8. A RELIGIÃO E AS QUESTÕES ESPIRITUAIS

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O materialismo fez com que o homem abandonasse a religião. Muitos passaram a ver nela um desagradável fator de limitação; além de desagradável, desnecessário. A verdade é que as religiões tradicionais enveredaram por caminhos que nada tinham a ver com sua essência. Voltando-se para questões de natureza política e econômica, desviaram-se de sua finalidade, que é dar o devido suporte para o homem em seus momentos de aflição; ensiná-lo a relacionar-se com a divindade e, principalmente, ajudá-lo a disciplinar a sua vontade e controlar seus instintos. A religião tem, portanto, finalidade pedagógica.

A agonia das religiões deve-se em grande parte ao fato de terem apresentado um deus humano demais, e uma visão de mundo incompatível com os avanços e descobertas da ciência. Uma divindade irascível, ciumenta e vingativa. Foi contra esse deus pequeno, mesquinho e de forma humana, reflexo de nossas paixões, que os filósofos do século XIX se rebelaram e acabaram por destruir. O problema é que não foi colocado nada em seu lugar e a humanidade, principalmente ocidental, passou a sentir-se órfã e a agir como tal. Deus é uma necessidade psicológica dos seres humanos e uma realidade. A religiosidade é inerente a toda criatura humana. Uma religiosidade que, ao contrário do que pensam muitos, não é cultural. Precisamos reaprender a conceber Deus em todos os seus atributos superiores, tendo-o na figura de um Pai amoroso, justo e bom, como nos ensinou Jesus. Convém lembrar que ninguém, a não ser Jesus, trouxe uma visão tão completa e simples acerca do Criador, na figura do Deus-pai.

Esse Deus-pai estabeleceu regras, leis, que regulam, organizam e estabilizam o Universo em todos os níveis.

Compreender essas leis é indispensável para que nos ajustemos a elas e assim possamos diminuir nossos sofrimentos e acelerar nosso progresso intelecto-moral. Allan Kardec, em seus estudos e com o apoio dos Espíritos superiores, conseguiu formular um esquema altamente didático e completo sobre as leis divinas. O resultado desse esforço de síntese do mecanismo da Vida encontra-se na terceira parte de O Livro dos Espíritos, sob o título Leis Morais, para onde remetemos desde já o leitor interessado em conhecê-las mais detalhadamente. Apesar dessa sugestão, achamos oportuno transcrever um resumo das leis morais, feito por Carlos Toledo Rizzini, incluído em seu livro O Homem e sua Felicidade, páginas 99 a 101; obra altamente recomendável para os interessados em compreender os processos evolutivos na Terra. Eis o resumo:

Lei de adoração: Consiste na elevação do pensamento a Deus por intermédio da oração. Basta o culto interior, com sentimento sincero.

Lei do Trabalho: O trabalho é da lei da natureza. Aperfeiçoa a inteligência. O limite do trabalho é o limite das forças. Relevante, no caso, é a educação que incute hábitos saudáveis, porque a educação é o conjunto de hábitos adquiridos (...)". Cabe aqui um ligeiro comentário nosso. Deve-se entender o trabalho como toda atividade útil e não apenas o trabalho remunerado. Retomemos o resumo.

Lei de reprodução: Fenômeno natural que, no homem, deve acompanhar-se de amor.(...). O casamento é um progresso na sociedade; sem ele, haveria retorno ao nível animal de vida; mas não é indissolúvel, sendo o divórcio admissível em instâncias extremas de incompatibilidade de gênio.

Lei de conservação: É natural o desejo de conservação.(...). O bem-estar é anseio admissível. A carne alimenta a carne. A mortificação do corpo é inútil e nociva.

Lei de destruição: As coisas são destruídas para ressurgir depois. Nas criaturas, só o envoltório é objeto de destruição; o princípio inteligente é indestrutível.

Lei de sociedade: O homem deve viver em sociedade porque não tem faculdades totalmente desenvolvidas e completa-se em contato com os outros pela união social.

Lei do progresso: Ao homem cumpre progredir sem cessar e não pode regredir. Os mais adiantados devem ajudar os outros a avançar. (...). A civilização é um progresso que se reconhece pelo desenvolvimento moral.

Lei de igualdade: Todos os homens são iguais perante Deus. As diferenças de aptidões devem-se ao desigual nível de evolução, pois uns viveram mais que outros. As desigualdades sociais constituem obras dos seres humanos. Riqueza e miséria são provas escolhidas pelos próprios Espíritos antes da recorporificação. (...). Homens e mulheres detêm direitos iguais perante Deus.

Lei de liberdade: Não há liberdade absoluta a não ser de pensamento; ela é relativa ou condicionada, porquanto, uns precisam dos outros e têm de respeitar os direitos alheios. Tendo liberdade de pensar, têm também de agir, donde o livre arbítrio.

Lei de justiça, amor e caridade: O sentimento de justiça é natural. Justiça é o respeito aos direitos de cada ente humano. É correto o direito de posse desde que não seja só para si e sua satisfação. A propriedade legítima é a que foi adquirida sem prejuízo para terceiros, como produto do trabalho".

Apesar de termos apresentado ao leitor apenas as partes essenciais do resumo, é possível perceber a realidade do que dissemos antes. O conhecimento das leis morais possibilita um melhor uso do livre arbítrio, reduzindo a margem de erro nos processos decisórios. Somando-se a isso o conselho de Sócrates : "conhece-te a ti mesmo", teremos o meio adequado de adiantamento nesta vida.

A influência dos meios de comunicação sobre os jovens tem sido, na maioria das vezes, negativa. Apresenta-se o viver como um processo de consumir. Tudo aquilo que não tenha um sentido prático ou que implica em limitações, autocontrole, normalmente é apresentado como fora de moda. Nesse contexto, a religião é vista como um fator inibidor, castrador, alienante ou que deixa a pessoa exposta ao ridículo. Assumir a sua essência religiosa implica opor-se à direção geral das coisas. É inegável que as religiões tradicionais, tornadas instituições político-religiosas ou complexos econômicos, que vivem da religião e não pela religião, estejam em baixa no conceito popular. Mas, repetimos, é preciso distinguir religião de religiosidade. Esta, não é institucionalizada e nem precisa disso. É uma relação direta com o Criador, sem necessidade de intermediários ou ritos. A melhor religião é aquela que o torna melhor e esta, geralmente, é uma concepção original, íntima.

O adolescente que antes de tudo, voltamos a lembrar, é um Espírito reencarnado, também está sujeito àquilo que no meio espírita é chamado de perturbações espirituais. É comum trazermos para a vida atual os reflexos de nossos desatinos de vidas anteriores, incluindo-se aí eventuais desafetos; pessoas que se sentem lesadas por algo que lhes fizemos e por isso assumem a postura de credores nem sempre compreensivos. Após os primeiros anos de vida na Terra, durante os quais estamos protegidos pelos pais e amigos, sob uma vestimenta física nova e com proteção espiritual específica, pode chegar a época de iniciarmos o período de aprendizado e reparação dos erros de outrora. Não é incomum que isso passe a acontecer já na adolescência, junto com as acomodações psicofísicas próprias da idade. Pode ser muito difícil conviver com todos esses problemas. O apoio da fé e do conhecimento, ao lado do amparo moral e espiritual dado por pessoas ou instituições, geralmente é suficiente para propiciar um entendimento com eventuais cobradores que permanecem no Mundo Espiritual.

As religiões podem estar em decadência e fora de moda, entretanto a religiosidade nunca estará. Se por um lado somos animais racionais, animais políticos, por outro jamais deixaremos de ser seres religiosos, pois essa é uma condição intrínseca, um atributo congênito do ser humano. Nossa atitude prepotente e de auto-suficiência, relegando esse nosso aspecto a um segundo plano, tem levado muita gente à loucura e ao suicídio. Não se entenda que a religiosidade é ou deva ser um sedativo da consciência. É apenas o reconhecimento de um traço comum da espécie humana; o reconhecimento de que trazemos algo que nos liga ao Criador, dentro de nós. Se a religião está fora de moda, que fiquemos fora de moda emocional e psiquicamente saudáveis, cuidando para não cair nos extremos do fanatismo religioso, do pieguismo ou das pregações moralistas, tão graves quanto os efeitos do materialismo.

A religiosidade bem compreendida e bem vivida não impede o jovem de amar e ser amado, de divertir-se e viver plenamente a vida. Pelo contrário, é fator de equilíbrio que, muitas vezes, o auxiliará a enxergar com mais clareza situações e pessoas, avaliando com mais segurança e decidindo com sensatez.

Adolescente, mas de passagemOnde histórias criam vida. Descubra agora