Capítulo 8 - Aprendendo um pouco mas

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- É, acho que é aqui.

Olhei ao redor, era uma área residêncial, com prédios enormes e vários blocos de apartamento, com algumas lixeiras e uma porta de aço. Aparentava ser uma garagem ou algo do tipo então me aproximei dando dois tapas na porta.

- Tem alguém aí? - Aguardei por alguns segundos a resposta e bati novamente na porta.
- Oi, oi, oi?

Olhei o cartão meio confuso e, depois as referências para confirmar o endereço e, olhei as horas e ao redor à procura de alguém.

- Isso deve estar errado - falei sozinho, conversando comigo próprio.
- Não está! - Logo ao ouvir a voz, reconheci o sotaque do senhor e virei em direção ao som sem ver ninguém, me perguntando onde ele estava.
- Aqui em cima! - Uma latinha atingi minha cabeça e olho pra cima vendo o senhor na janela.
- Não precisava disso.
- Vá para o terraço.

Olhei a indicação, com o dedo indicador pra cima do senhor, fiquei me perguntando que desgraça eu teria lá em cima, mas guardei a pergunta em meus pensamentos dando passos longos para trás e tomei impulso em uma corrida contra a parede; pondo a sola do tênis contra a mesma. Me impulsionando para um salto contra a escada de incêndio, me seguro no metal e me impulsiono, subindo na escada um pouco ofegante, vejo o senhor me olhando com uma expressão confusa.

- Que foi?
- Por que isso?
- Para subir para o terraço - respondi calmo, mas estava ficando confuso, com a confusão do senhor.
- Mas a porta do prédio estava aberta.
- E só me diz isso agora?
- Ocidentais.
- Orientais - falei baixo ao mesmo tempo que ele e comecei a subir os degraus, até chegar ao terraço, esperando o senhor chegar olhando ao redor, mesmo sendo uma área pouco prestigiada, daquele terraço tinha uma bela vista.
- Vai ser simples, eu digo, você faz, sem perguntas e sem questionar.

Escutando a voz, me viro para ele tirando a mochila das costas a deixando em um canto, me espreguiçando.

- Vamos lá, mas qual seu nome?
- Eu disse sem perguntas!
- Mas, é só um nome - dei de ombros, o olhando, sem entender o porquê de tanta restrição com perguntas.
- Rin Ri.

Logo me contive com as mãos na boca, era um nome engraçado, pensei em perguntar do fígado mas ele poderia ficar com raiva, então guardei a piada em meus pensamentos, rindo sozinho.

- É por isso que não falo o nome!

Agora estique as pernas em um espacate.

- Já vi isso uma vez na tv.

Afasto as pernas uma das outras, apoiando as mãos no chão para conseguir maior alcance no espacate, mas uma vareta atinge meu pulso e logo tiro as mãos do chão; Me equilibrando e sacudindo a mão.

- Auu!
- Faça o espacate logo.
- Mas eu estou fazendo.
- Está no máximo?
- Sim, é claro - disse olhando o senhor Rin passando perto, já sentia os músculos das pernas doerem um pouco e vejo o senhor Rin chutar a parte interna da minha perna, fazendo o espacate abrir mais, me levando a quase tocar o chão com um grito baixo de dor nas genitais. Praguejei mentalmente só conseguindo dizer em um tom elevado.
- QUE TROÇO HORRÍVEL!!!

Escutei a risada do senhor Rin, aquilo era só o começo de tudo que faria nós próximos seis meses, todo dia o mesmo alongamento e o maldito espacate, aos poucos fui me acostumando, apesar de ser ruim aquilo me deu uma flexibilidade incrível e mais velocidade nas pernas. Descobri inúmeros chutes e sequências de golpes que desconhecia, sem dúvidas aquilo era incrível. Mas eu tinha uma grande curiosidade e resolvi perguntar após o treino, ao senhor Rin, mesmo depois de seis meses essa pergunta não saia da minha cabeça.

- Senhor Rin? - O chamei encostado no balcão da cozinha, da casa do mesmo, enquanto segurava um copo de café em uma das mãos.

- Diga.

Observei o senhor Rin, enquanto ele fazia uma arte de origamis, era realmente algo incrível de se ver.

- Como conheceu Carlo?

Um silêncio predominou nos segundos seguintes, após a pergunta, enquanto esperava bebericando o café e sentindo o aroma delicioso do café tomar conta.

- Foi a uns vinte anos atrás, atravessamos a fronteira dos Estados Unidos ilegalmente, ele de Cuba e eu da Coréia, ele me ajudou quando quase me afoguei, desde então somos amigos.
- Por isso está me ajudando?

Termino o café e caminho até a pia, lavando o mesmo copo sem tirar a atenção das respostas que ele diria.

- Lucas, você é um bom rapaz, mas assim como Carlo viu, eu também vejo. Você faz mais pelos outros do que à si mesmo e isso um dia pode te por em situações ruins.
- Não vai acontecer, aprendi a ser menos impulsivo e a ter mais calma. - Na verdade você aprendeu a se expressar de outra forma, mas o que vai acontecer quando eu não estiver mais aqui, assim como o Carlo?
- Vou manter o que me ensinaram.

Caminho até ele em passos calmos com o mesmo tom de voz.

- A vida nos testa o tempo todo, para ver até onde suportamos, ou até onde chegamos.
- Ta ficando muito filosófico hein?

Sorrio e faço um comprimento com a cabeça.

- Mestre.
- Boa noite Lucas.

Aceno e caminho até a porta, giro a maçaneta da mesma, saindo por ela e caminhando para fora do prédio. Ainda tinha o trabalho pela Frente.

- Cada uma - sorrio de canto caminhando na calçada, com as mãos no bolso do casaco .

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