Renascimento

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Pisquei os olhos várias vezes imaginando que iria acordar no paraíso, encontrar meus entes que já haviam me deixado...
Olhei ao redor e lá estava eu com a garganta seca e dolorida, o monstro estirado no chão rodeado de sangue.

"Ele morto e eu viva..."

Nunca imaginei que sentiria prazer em ver um corpo ensanguentado...

Me sentei com dificuldade e retirei o telefone do gancho, mas estava mudo.

Fui cambaleando até as outras salas e tudo estava mudo.

Caminhei de volta pelo corredor com suas luzes piscando e restabeleci a energia.

Fui até o estacionamento, descendo as escadas com dificuldade, meu carro estava destroçado, os pneus furados e vidros quebrados, mas isso não importava.

Entrei e peguei o telefone corporativo no porta luvas, ele não deveria estar lá, mas eu sempre esquecia.
Liguei para a polícia, sem dar muitas informações disse apenas que se tratava de uma morte.
O tempo foi passando e meu corpo fraco, enquanto aguardava a chegada da viatura, mesmo não me sentindo segura em um carro sem vidros, me tranquei lá dentro.

Sempre que fechava os olhos via o rosto daquele homem cruel em minha mente...

A dor estava insuportável, o corpo dolorido e a cabeça latejando, queria apenas ir embora e descansar.

Ouvi um barulho forte de arrombamento.
"os policiais chegaram" - pensei
Eles estavam no andar de cima, na recepção, por este motivo encontrariam primeiro o corpo.

Não demorou muito para ver que eles estavam se aproximando, senti um enorme alívio por não estar mais sozinha.
-Levanta as mãos e saia devagar de dentro do carro. - disse um dos policiais.
Confesso que fui surpreendida, por alguns instantes tive tratamento de criminosa.

- Eu trabalho neste local, meus documentos estão no porta luvas do carro.
Um outro policial pegou minhas coisas e começou a vasculhar tudo.
Minutos depois eles descobriram a identidade do psicopata, que estava sendo procurado a alguns anos.

Mas eu não quis saber de nenhum detalhe, pois para mim ele seria sempre sempre "o monstro".

Após contar a mesma história para vários policiais fui liberada para receber tratamentos médicos.

- Olhe para este objeto.
- Eu estou bem, só quero ir embora.
Minha mente parecia não ter mais controle sobre meu corpo, me sentei e a médica me ajudou.
- Procure um psicólogo para te ajudar a se recuperar. - ela disse.

Mas eu estava me sentindo bem, fisicamente talvez não muito, mas a vontade de estar em casa era enorme.
Acima de tudo consegui me manter viva...

Aquele seria meu momento de recomeçar, renovar, afinal, aquele foi o dia em que renasci.

Quando sai do prédio e fui levada para casa pelo policial Jorge, minha vida se passou como um flash pela mente que vagava, então eu decidi que a partir daquele momento eu procuraria ser feliz, pois a vida nos dá muitas chances, mas um dia pode ser a última.

Flávia Silva

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