Capítulo 2 - Primeiros Passos

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Enquanto fazia um desenho com a caneta na mesa, de um boneco batendo no outro, perdido nos pensamentos um tanto ansioso para acabar logo a aula. Queria aprender a lutar logo, aquilo não saia da minha mente, mas ao sentir um cutucar no meu braço olho pra ver o que era.

- Hey cara, ouvi dizer que o JC ta armando pra te surrar depois da aula, qualquer dia desses. Evita andar sozinho - dizia o garoto um tanto aflito, era apenas um colega de classe, meio nerd que ajudei uma vez.
- Entendi, valeu por avisar - assenti com a cabeça, confirmando ao ouvir o sinal tocar, guardando as coisas na mochila me levantando.
-Se cuida hein?

O garoto se afastou e foi arrumar suas coisas pra deixar a classe, eu já estava saindo da sala, caminhando pelo corredor com inúmeros alunos ou mexendo em seus armários ou indo para a saída da escola. Eu virei o caminho indo pra sala de funcionários procurar o faxineiro, ao chegar na porta bati três vezes com as costas da mão.

- Alguém?
- Pode entrar! - Só escutei a voz dizer autorizando a entrada no local, no qual a fiz de imediato, olhando ao redor vendo o faxineiro com alguns itens de boxe.
- Vamos lá, esperei isso o dia todo.
- Isso é um improviso, até eu cobrar uns favores - terminou de dizer já pondo as luvas em minhas mãos e nas dele mesmo, luvas com uma espécie de almofadas pra amortecer o impacto.
- Mostre o que sabe - disse o faxineiro, não questionei, apenas segui os comandos efetuando três golpes de socos, facilmente aparado pelas luvas do faxineiro.
- Bom, tem uma mão pesada, mas precisa trabalhar mais que isso. De novo!

Confirmei com a cabeça em um suspiro forte e fiz outra sequência de seis socos, concentrado nas palavras dele.

- Use seu jogo de pés, movimentando o mesmo.

Ao dizer começo a me movimentar, efetuando leves pulinhos e alternando os pés, hora à frente hora à trás rapidamente. Eu tentava acompanhar com os olhos, o jogo de pés e levo um tapa com a luva na lateral da cabeça.

- Hey, foco olhando para cá! - Apontou para o próprio rosto dele.
- O jogo de pés você tem que acompanhar como uma dança.

Assim que ele falava, com a lateral da cabeça meio quente pelo tapa, tentava repetir o mesmo movimento com meus pés. Mas, talvez por extinto, aplicava três socos a cada troca no jogo de pés.

- Não sei dançar.
- Vai aprender!

Já sentia o fôlego faltar em meus pulmões e um certo cansaço nos braços, mas continuei a prática e o suor escorria pelo meu rosto. Era de certa forma aliviante, sentia que esse era o meu caminho. Me sentia bem e queria aprender mais e mais. Algumas horas depois, já à noite, cheguei em casa, suado e cansado apenas gritei.

- Cheguei!

Não demorou nem dois segundos e ouvi a voz de minha irmã, no mesmo tom.

- Vai pro banho!

Ri baixo na mesma hora e subi as escadas, indo direto para o banho, deixando a água escorrer pela minha pele com uma sensação de alívio. O início de entrar em um esporte que realmente me identificava, talvez teria sido o gatilho para eu poder liberar, tudo que estava contido em mim a anos.
Logo após o banho me vesti com roupas limpas e desci para a sala, estava faminto e Rosalie ao me ver, segurou minha cabeça, olhando a marca vermelha na lateral da mesma.

- O que foi isso Lucas?

Já sentia ela suspirar um tanto preocupada.

- Isso se chama conhecimento.
- Fiz um bico ao dizer, fechando os olhos com um tom metido, mas era apenas uma brincadeira. Logo sinto um tapa de leve na cabeça.
- Ai!
- Seu idiota. - Rosalie sorriu, relaxando um pouco e durante o jantar expliquei tudo que havia acontecido durante o dia e, a razão da marca vermelha.

Era notável a expressão no rosto da minha irmã, sempre preocupada com as confusões e rebeldias que eu fazia, poucas vezes a vi tão calma. Enquanto via um filme qualquer na tv, deitado com a cabeça no colo dela, com o cafuné em meus cabelos aos poucos, me vi com a visão escurecendo ouvindo um "Boa noite maninho " antes de adormecer.

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