1 - Das Seis Primeiras Luas

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Nesta narrativa não se pretende contar sobre a origem do universo, dos mundos habitados e desolados e nem da origem das criaturas vivas, espíritos e grandes seres do cosmo. Sendo o universo vasto e antigo, há muito que foge à lógica dos mortais e de algumas civilizações.

Na vastidão, muitos mundos são criados e desfeitos. Há um constante ciclo de renovação através do cosmo, mas este, não é obra do acaso. Muitas vezes o Caos e Ordem se confundem como antagonistas das construções.

O registro e entendimento de muitos acontecimentos, não resistiu às longas eras e tantas guerras que se passaram no mundo que veio a ser conhecido como a Terra das Nove Luas. Sabe-se que este mundo, deveria ter sido destruído muito antes do apogeu e queda das civilizações que o habitaram. E que no princípio, quando este foi criado e escolhido para eclodir vida, nenhuma lua orbitava os céus tempestuosos e hostis. Gases tóxicos e tempestades elétricas dominavam os céus e mares bravios chocavam-se contra a terra estéril de um mundo sem vida. Antes do tempo ser contado ali, um ser superior deu a um de seus filhos a tarefa de organizar aquela terra a fim de que pudesse abrigar a vida, pois este era como um agricultor do cosmo que semeava a vida nos mundos para extrair destes seu sustento.

Por tanto, seu filho, um potente senhor das superiores forças naturais pôs-se a trabalhar no propósito de deixar aquela terra habitável. Sua primeira providência foi atrair-lhe uma lua para que servisse de escudo às ameaças impostas pelo cosmo, além de canalizar energias e definir as marés dos grandes oceanos. E assim, depois de muitas eras, o mundo podia abrigar vida.

Ora, o Semeador voltou e satisfeito com a preparação do mundo por seu filho, lhe agradeceu. Logo, fertilizou a terra com suas sementes e destas brotaram a vida pequenina, musgos, fungos e pequenas plantas.

Acontece que o filho do Semeador, por vezes sentia-se solitário em sua longa tarefa. Queria conversar sobre as espécies que surgiam, campos de flores e uma infinidade de insetos belos e interessantes. Por todos estes, sentia grande afeto e tinha satisfação de ajudá-los a crescer. Pois que organizou a inclinação orbital do mundo para que houvesse estações e que os ciclos da vida pudessem transcorrer conforme a vontade de seu pai.

Em sua solidão, voltava seu olhar para as estrelas. Acontece que nas proximidades de seu lar, havia um mundo verde que muito lhe chamava atenção. Sentia daquela direção uma grande emanação de vida e sua curiosidade era atraída, cada vez mais. E por muito tempo, seu pai não retornou, com efeito pôde perceber peculiaridades a respeito da terra que cultivava. Parece que do interior adormecido e estéril do mundo, vozes queriam lhe falar. Vozes das forças minerais e não-vivas que pareciam despertar. Isto foi algo inédito em sua jornada como filho do Semeador e guardião de muitos mundos. Brotava do interior da terra estéril, um tipo de vida que desconhecia. E reconheceu uma sintonia das energias vindas do orbe verde e distante nos céus. Como descobriu mais tarde, havia em muitos mundos e estrelas daquela região, um potencial para a vida mineral, a vontade contida nos elementos que nas civilizações mortais é nomeada de mágica.

Neste período, o filho do Semeador sabia que a vida poderia continuar seu curso sem sua supervisão constante. Tomando sua própria força para viajar através do cosmo, rumou em direção ao orbe verde que por tanto tempo lhe atiçou a curiosidade.

O orbe verde deixou o filho do Semeador maravilhado. Nunca em tantas criações das quais participou, havia visto um local com vida em tamanha abundância. A vida ali era antiga e complexa e parecia estar ali desde sempre. Mas, antes que pudesse conhecer detalhes, seres superiores daquele mundo vieram a seu encontro. Uma forte barreira havia ali, e a sua potência era tal, que parecia concentrar a energia de mil estrelas. Logo entendeu que sua presença não era bem-vinda. E sua jornada pareceu em vão e uma grande tristeza tomou conta dele. Porém, o mundo era orbitado por uma grande lua rochosa. Ali decidiu descansar e lamentar sua solidão. Por um período grande, ali chorou e se lamentou, dando de si água que formou um grande lago nas crateras lunares. Pois que através deste lago de suas lágrimas, ouviu a voz gentil de alguém das terras verdes que condoeu-se com seu sofrimento.

Enciclonérdia - Terra das Nove LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora