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"Estás pronta?" – pergunta o William.

"Sim."- respondo, respirando fundo ao fixar o olhar na porta. Bora lá.

Entramos na sala de conferências em tom animado. O Wesley já está à conversa com o André. Discutem a quem deve ser entregue a Bola de Ouro, se ao Cristiano Ronaldo, se ao Messi.

Se me perguntassem, para mim seria sempre ao Ronaldo. Ele é bem mais giro, bem mais escultural e português, claro. Também não me importava nada de dar uma voltinha com ele. Mas que raio! Eu não paro de pensar em homens bons? Se a Vera aqui estivesse diria que é falta de sexo.

Ah! Não falei com a Soraia toda a tarde. Espero que esteja tudo bem. Quando voltar ao quarto, tenho de ver os emails.

"Estamos prontos para começar." – diz o Wesley, interrompendo a minha linha de pensamento. Já ia a 300 km/hora, com tantas coisas que tenho em mente para pedir à Soraia, quando subir ao quarto.

"Não falta alguém?" – pergunto ironicamente.

"Sim, o James está mesmo a chegar." – Diz o Wesley. Espera, quem?

"James?" –O William dá voz aos meus pensamentos. – "Não era a Colega dele?" – pergunta, confuso. Isto está um espectáculo. Parece uma banda de amadores, que vai dar o seu primeiro concerto fora da garagem.

"Era, mas a Kate teve um problema de ultima hora e o James teve de assumir esta reunião. Afinal, ele é o supra sumo" – responde-nos casualmente, como se estivéssemos todos a beber uma chávena de chá. Mas uma chávena de chá antes da catástrofe natural que eu tenho o pressentimento que esta reunião vai ser.

O André está demasiado calado para o meu gosto. Olha para mim e faz sinal para me sentar à sua frente. O André e o Wesley sentam-se num lado da grande mesa rectangular. Ao meu lado senta-se o William. Claro.

Ninguém está à cabeceira da mesa. Deduzo que seja para o tal James. Por favor, que venha rápido. Ainda tenho de despachar o Rapunzel e tratar de vários assuntos do escritório e tentar perceber o que se passa com a história do meu pai.

O André pigarreia, como quem se prepara para cantar ópera e no nano-segundo imediato, ouve-se a porta da sala abrir.

"James! Bem-vindo! Não te pergunto se está tudo bem, porque com o atraso do voo e a alteração de ultima hora por causa da Kate, acredito que estejas prestes a pedir uma linha de fuzilamento!" - Graceja o Wesley em tom animado ao homem que acaba de entrar, enquanto se levanta da cadeira com um sorriso amistoso.

"Boa tarde, Wesley. Boa tarde a todos. Peço desculpa por toda esta confusão, mas hoje decididamente não está a ser um bom dia." - Espera! Eu conheço... eu conheço esta voz. Mr. Shakespeare? OH MY GOD! Que piada de mau gosto. Claro! Claro que tinha de ser o Mr. Shakespeare.

O Universo não brinca em serviço e hoje eu tive de sair na rifa. Por favor, alguém que me mande com um balde de água fria em cima para eu acordar deste pesadelo no qual o dia de hoje se está a tornar.

O André e o William levantam-se para cumprimentar o atrasado; sim! atrasado porque se atrasou, e eu fico feita boneca de cera sem saber o que fazer. Ou dizer. Ou pensar. Bem, pensar eu bem penso o que podia fazer com um pedaço de carne daqueles... Imagino o que se encontra por baixo--- Cala-te boca grande antes que digas algo que te arrependas.

"Não percamos mais tempo, vamos iniciar." – diz o senhor dom da palavra irónica, Mr. Shakespeare. Tenho que admitir que a voz do homem de meia tigela com um pacote bem grande tem uma voz agradável. Embora aquela cara sisuda venha estragar a pintura.

Corações InquietosOnde histórias criam vida. Descubra agora