualquer jeito no banco de trás e peguei a caixa de bombons da mão dele, enquanto sentava no banco.
Ele fechou a porta e deu a volta no carro. Enquanto isso, eu abria a caixa de bombons.
- Eu não sei como você gosta disso. - Ele disse, enquanto colocava o cinto de segurança.
- Diz isso, mas se eu deixar, come a caixa de bombons inteira. - Ofereci a ele, que pegou um.
- Starbucks?
- O mais afastado do centro da cidade possível.

Nós não conseguimos achar um Starbucks que estivesse vazio e que eu pudesse entrar e ter uma conversa com Justin como se fosse uma coisa normal. O que, realmente, não era. Nós nunca saíamos, pra falar a verdade. Tudo para evitar clicks indesejados e paparazzis com perguntas desnecessárias. Nós sempre fazíamos nossos pedidos para viagem.
Então paramos em uma cafeteria simples mesmo e pegamos uma mesa de canto.
- O que vão querer? - Disse a garçonete. O bordado no uniforme dizia "Sandy".
- Dois capuccinos, por favor. - Justin disse.
Ela saiu para fazer nossos pedidos e Justin se virou para mim.
- É estranho sair em público com você. Eu tenho a impressão de que a qualquer momento nós vamos ser atacados por meia dúzia de fãs ou uma avalanche de paparazzis vai estar nos esperando do lado de fora.
Eu ri.
- Acho que por aqui vai ficar tudo bem.
Ele suspirou.
- Quero te pedir desculpas. - Ele fez uma pausa. - Por... ontem à noite.
Observei o lado de fora da cafeteria.
Nós estavamos no verão, mas hoje particularmente, o dia estava frio. O céu nublado e com cara de que ia chover.
- Eu só... - Comecei. - Estou cansada de brigar com você por algo que não tem volta. Não vou cancelar minha primeira turnê. Ela é tão importante para mim. Eu estou ansiosa, meus fãs estão ansiosos. Vai ser a minha primeira experiência em viajar pelo mundo, para subir em um palco e fazer a alegria de centenas de pessoas. Eu só queria que você entendesse o quanto que ela é importante para mim. Eu sei o quanto a faculdade é importante pra você a sua família, Justin.
- Eu sei o quanto isso é importante para você, May. Mas continuo achando que isso vai nos afastar.
- É óbvio que isso vai acontecer, Justin. Você vai estar preso à uma faculdade e eu à uma turnê. Nós vamos ter que nos afastar para que os dois dêem certo. Vou passar 2 anos fora. E quando voltar, sua faculdade ainda vai estar pela metade. E aí vai ser um meio tempo para eu descansar e trabalhar em outro album, para depois sair em outra turnê. É um ciclo. E eu não vejo nada de ruim nele.
- Mas eu vejo, May. E nossa amizade?
- Eu vou ter alguns dias ou semanas de folga, não sei direito. Nós vamos conseguir nos ver. Só falta você querer, Bieber.
Sandy voltou com nossos pedidos, e pûs a mão em volta do copo, para esquentar.
- Como ela vai funcionar? - Justin perguntou.
- O quê?
- A turnê. Como que ela vai ser?
- Incrível. - Sorri.

Depois de explicar tudo, nos mínimos detalhes, para Justin como a turnê funcionaria, para ver se ela conseguia enxergar o lado mágico de tudo aquilo, Justin pagou a conta e fomos pra casa.
Enquanto esperávamos o portão do meu condomínio abrir, me virei para ele.
- E você? Não vai continuar morando com os seus pais agora que entrou na faculdade, vai?
Ele riu.
- Não, não. Pra falar a verdade, vou morar no campus pelo primeiro ano. É obrigatório. Pra depois, to pensando em dar entrada num apartamento perto da faculdade, mesmo. - Ele entrou com o carro no condomínio e dirigiu até a frente da minha casa, estacionando.
- E a sua mãe?
- Dona Patrícia quer me matar, né? Quer ver o filho embaixo da asa dela. Perguntou de você outro dia.
- Prometo que vou ver ela essa semana.
Meu telefone começou a tocar. Olhei a tela do celular. Scooter.
- Quem é? - Justin perguntou.
- Trabalho.
- Precisa atender?
- Você conhece o Scooter.
- Nos falamos amanhã?
Assenti, e ele me deu um beijo na bochecha.
Desci do carro e parei na calçada, em frente de casa.
- Oi, Scooter. - Atendi o celular enquanto observava o Justin manobrar o carro. - É, acabei de chegar.
Observei o carro de Justin parar no portão do condomínio, enquanto o mesmo abria. Fiquei no mesmo lugar por mais alguns segundos, até o carro de Justin sumir da minha visão.

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