Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei. Esta frase foi inscrita no monumento megalítico que constitui o túmulo de Allan Kardec. Sintetiza não apenas o objetivo da vida, como também o processo existencial. Aplica-se tanto para quem está vivendo no mundo espiritual como para aqueles que estagiam na esfera material.
Enquanto estamos no mundo dos Espíritos, após a última passagem reencarnatória pela Terra, avaliamos nossos sucessos e fracassos, nossos acertos e desacertos. Esse balanço existencial muitas vezes é feito com o auxílio de Espíritos mais experientes, cuja sabedoria alcança aspectos ainda inacessíveis ao nosso entendimento. Assumimos ou reassumimos nossas responsabilidades na Espiritualidade e aguardamos novas oportunidades de retorno à esfera mais densa da matéria.
É bem verdade que nem todos, enquanto desencarnados, vivem em colônias ou cidades espirituais de grande elevação. Muitos, a maioria talvez, ainda vive em mundos espirituais não propriamente inferiores, mas de pouca evolução. Espíritos comuns, sem grandes méritos e sem grandes culpas. Nesses ambientes espirituais, ao contrário do que ainda se pensa, não se vive uma vida ociosa ou contemplativa. Existem deveres a serem cumpridos, tarefas a serem realizadas em benefício próprio ou de outrem.
Nas chamadas zonas purgatoriais ou inferiores, os Espíritos estagiam por maior ou menor lapso de tempo. O suficiente para repensarem a própria existência, cansarem-se da vida sem objetivo, desfazerem-se dos resíduos materiais levados no perispírito (ou corpo espiritual ou ainda, corpo astral, conforme algumas filosofias), mudarem de hábitos, conceitos e, principalmente, preconceitos.
Após esse intervalo entre reencarnações, que pode durar de alguns anos a décadas e mesmo alguns séculos, o ser sente-se necessitado de prosseguir em sua marcha evolutiva. Os mais evoluídos definirão seus próprios rumos com mais liberdade. Suas existências incluem tarefas de interesse coletivo de maior ou menor porte, de acordo com suas potencialidades, ao lado das necessidades pessoais que jamais ficam esquecidas, considerando-se que um estágio na Terra é oportunidade preciosa demais para ser desperdiçada. As criaturas com uma evolução mediana precisarão recorrer aos amigos mais vividos para a programação de sua jornada terrena. Isso para otimizar sua reencarnação e minimizar as margens de erro. Ainda assim sabem que os riscos de insucesso serão apreciáveis, pois são pessoas com força de vontade ainda algo indisciplinada e precisarão do amparo dos Espíritos amigos, encarnados ou não. Quanto àqueles com escasso progresso, serão muitas vezes constrangidos ao retorno à vida corporal. Muitos deles acabam por aceitar a reencarnação devido ao esquecimento do passado produzido pelo mergulho na carne. Suas consciências culpadas encontrarão algum alívio e com isso ressurge a esperança e a oportunidade de reparar os erros anteriores.
Enquanto no mundo espiritual usufruímos de capacidades de percepção mais amplas que ficarão bastante limitadas com o processo reencarnatório, ainda assim o Espírito não se desliga totalmente do mundo espiritual. Durante o sono do corpo reverá os amigos que o acompanham para uma troca de idéias e aconselhamento. Terá ainda, sem dúvida, amigos reencarnados no seu convívio com quem poderá contar nos momentos difíceis. E não ficará por aí a misericórdia divina. A intuição nos momentos oportunos e o socorro da prece estarão sempre ao alcance do ser reencarnado. Há uma grande diferença no comportamento do Espírito enquanto reencarnado ou desencarnado. No mundo espiritual temos a certeza de sermos "Espíritos", seres imortais, e isso altera nossa compreensão da vida. Durante o estágio na Terra, ficamos envolvidos com os apelos materiais, o corpo carnal amortece nossas percepções, o esquecimento do passado gera incertezas e, normalmente, os impulsos e sentimentos inferiores prevalecem devido à condição evolutiva média do homem terreno, ainda pouco distanciado de sua passagem pelo reino animal.
Reencarnar é, de certa forma, lançar-se ao mar da existência sem grandes certezas e muitas dúvidas. É desatracar o navio da vida apenas com os equipamentos conseguidos pelo esforço pessoal e alguma ajuda externa, daí a angústia que todo Espírito sente ao aproximar-se a época da viagem pela Terra. Mas viver é correr riscos e o progresso intelectual e moral se fará a partir de nossas reações durante o percurso.
Mas, como é reencarnar? Alguns livros e depoimentos de Espíritos nos dão notícias acerca do processo que pode ser sintetizado da seguinte maneira. Após definir as diretrizes principais de sua futura vida na Terra; feitos os arranjos necessários para garantir o melhor resultado possível e escolhidos aqueles que irão recebê-lo como filho ou filha, geralmente dentre as pessoas de seu relacionamento, aguarda-se a ocasião oportuna, quando o Espírito sofrerá uma gradual perda de consciência sob os efeitos da fluidoterapia espiritual e será ligado magneticamente aos seus pais terrenos, algum tempo depois da concepção decorrente do ato sexual. Como se vê, o processo reencarnatório se inicia muitos meses e mesmo anos antes da concepção. Dependendo das necessidades e possibilidades do Espírito os cuidados serão maiores ou menores. Quanto mais evoluído mais ele próprio participa do processo, quanto menos evoluído mais se entrega aos automatismos reencarnatórios. Um outro detalhe importante é que quanto menos evoluído, menor o intervalo entre uma reencarnação e outra. O ser mais adiantado moral e intelectualmente reencarnará a intervalos maiores porque soube aproveitar mais as lições anteriores e a Terra pouco terá a lhe acrescentar por algum tempo.
O corpo espiritual do reencarnante é então, digamos, miniaturizado e colocado no útero de sua futura mãe, monitorando a partir daí a multiplicação celular em função de suas necessidades evolutivas. Durante a gestação, enquanto seu corpo se forma e se prepara para viver no mundo de matéria mais densa, o Espírito não fica de todo destituído de percepções. Pelo contrário, estará mais sensível às emoções de seus pais, percebendo, inclusive, se é bem-vindo ou não. Tais sentimentos já passarão a constituir sua personalidade terrena, seu caráter, determinando até mesmo neuroses que se manifestarão futuramente. Como se vê, tudo isso demanda cuidados por parte dos Espíritos que cuidam dos processos reencarnatórios e necessita da contrapartida dos pais terrenos.
A reencarnação é uma bênção ainda não avaliada de acordo com sua importância. Muitos agem como se a vida fosse um passeio pela Terra, uma viagem de turismo. Na realidade, a Terra é o ponto de encontro de Espíritos de categorias espirituais distintas. As influências recíprocas possibilitarão ao ser mais evoluído consolidar virtudes e adquirir outras; ao menos evoluído aprender com aqueles. Lembremo-nos que no Mundo Espiritual os Espíritos se agrupam por laços de afinidade, formando grandes famílias espirituais que se organizam em cidades e colônias. Pode ser que tenhamos ao nosso lado, enquanto encarnados, seres que amamos e com quem não partilhamos ainda o mesmo ambiente extrafísico, daí a importância de aproveitarmos bem as oportunidades que nos são oferecidas para que, um dia, possamos estar com eles na Terra e na Espiritualidade Maior. Se você deseja saber mais sobre esse tema leia o capítulo 13 do livro "Missionários da Luz", de André Luiz, espírito , através do médium Francisco Cândido Xavier, publicado pela Federação Espírita Brasileira, onde se encontra descrita uma reencarnação até com minúcias.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Adolescente, mas de passagem
Espiritual(Um ensaio espírita sobre a adolescência e a juventude) Paulo R. Santos Este livro é dedicado aos jovens espíritas. Que sirva como elemento incentivador da vida moral sadia e para a edificação do homem do terceiro milênio. A nova geração tem a...