Capítulo 1

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Capitulo 1.

Transtorno explosivo, pode-se dizer que este é o meu nome, afinal sou conhecida por acabar com a sala de aula de química depois de um surto, ter levado uma garota para a U.T.I e por tentar vinte e cinco vezes suicídio. Que para meu azar não obtive sucesso, sempre sendo salva ou sou encontrada por alguém, antes da minha morte (digo, quase-morte) o motivo de tentar a morte? Simples.

Queria tê-la como companhia, assim como tenho a minha amiga solidão, ela veio e me abraçou no berço, estava marcada a estar sozinha, há tempos atrás descobriram o que aconteceu comigo e sobre o que tenho, (uma grave depressão misturada com um grande transtorno) acabei me transformando em uma enorme bomba relógio, que faz contagem regressiva para explodir, exatamente assim me sinto agora.

A água está tão fria que dá para confundir se é o meu coração, ou realmente as gotas do chuveiro, na banheira eu vejo o sangue sumir pelo ralo, até que ponto eu cheguei?

Lavei todo o meu cabelo acreditando que estava com tempo, sai do banheiro e troquei-me vesti uma calça jeans desfiada preta, uma blusa simples branca e minha jaqueta preta - o que? Só porque sou estranha do colégio vou desarrumada? Mas nem morta! Que irônico - e meu coturno, não passo maquiagem, pego minhas pulseiras para esconder os cortes recentes e minha mochila, saio de casa e passo pelo balcão da lanchonete - minha casa é uma lanchonete na frente e uma casa nos fundos - beijo na bochecha de seu Octávio que me repreende quando me vê toda vestida e com minhas pulseiras.

- A gente já... – ia dizendo, mas só ia eu o interrompi.

- Era isso ou pior, até hoje não entendo como pode ter paciência em me criar. – Falo e saio.

Na caminhada para o colégio penso em como o amor faz falta em minha vida, fui abandonada na rua, sem nenhum pano embrulhado em mim, chorava e estava com fome, Octávio disse-me que estava ali por um dia mais ou menos, ele me pegou e levou ao hospital onde cuidaram de mim, desde então ele me acompanhou, ia sempre ao orfanato esperando que alguém me adotasse, mas não adotaram, nunca iriam adotar uma criança diagnosticada com um transtorno, então ele me adotou, sempre quis saber quem eram os meus pais, mas aprendi a odiá-los, eles me abandonaram me deixaram indefesa na rua ao lado de lixos, queriam o meu fim.

E agora, que sabem parte da minha história e sabem que isso me fez ser o que sou hoje, uma ninguém.

Entro no colégio ignorando as piadinhas, as risadas, e chacotas, tudo me deixa nervosa, mas tenho que me controlar, eu lutei muito para entrar neste colégio, sim sou novata, mas o bairro é pequeno e todos sabem sobre mim, uns comentavam e riam, outros me evitavam olhar, têm medo de que eu faça com eles o que fiz com Victória.

- I olha lá é a suicida! – Cochichavam, olhava para o rosto de quem falava e os mesmos paravam de falar e abaixavam o olhar, no fim das contas minha entrada foi triunfal e polêmica.

Entendo as pessoas que não querem ficar próximas de mim, têm medo de que eu faça algum mal a elas, é como se eu tivesse uma doença viral que passa só de olhar para mim.

No meu armário não tinha quase nada, peguei meus livros e os comprimidos e fui em direção a sala, no caminho via pessoas parando para observar seja lá quem tinha chegado, poderia ser novato, não me importei de parar para ver quem era, então entrei na sala coloquei meus fones e tomei os comprimidos, o meu cantinho onde ninguém mais se atreveria em sentar, era mais afastado dos alunos e um pouco escuro, fiquei esperando todos entrarem enquanto rabiscava o caderno.

Desenhei vários rostos felizes e eu desejei um dia sorrir do jeito que eu desenhava, eu nunca fui muito de me socializar, mas tinha duas pessoas com quem eu falava e conversava sobre mim, eram como eu, e elas morreram, e eu pelo meu azar fiquei aqui com mais duas dores, éramos o trio suicidas, agora só é a garota-suicida a vida nunca foi muito boa comigo, talvez por que eu tenha feito escolhas ruins, ou por meus pais terem me abandonado.

Garota suicida     #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora