Capítulo V

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P.O.V. Maya Ford

Me sentei na beirada do palco e encarei a imensidão de cadeiras vazias na minha frente. Não sabia se estava pronta para o que estava prestes a acontecer. Seria a minha primeira vez em cima de um palco fazendo um trabalho totalmente meu. Era a minha turnê. O meu álbum. Os meus fãs. E eu não poderia decepcioná-los. Fiquei ali por poucos minutos. Eu havia acabado de ensaiar. Os portões abririam em 40 minutos. E em duas horas, esse estádio estaria lotado. Eu estava nervosa. Bem nervosa.
- Então, srta. Ford... - Scooter se sentou ao meu lado. - Ansiosa? Nervosa? Com medo?
- Hm... - Me fiz de pensativa por um momento. - Acho que os três.
Nós rimos, mas Scooter ficou sério en poucos segundos.
- Olha, Maya. Só quero te dizer que... - Ele suspirou, como se o que estava prestes a me dizer fosse algo cansativo e pesado. Nada fácil. - Esse mundo, que você vem conhecendo há uns bons meses mas está prestes a vivê-lo a partir de hoje, das poucas horas que se aproximam, de agora... Ele não é nada fácil. Imagine cem pessoas... - Aqui apontou para todas as cadeiras que estavam na nossa frente. - Por mais que dessas cem pessoas, sessenta delas amem você, ainda haverá quarenta. E dessas quarenta, vinte e cinco pessoas vão gostar de você. Mas, ainda sim, haverá quinze pessoas. E essa quinze pessoas não vão gostar de você, vão te odiar, e estarão sempre aptas a apontar o dedo e falar uma meia dúzia de palavrões à seu respeito. Sobre elas...
Encarei Scooter, e ele deu de ombros.
- Suas opiniões sempre falarão mais alto. O que essas pessoas tem a dizer sempre haverá grande importância. As pessoas sempre irão querer ver os "dois lados da moeda". Mas isso não significa que elas estarão certas. Que o que elas estão dizendo são 100% verdadeiro. Então, quero que, a partir de agora até o final de sua vida... Seja você. Seja simples e puramente você. Por mais que você faça algumas coisas erradas na vida, nunca mude o que você é por causa de terceiros. E sobre os erros... As pessoas erram, isso é normal. Não estou te dizendo para sair errando e errando por aí. Mas se ocorrer algum deslize, algo imprevisto ocorra no meio do caminho, seja verdadeira e conte o seu lado da história. As pessoas não são obrigadas a acreditar em você, mas caso isso aconteça, elas estarão vendo a verdadeira Maya. E isso é tudo que você e elas precisam. Não demore para descer. Você precisa se arrumar. - Scooter se levantou e sumiu por trás de mim.
Bem, ele estava certo. Estava muito certo. Como se já tivesse acompanhado milhares de carreiras.
Fiquei por mais alguns minutos por ali, pensando no que Scooter havia me dito. Puxei o celular do bolso da jaqueta. Se eu esperava pelo menos uma mensagem do Justin? Sim, eu esperava. E não, eu nao tinha recebido. Bem, pelo menos até agora. Nós não havíamos brigado. Pelo contrário, havíamos terminado a conversa pelo Skype de uma forma bem agradável, algo que deveria ser rotina e, infelizmente não era. Bloqueei a tela do celular e voltei a guardá-lo no bolso da jaqueta. Levantei do palco, indo até o backstage calmamente. O barulho das botas ecoando pelo lugar. Eu estava tão nervosa, me sentia tão deslocada...
Alison veio até mim, me abraçando pelos ombros.
- Eu sei que várias pessoas já devem ter dito isso para você hoje, mas vai ficar tudo certo, viu?
Assenti.
Caminhei junto a ela até o camarim, na qual encontramos Alfredo. Fiquei poucos segundos ali com eles até Alison sair, dizendo que ia procurar pelo Scooter.
- Que carinha é essa? - Disse Alfredo, puxando uma cadeira que havia ali e ficando ao meu lado. Fitei meu reflexo no espelho iluminado um pouco antes de responder.
- Eu to com um mal pressentimento.
- Mal pressentimento do que? Você não vai cair. Ou vai. Mas isso é um pouquinho difícil de acontecer. E ninguém vai jogar um tomate em você.
Eu sorri, mas talvez não fosse disso que eu estava falando.
- Vai dar tudo certo. Sua preparadora vocal já está vindo. - Ele levantou da cadeira, e me deixou sozinha no camarim.

- Fecha esse zíper, eu preciso terminar a maquiagem dela. - Minha maquiadora, Lindsay fala um pouco indignada com Mônica, minha figurinista.
- Calma, Lindsay. Calma.
- Ela entra no palco em meia hora. É o primeiro show. Eu vou ter tudo, menos calma.
Mônica fechou o zíper do cropped cor vinho que eu usava e ajeitou a barra do meu short, da mesma cor.
- Vem aqui, Maya. - Caminhei até ela, que me virou de costas e prendeu uma saia de renda branca, mas que deixava à mostra o short que eu usava por baixo. - Põe aquele sapato ali e termina de se arrumar com a Lindsay. Ela está à ponto de ter um ataque do coração. - Mônica apontou para um sapato de salto grosso branco que estava junto com o cabide de roupas no canto.
Peguei o par de sapatos e sentei no sofá, calçando os mesmos. Depois caminhei até o espelho, me sentando na cadeira e deixando Lindsay terminar minha maquiagem, resultando num batom nude e uma sombra bem carregada na região dos olhos.
Lindsay levantou meu queixo com o indicador, me fazendo olhar para ela.
- Modéstia parte, você está linda, querida. O Scooter já vem te buscar. - Ela deixou os itens de maquiagem sobre a penteadeira e saiu do camarim, com Mônica logo atrás.
Abri uma garrafinha d'água enquanto caminhava de um lado para o outro pelo camarim. Parei em frente à uma mesinha que havia ali com alguns doces procurando um bombom quando bateram na porta, que em seguida foi aberta.
- Scooter. Eu não sei se tô pronta. Quer dizer, eu consigo ouvir os gritos das minhas meninas daqui. Por mais que eu não queira, só consigo tremer. Eu tenho medo de subir naquele palco e gaguejar, esquecer a letra ou cair. Pensa que entrada triunfal para a turnê, hein?
- Eu só posso te desejar boa sorte, May.
Me virei. Não era o Scooter. Estava longe de ser. O Scooter não tinha tatuagens pelos braços, cabelo loiro e olhos castanho-claros.
Agarrei Justin pelo pescoço num abraço apertado.
- Oh. Meu. Deus. - Ele estendeu o buquê de rosas vermelhas para mim.
- Achei que fosse gostar.
- Oh. Meu Deus. - Repeti, e abracei o garoto novamente. - Eu nunca ia imaginar que você viria.
- Surpresa! - Ele disse, numa animação.
- Mas... mas... Suas aulas! - Questionei. - Elas começavam hoje, não?
- Semana que vem.
Arregalei os olhos.
- Você mentiu pra mim, seu idiota. - Dei uns tapas no garoto, mas no fundo eu estava feliz. Muito feliz.
- Ai! Ai! Calma, fazia parte do plano.
Parei na frente dele, encarando o garoto, que tinha um sorrisinho no rosto.
- Eu não acredito que você está aqui... - Murmurei.
- Você achou mesmo que eu não vinha? - Ele puxou o bombom que eu segurava entre os dedos e abriu o mesmo.
- Sinceramente? Sim.
Ele suspirou.
- Minha mãe e meus irmãos estão lá fora. - Sorri.
- Por isso eu também não esperava.
- Todos viemos. Não poderíamos deixar de ver o primeiro show da turnê. - Me sentei no sofá e Justin fez o mesmo, ficando um ao lado do outro por poucos segundos.
O garoto juntou nossas mãos, entrelaçando nossos dedos uns nos outros. Meu olhos pararam sobre o buquê, que eu havia deixado sobre a penteadeira.
- As flores...? - Perguntei.
- Achei que que fosse gostar. Ah, não são a única coisa. - Ele puxou uma caixinha do bolso. Era preta, de veludo. - Passei numa joalheria outro dia. Quer dizer, você sabe... Eu vi um modelo e encomendei uma pra você. - Ao abrir a caixinha, me deparei com uma pulseira prata. Havia dois pingentes, com minhas iniciais. Um M e um F.- Para a srta. Maya Ford
Encarei a jóia por alguns segundos, antes de abrir um sorriso.
- Ela é...- Eu nunca encontraria um adjetivo para definir como era aquela pulseira.
- Linda, assim como você. - Justin disse, enquanto tirava a pulseira da caixinha e prendia no meu pulso direito.
Encarei Justin por alguns segundos. Eu iria entrar no palco em poucos minutos, ele estava aqui, minha família estava aqui, meus fãs estavam aqui. Algo ainda atrapalharia essa noite? Ah, sim. A bosta do mal pressentimento que insistia em me consumir.
- Eu escrevi uma coisinha para você. - Oh, Deus.
Justin puxou um papelzinho do bolso e a minha mão, quase que ao mesmo tempo, me fazendo ficar em pé, na frente dele, no meio do camarim.
Ele pigarreou por um momento antes de começar a falar.
- Querida, Maya... - Ele parou por um momentos, me encarando, antes de prosseguir. - Quantas vezes errei? Quantas vezes fui um idiota? Quantas vezes fui o pior melhor amigo do mundo? Uso como um pretexto o início de uma nova fase de sua vida para lhe pedir desculpas. Desculpas pelos palavrões, pelos ataques de ciúmes, pelas portas batidas, pelas lágrimas derramadas e por tudo que, um dia, foi relacionado às nossas brigas. Sei que fui um babaca pela maior parte do tempo, mas que também, não só eu como você, estivemos em certos momentos, errados nesses longos anos que acompanham a nossa amizade. - Dei uma risadinha, e o garoto deu um sorriso divertido, ao me ver rindo. - Mas agora eu estou aqui, na sua frente, fazendo algo arriscado, muito arriscado. Eu amo você. E acho que já disse isso milhões de vezes, mas vou repetir: eu amo você, srta. Ford. E não há nada que mude isto. E por mais que eu tenha consciência do que está acontecendo lá fora, eu preciso te dizer: tudo que eu mais queria é poder ficar com você. É acordar todos os dias com você ao meu lado. Por mais que dias atrás eu já tenha te dito o que eu realmente sinto por você, eu preciso repetir. Amo você como um homem ama uma mulher. Quero me casar com você, quero ter filhos com você, quero ter uma vida ao seu lado...- Enxuguei uma lágrima que havia insistido em cair e respirei fundo. Parecia ter muito mais coisas naquele papel, mas Justin dobrou o mesmo e guardou no bolso. Agora, o garoto falava olhando nos meus olhos. - Eu não sei se posso esperar. Não sei se vou conseguir esperar tanto tempo por você, Maya. Não sei se vou ne sentir seguro o suficiente em ter um relacionamento com você enquanto está do outro lado do mundo. Eu só... Para falar a verdade, eu quero mesmo é que você pegue suas coisas e vamos dar o fora daqui, isso se você realmente gostar de mim. Eu quero poder trancar minha faculdade e sair viajando pelo mundo junto com você. Você é apaixonada pelo Itália, não é? Sempre foi. - Ele sorriu, e encarou o tapete. - Eu juro que lhe daria a vida dos sonhos, mas isso não depende apenas de mim. Isso também depende de você. Você também precisar querer...
Me apoei na penteadeira, e encarei Justin. Alguém precisaria retocar minha maquiagem.
- Por favor, May... - Ele murmurou, o garoto não me olhava nos olhos. - Eu quero muito ficar com você, mas não sei se consigo dividir você com mais meia-dúzia de holofotes.
- Você está me pedindo para desistir? Para largar tudo e sair daqui com uma muda de roupas? Justin, olhe para tudo lá fora. O que eu menos posso é fazer isto.
- Maya...
- Me perdoe, Justin. Mas não.
Ele respirou fundo e me olhou nos olhos. Seus olhos castanho-claros estavam marejados.
- Você tem certeza disso?
- Justin...
- Só me diz, Maya. Só me diz o que você realmente quer. E se a resposta for não, eu juro que saio por aquela porta e você nunca mais vai precisar se preocupar comigo.
Encarei o Justin Bieber que estava na minha frente. Eu nunca tinha visto ele falar desse jeito; direto, decidido.
- Não. - Respondi. - Não posso ir. Há pessoas lá fora que eu nao posso decepcionar.
Ele assentiu, fazendo o mesmo movimento algumas vezes, enquanto caminhava em minha direção, deixando nossos corpos há centímetros um do outro.
Justin levantou um dos braços, passando a mão fria pelo meu pescoço parando na nuca. O garoto se esticou um pouquinho, dando um beijo no topo da minha testa. A mão desceu pelo meu braço e ele pegou em minha mão, dando um beijo na mesma.
- Boa sorte, srta. Ford.
Ele saiu do camarim, que segundos depois foi invadido por Scooter e Lindsay. A mesma exclamou.
- Não me diga que terei que retocar a sua maquiagem. - Forcei um sorriso e me virei para o espelho, me deparando com o buquê de rosas.
Passei a mão na região abaixo dos olhos.
- Não, não. - Está tudo bem.
- Tem certeza? - Scooter perguntou.
- Sim. - Lindsay pegou a maleta de maquilagem que estava sobre a penteadeira e saiu do camarim.
- Ele vai assistir o show?
Encarei Scootee por alguns segundos antes de responder.
- Eu não sei. Ele... - Suspirei, fechando os olhos. - Disse que não vai mais voltar.
Scooter suspirou, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans.
- Eu sinto muito.
- Está tudo bem. Está tudo bem.
- Voce entra no palco em 5 minutos. - Assenti, o acompanhando e saindo do camarim. Reunimos toda equipe, dançarinos, familiares e todo mundo que trabalhava comigo e fizemos una oração, algo que se tornaria costume nos próximos dias.
Abracei minha mãe e Scooter e me posicionei no mini elevadorzinho que me elevaria até o palco.
- Está pronta? - Scooter perguntou, e assenti, dando um sorriso.
- Vamos lá então, srta. Ford. - Ajeitei a postura e coloquei as mãos na cintura, enquanto segurava o microfone.
Ouvi a batida de "You're Such A" e sorri. Estava na hora. Seria o primeiro show da turnê. O primeiro de muitos.

Rock Bottom // j.b · short-fic Onde histórias criam vida. Descubra agora