2. O PERÍODO DA INFÂNCIA

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O período da infância foi objeto de pesquisa de Allan Kardec, como se pode depreender das perguntas que fez aos Espíritos quando da codificação do espiritismo. Em O Livro dos Espíritos, a partir da questão 379 vemos uma série de questionamentos de suma importância para o correto entendimento, significado e objetivo da fase infantil para o Espírito que voltou à Terra.

A pergunta 382, por exemplo, questiona o seguinte: "Sofre o Espírito encarnado, durante a infância, com o constrangimento que lhe impõe a imperfeição dos seus órgãos?" A resposta é simples e direta: "Não; esse estado é uma necessidade, é natural e segundo as vistas da Providência: é um tempo de repouso para o Espírito. "Por que um período de repouso? Simplesmente pelo fato de que durante a infância o Espírito encontra-se desembaraçado de deveres e responsabilidades. Seus pais terrenos cuidam do necessário à sua sobrevivência física e as limitações impostas pela imaturidade dos órgãos o deixa vivendo como que uma fantasia. O Espírito não se encontra sob a plena consciência de sua condição, como quando desencarnado, e nem sob o peso dos deveres da vida de encarnado, a qual ainda não assumiu plenamente.

Uma outra pergunta feita por Kardec e que merece ser lembrada aqui, pois consiste o ponto chave deste capítulo, é a preocupação sobre a utilidade do estado de infância. A pergunta é textualmente a seguinte: (383) "Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pelo estado de infância?" - "O Espírito se encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados da sua educação".

Após o renascimento no mundo material, inicia o Espírito um período de adaptação às condições de vida na Terra. Seu corpo deverá se habituar à temperatura, umidade etc., enquanto desenvolve sua aparelhagem psíquica, agora sob novas condições sociais. Por menor que seja o intervalo entre uma encarnação e outra, o processo se repete, pois o corpo é totalmente novo, gerado por ele e para ele. É uma máquina sofisticada cujo "piloto" deverá treinar no seu funcionamento até poder controlá-la adequadamente. É por isso que vemos as crianças recém-nascidas sem controle motor. Arranham-se facilmente, o que leva as mães previdentes a manterem bem curtas as suas unhas; não são capazes de segurar objetos ou se o fazem são algo desajeitadas. Tudo isso é perfeitamente natural. O reencarnante ainda não tem pleno domínio de seu novo corpo, o que só ocorrerá gradualmente e com o passar dos anos.

Se você tem irmãos ainda pequenos observe seus movimentos. Verá que lembram alguém que está aprendendo a dirigir um veículo. De fato, o fenômeno é semelhante e todos os primeiros anos de vida serão dedicados a esse treinamento no uso de um novo corpo que deverá servir de veículo de manifestação para o Espírito durante o máximo de tempo possível.

Entretanto, é fácil concluir que o Espírito não reencarnou para aprender a usar um novo corpo de carne. Isso é pura contingência, necessidade conjuntural. O aspecto mais importante da reencarnação está nos novos condicionamentos psicossociais. A construção de uma nova personalidade. Assim como o perispírito é o molde do corpo físico, a individualidade (o Espírito com todas as suas peculiaridades) servirá de modelador para sua personalidade.

Vamos explicar isso com mais detalhes. A individualidade é o que nos distingue uns dos outros. A individualidade permanece a mesma ao longo das reencarnações, revestindo-se de personalidades apropriadas a cada experiência na Terra. A personalidade é composta pelos novos hábitos culturais, pelos costumes da sociedade em que se reencarnou, pelo novo idioma que se usa, pelos regionalismos e tudo o mais que envolve a existência humana na Terra. Voltando ao Mundo Espiritual, muitos de nossos hábitos e costumes terrenos deverão ser revistos e modificados, ou seja, deveremos nos desfazer daqueles acessórios que ajudaram a constituir nossa nova "roupagem psíquica", nossa personalidade, e reassumir nossa condição de Espíritos livres do corpo carnal que, por sua vez, foi nosso "macacão de trabalho" na Terra.

Para o Espírito, o que importa levar da Terra são as experiências acumuladas e que serão acrescentadas ao seu patrimônio espiritual, tornando-se parte de sua individualidade. Cada experiência, feliz ou infeliz, será guardada nos seus arquivos psíquicos e constituirão material de apoio para a tomada de novas decisões. Como se vê, o processo de aprendizado é cumulativo. As camadas daquilo que foi experimentado, vivido, vão se superpondo e poderão ser trazidas à tona, ao nível do consciente, sob certas circunstâncias naturais, decorrentes do amadurecimento psicológico do ser, ou artificiais, como o sonambulismo provocado, a hipnose.

De grande importância para o Espírito reencarnado e vivendo a infância é a influência daqueles com quem convive, especialmente pais e irmãos. Os pais, naturalmente, têm uma ascendência muito grande sobre os filhos, mesmo que não percebam. Os filhos aprenderão deles mais daquilo que fazem do que daquilo que dizem. O exemplo será sempre preponderante. Os novos modos de ser serão gradualmente absorvidos pela criança e se forem bons hábitos a prepararão melhor para o futuro. Se forem maus hábitos constituirão bombas de retardo, a explodir no futuro causando danos proporcionais à sua potência. Por aí se vê que a missão da paternidade e da maternidade é das mais importantes e comprometedoras.

Dizem os especialistas do comportamento humano que o "código de caráter" é transmitido no tempo transcorrido entre o nascimento e os sete ou oito anos. O que vier depois será tido à conta de acréscimo. Tanto as influências salutares quanto aquelas menos nobres serão incutidas nas mentes infantis nesse período em que o Espírito reencarnado fica muito maleável, muito suscetível de sofrer influência, como dissemos, principalmente dos pais e familiares, que constituem todo o mundo da criança. Cumpre ressaltar ainda que a reencarnação, em seus pontos essenciais, só se completa lá pelos seis, sete anos. Durante esse período é comum ver-se a criança brincando e conversando com seres imaginários. Em muitos casos, os ditos seres imaginários têm existência real para a criança, pois são Espíritos que vêm vê-la. Estando ainda estreitamente ligada ao Mundo Espiritual e não totalmente envolvida pelas influências da matéria que constitui seu corpo carnal, é fácil para ela compartilhar os dois universos: o físico e o extrafísico.

Enfim, não podemos esquecer que a criança é, antes de tudo, um Espírito reencarnado, com suas carências e imperfeições. Todo impulso positivo deve ser estimulado e todo indício de vícios morais deve ser inibido ainda nos primeiros anos. Pais e professores devem procurar compreender os mecanismos básicos da mente infantil para agirem com mais propriedade. A pedagogia do amor ensinada por Jesus não dispensa a atitude enérgica quando necessária. Educação frouxa, com a criança entregue a seus próprios impulsos, tem sido o caminho para a delinqüência. Em tempo algum a violência contra a criança encontrará justificativa, e o abandono em que se encontra boa parte delas, sem o indispensável para viver, nos deixa antever problemas sociais cada vez mais graves para as próximas gerações. Se cada um cumprir adequadamente o seu dever enquanto pai, trabalhador, homem público, cidadão etc., o problema poderá ser resolvido de forma razoável, apesar dos complexos desajustes sociais que, de uma forma ou de outra, nos atinge a todos.

Adolescente, mas de passagemOnde histórias criam vida. Descubra agora