Nem em sonho!

118 13 10
                                    

Juno sentiu a cabeça pesada. O mundo todo girava. Aquela explosão lhe embrulhara o estômago e agora não conseguia se manter em pé. Sua imagem dava a entender que seu sangue se escondeu bem longe da pele. Sentiu o rosto formigar, suas pernas e braços perderam a força e se entregaram relutantemente à força da gravidade.

Enquanto o brilho lhe fugia dos olhos castanhos, percebeu uma figura feminina se aproximando rapidamente. Não pôde identificá-la, pois já estava com a visão embaçada. Enjoado, desmaiou.

Não é estranho que o corpo dele reaja assim, quando presenciou a destruição gratuita de parte de sua cidade e amigos. Contudo, a sensação dentro do mundo no qual imergiu foi bem diferente da anterior.

Primeiro, talvez por decisão inconsciente, seu corpo resolvera lhe proteger, preservando os próximos sonhos e pensamentos dos acontecimentos presenciados. Depois, pelo fato de ter ciência de que estava em um sonho.

A primeira coisa que "pensou" foi em como ficara curioso em desvendar o interior da última sala. Obviamente, não sabia o que encontraria, mas mantinha uma esperança de que finalmente fossem os telescópios, afinal, toda essa aventura teve início no desejo de observar o espaço por eles. Se dirigiu até lá livre de qualquer medo de ser descoberto.

Encostou ao lado da porta, fechou os olhos e repetiu mentalmente algumas vezes:

- Telescópios, por favor! Telescópios, por favor! - Não tinha certeza de que o sonho lhe obedeceria, mas emendou: - Não me desaponte cerebrinho!

Não me parece o tipo de coisa que alguém diria ao próprio inconsciente, mas era apenas um sonho.

Repetindo o movimento que fizera ao entrar no corredor, girou para dentro da sala e se deparou com um único e grande telescópio. Seus olhos estavam estatelados e curtiu a paralisia por um breve momento, até que decidiu conferir o que estava sendo observado naquele dia.

Parece óbvio o que veria. Afinal, estava dentro do próprio sonho. Bastaria apertar um botão aleatório para que o telescópio apontasse para Saturno. O fez. Eis o que viu:

Pelo telescópio viu nitidamente o olho esquerdo de uma mulher. Estava tão próximo que não era possível reconhecê-la. Repentina, lenta e automaticamente o telescópio deu zoom entrando na íris castanho-claro daquele olho.

Qualquer reflexo ou brilho lá dentro era na realidade uma galáxia no universo orbitando em volta de um buraco negro gigante, que coincidia com a pupila.

O movimento de zoom continuou se dirigindo a uma galáxia especifica. Foi possível reconhecê-la rapidamente: Via Láctea. Logo identificou o sistema solar, o sol, a terra... Por fim, estava diante de Saturno.

Os anéis do planeta, que orbitavam seu "equador", começaram a descer paralelos ao seu eixo de rotação, até a altura de "meio planeta" abaixo dele. O planeta começou a mudar sua forma. Tomava aparência de um rosto humano com os mesmos olhos do início. Mantinha a mesma coloração rajada em tons de marrom e bege enquanto os cabelos se alvoroçavam, como que contra o vento. Os anéis adornaram o que seria seu pescoço. A boca e o nariz se formaram por último. Logo tomou feições preocupadas e começou a gritar:

- Acorde!

Estranhando o acontecido, Juno fechou os olhos e pediu ao sonho:

- Me deixe admirá-la um pouco mais. - Estava meio emocionado, por isso completou: - Por favor

- Acorde agora!!

Se Juno já estivesse acordado, jamais daria a seguinte resposta. Mas, acreditando conversar com Saturno, disse respeitosamente:

Crônicas do fim: A queda da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora